Marcelo Lustosa |
Em estudo desenvolvido em duas áreas da Floresta Amazônica, em Roraima, pesquisadores da UFMG isolaram seis espécies de leveduras fermentadoras de xilose, substância com potencial para originar álcool combustível a partir de hidrolisados de bagaço de cana-de-açúcar. O achado veio a público em agosto, com a publicação do artigo Diversity and Physiological Characterization of D-XyloseFermenting Yeasts Isolated from the Brazilian Amazonian Forest no periódico Plos One. Cinco dos microrganismos encontrados ainda não eram conhecidos pela ciência, e um deles tinha sido isolado apenas uma vez nos Estados Unidos. O relato abre espaço para o desenvolvimento de métodos de produção alcoólica a partir de resíduos vegetais, o que aumentaria em cerca de 40% a produção brasileira do combustível. Segundo o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG Carlos Augusto Rosa, o álcool combustível é sintetizado a partir da fermentação de caldo de cana, cuja sacarose é transformada em etanol e CO2. A fermentação é feita pela levedura industrial Saccharomyces cerevisiae. O objetivo do trabalho desenvolvido desde 2010 pelos pesquisadores do projeto Pró-etanol 2G, do qual Carlos Rosa faz parte, é propor a produção alcoólica a partir de celulose e hemicelulose (seu principal açúcar é a xilose), polissacarídeos encontrados em resíduos vegetais, como o bagaço de cana-de-açúcar. A sigla “2G” se refere à segunda geração. “O álcool de primeira geração é a fermentação do caldo de cana; já na segunda são utilizados resíduos agroindustriais para sintetizar etanol”, esclarece o biólogo, que atualmente coordena o Laboratório de Taxonomia, Biodiversidade e Biotecnologia de Fungos do ICB. Também integram o projeto pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro, de Santa Catarina e de Pernambuco e da Universidade Regional de Blumenau (Furb). Anticárie O próximo passo será buscar na engenharia genética uma forma de otimizar a produção do álcool a partir das leveduras. “A proposta agora é coletar os genes da fermentação de xilose nas espécies de microrganismo estudadas e introduzi-los na Saccharomyces cerevisiae, que é a levedura industrial”, revela o professor. Para ele, a obtenção do primeiro microrganismo que seja eficiente para produção industrial causa frisson na indústria mundial de biocombustíveis. “Nosso desafio é encontrar microrganismos capazes de gerar uma tecnologia de produção de etanol a partir de bagaço de cana". As leveduras encontradas na Amazônia fermentam a xilose em cerca de três dias, mas, para que o processo seja economicamente viável, essa metabolização deve ser feita em aproximadamente 12 horas. As espécies estão depositadas em duas coleções, uma no laboratório coordenado por Rosa e outra na Holanda – esta última, porém, com restrições de uso, já que apenas o grupo de pesquisadores responsáveis pelo projeto pode autorizar a utilização desses organismos para síntese alcoólica. (Boletim 1788/Gabriella Praça)
Além da fermentação de xilose, o grupo observou que três espécies das leveduras isoladas produziam xilitol, álcool anticariogênico utilizado como adoçante. “Substâncias como glicose e sacarose induzem a formação de cáries, pois as bactérias conseguem utilizá-las como fonte de carbono”, explica Rosa. “Já o xilitol, além de não provocar a formação de cáries, pode ser utilizado por diabéticos”, acrescenta. Futuramente, a descoberta abre caminho para desenvolvimento de métodos industriais para a produção do xilitol por microrganismos a partir de resíduos agroindustriais.