Bruna Brandão/UFMG |
Poesia, choro e samba se uniram na noite de quinta-feira sob o céu estrelado que abençoava o sarau de roda na Casa de Memória Chica da Silva. Zezé Motta, a presença mais esperada do encontro, comportou-se como alguém que voltava para casa, sentindo-se visivelmente à vontade. A atriz e cantora que viveu Chica da Silva no cinema e na televisão impressionou o público com a potência de sua voz ao interpretar Minha Missão, do sambista João Nogueira. “Sempre me perguntam sobre a importância do filme Xica da Silva. Ele foi um divisor de águas em minha vida. Eu já havia feito muitos trabalhos, mas nada com tanta visibilidade. Antes do filme eu conhecia apenas três países, e só em sua divulgação conheci mais 16. Nas ruas, todos me reconheciam e me chamavam de Chica da Silva", lembra a atriz, que confessa que tanta exposição chegou a incomodá-la. "Mas depois percebi que era uma dádiva. A projeção que ele me proporcionou também fez com que eu pudesse avançar como militante do movimento negro", disse a atriz antes da apresentação. Desde a gravação do filme, em 1976, Zezé Motta mantém uma relação estreita com Diamantina. A repercussão da película pelo Brasil e pelo mundo ajudou a difundir o nome e a história da cidade. Hoje, remasterizado, Xica da Silva foi adquirido pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, MoMA, um dos mais importantes do mundo. “Estou aqui para comemorar com a cidade esse lugar no MoMa; Diamantina agora está visível para o mundo", celebrou a atriz com um largo sorriso no rosto. “Vivi aqui por três meses durante as gravações. Passei natal, reveillon e carnaval em Diamantina, aliás um carnaval inesquecível. Foi impossível não me aproximar das pessoas da cidade, é um prazer voltar” acrescentou. Zezé interrompeu sua participação nas gravações da novela Rebelde, da TV Record, no Rio de Janeiro, para comparecer ao evento: “Fiquei superanimada quando soube da proposta, fiz questão de vir. É um momento muito especial de comunhão cultural. A produção do evento deve ser parabenizada por essa guinada no conceito do Festival. Cultivar o bem comum é uma das formas mais dignas de se viver. Temos que estar cada vez mais unidos para lutar pelo que acreditamos”. A apresentação de Zezé Motta deu início a uma roda de samba, que uniu moradores e participantes do Festival. A atriz retornou ao Rio de Janeiro ainda na noite de quinta-feira. (Natália Carvalho)