Paulo Nazareth, renomado artista contemporâneo conhecido por obras conceituais e de intervenção urbana, é o coordenador do grupo de trabalho Comunicação popular e intervenções urbanas, da Casa da Palavra. O grupo explora processos populares de expressão, como faixas de rua, lambe-lambe e carro de som. Nascido em Palmital, periferia de Belo Horizonte, o artista sofreu quando criança devido a uma deficiência nos pés. Durante a infância, foi obrigado a andar com uma bota de madeira que o impedia de se locomover normalmente. Aos 35 anos, Paulo realizou uma das performances artísticas mais comentadas dos últimos tempos. Andando a pé e contando apenas com a ajuda de motoristas dispostos a oferecer caronas, ele percorreu mais de seis mil quilômetros entre Brasil e Estados Unidos, destinado a participar da Art Basel Miami, a mais importante mostra de arte do Estados Unidos. Foram sete meses de viagem, que levaram Paulo ao grupo dos grandes nomes da arte mundial. A peregrinação partiu da vontade de fazer arte com os pés. Paulo usou as mesmas sandálias de borracha durante toda o trajeto, sem lavar os pés. A poeira acumulada é para o artista a tradução das paisagens, lugares e pessoas que conheceu. “Eu queria que poeira de cada cidade que eu conhecesse fosse levada adiante, até os Estados Unidos, eu queria levar a poeira latina para lá, como uma forma de integrar os três subcontinentes que constituem a América", explica. Ao chegar a Nova Iorque, ele lavou os pés no Rio Hudson e embarcou para Miami. A obra exposta, uma Kombi cheia de bananas, impressionou a crítica internacional. O simbolismo do trabalho dialoga com a crítica à história de exploração vivida pelos povos latino-americanos, que no início do século XX, instáveis politicamente, ganharam o apelido de República das Bananas. Acompanhe o Festival de Inverno pela fanpage da UFMG. (Natália Carvalho)
Paulo Nazareth com crianças moradoras do Bairro da Palha, localizado na periferia de Diamantina, onde acontecem algumas das atividades do Festival de Inverno