Universidade Federal de Minas Gerais

Angico vermelho descontamina áreas com elevado teor de arsênio, revela pesquisa do ICB

quarta-feira, 5 de setembro de 2012, às 8h50

angico%20vermelho%20-%20Bruna%20Brandao.jpgA árvore conhecida como angico vermelho (Anadenantera peregrina) é capaz de recuperar solos em áreas ­contaminadas com arsênio, conclui estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Interação Microrganismo-Planta e Recuperação de Áreas Degradadas, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.

Desde 2006, a equipe tem se dedicado a um projeto de recuperação da Bacia do Rio das Velhas, que nasce em Ouro Preto e deságua no São Francisco. Um dos afluentes do rio é o córrego Água Suja, que corta o município de Nova Lima.

Tanto a água quanto o solo dessa região apresentam altos índices de arsênio devido à atividade mineradora praticada no local desde o século 19. Ao observar que o angico vermelho (na foto de Bruna Brandão) era uma das poucas plantas capazes de crescer no ambiente, o grupo se dedicou a investigar as propriedades do vegetal, que se revelou capaz de sequestrar o arsênio presente no solo.

A exploração da área banhada pela Bacia do Rio das Velhas incluiu viagens de avião, de helicóptero, de barco e a pé, a fim de se fazer um levantamento dos problemas ambientais enfrentados na região. Em Nova Lima foram detectados lugares com vegetação escassa, onde se observavam apenas plantas herbáceas – que não são capazes de conter a erosão nas margens de um rio.

A mata ciliar do córrego Água Suja apresentava poucos exemplares de árvores esparsas, em meio a grandes extensões de solo nu. A pífia vegetação era ineficaz para drenar a água no leito maior – região do entorno de um rio também chamada de “área de inundação” –, o que propiciava processos erosivos.

Ao investigar os problemas ambientais encontrados, a equipe deparou com o histórico de mineração do município. A extinta mina de Morro Velho, que durante quase um século havia retirado ouro no local, acumulou resíduos da atividade extrativista, formando taludes que perduram até hoje. “O depósito era feito na zona rural, mas a cidade cresceu e englobou a área de resíduos”, observa a coordenadora do projeto, Maria Rita Scotti Muzzi.

Coordenadora da linha de pesquisa Recuperação de Áreas Degradadas, dos programas de pós-graduação em Biologia Vegetal e em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, do ICB, a bióloga salienta que é comum haver alta concentração de arsênio em locais onde há extração de ouro.

“Quando o ouro está presente na rocha sedimentar, provavelmente o arsênio também está”, ressalta. “As escavações de túneis liberam ambos os materiais e o arsênio, livre, é volatilizado ou levado pela água, contaminando os peixes, os solos e as plantas da região.”

Intoxicação
A análise do solo feita pela equipe ao longo de quase 200 metros da extensão inicial do córrego revelou que a concentração de arsênio variava de 200mg/kg a 27.500mg/kg, enquanto a quantidade do material considerada aceitável é de cerca de apenas 50mg/kg. Os sintomas da intoxicação vão desde doenças dermatológicas até complicações neurológicas e câncer.

Segundo Maria Rita, há relatos sobre trabalhadores da mina de Morro Velho que perderam o septo nasal devido ao contato com a substância. “O que acontece naquela região é um problema muito grave”, alerta. “As plantas absorvem o arsênio, que é levado até as folhas e os frutos que servirão de alimento a pessoas e animais da região.”

O desafio da equipe de pesquisadores era encontrar plantas capazes de sugar a substância e armazená-la na raiz. “A maioria das espécies descritas na literatura científica como sequestradoras de arsênio são ‘hiperacumuladoras’, isto é, transferem o material para as folhas. Esse é o caso da samambaia, por exemplo”, revela Maria Rita. Entretanto, para descontaminar o solo e recuperar a área, os biólogos precisavam encontrar plantas capazes de reter e acumular a substância apenas nas raízes, pois, se houver arsênio nas folhas, o solo será novamente contaminado quando elas caírem. Além disso, as espécies selecionadas deveriam ser necessariamente arbóreas, uma vez que a proposta era recuperar a mata ciliar – que não pode ser formada por vegetação herbácea, incapaz de conter a erosão.

Testes
Foram testadas em torno de 25 espécies, das quais apenas três se revelaram apropriadas para o objetivo. Uma delas foi o angico vermelho. Figurando entre as poucas árvores que conseguiam se desenvolver nas áreas mais contaminadas, a planta se revelou tolerante ao material. A partir de experimentos, observou-se que ela era capaz de sequestrar grandes quantidades de arsênio sem transportá-lo para a parte aérea – e a introdução de fungos micorrízicos nas raízes otimizava esse processo, duplicando os níveis de absorção.

Financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, o projeto produziu mudas em estufa, que foram plantadas em 2008 em Nova Lima, especialmente às margens do córrego, numa estratégia para impedir que o arsênio atingisse a água. Passados quatro anos, diversas espécies sensíveis à substância já ocupam o espaço onde, antes, havia apenas solo nu.

A mudança na paisagem confirma a eficácia da estratégia. “A sobrevivência de outras plantas próximo aos exemplares de angico indica que a árvore está, de fato, descontaminando o solo”, comemora a coordenadora. O próximo passo do projeto será testar o mulungu, outra espécie vegetal que, segundo pesquisas do grupo, tem potencial para absorver arsênio.

Perigo invisível
Incolor, inodoro e insípido, o arsênio é um semimetal pesado altamente tóxico, encontrado na água, em rochas e até em meteoritos. Em casos menos graves, a contaminação provoca lesões na pele que não cicatrizam. Em níveis mais elevados podem ocorrer gangrena, danos a órgãos vitais e câncer.

Há relatos de personagens históricos que teriam morrido em decorrência da intoxicação pela substância, entre eles Napoleão Bonaparte. A análise de amostras capilares do antigo imperador da França revelou concentração do material cerca de 100 vezes superior ao teor medido em fios contemporâneos.

(Boletim 1785/Gabriella Praça)

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