Universidade Federal de Minas Gerais

Bruna Brandão/UFMG
Fabricio%20Moreira.jpg
Moreira: estudos apontam para benefícios psiquiátricos e neurológicos

Em mesa no Simpósio de Neurociências, pesquisadores analisam os novos 'baratos' da maconha

quarta-feira, 26 de setembro de 2012, às 9h12

Os efeitos clássicos são já por demais propalados: de um lado, a sensação de felicidade, paz e relaxamento; de outro, a dependência que, segundo estudos recentes, atinge quase 40% dos usuários. Nos últimos anos, porém, a ciência começou a revelar os novos “baratos” proporcionados pelas substâncias contidas na maconha: seu potencial para tratar os transtornos de ansiedade e apagar as más recordações, a capacidade de proteger o indivíduo contra convulsões e até a possibilidade de combater os efeitos deletérios de outras drogas.

Os benefícios dos canabinoides e dos seus análogos produzidos pelo próprio organismo, os endocanabinoides, encorajam cientistas do mundo inteiro a buscar medicamentos e tratamentos para males que afetam o sistema nervoso central.

Algumas dessas linhas de investigação serão debatidas nesta quinta-feira, às 16h30, no auditório da Reitoria, na mesa-redonda Drogas e percepção, que integra a programação do 6º Simpósio Internacional de Neurociências da UFMG. As discussões serão mediadas pelo professor Fabrício Moreira, um dos coordenadores do Laboratório de Psicofarmacologia do ICB, que se dedica ao estudo dos efeitos de drogas sobre o funcionamento do cérebro.

Embora o Tetraidrocanabiol (THC) seja a principal substância contida na maconha e o maior responsável pelos seus efeitos mais conhecidos, é em outro composto, o canabidiol, identificado pela sigla CBD, que estão depositadas as maiores esperanças dos pesquisadores da área de neuropsicofarmacologia. “Há estudos que indicam que os CBDs inibem os efeitos do THC”, afirma o professor Moreira.

Com base nisso, pesquisadores e laboratórios apostam na produção de extrato de maconha com quantidades equivalentes de THC e canabidiol justamente para neutralizar os malefícios da primeira substância. Um dos primeiros medicamentos fabricados a partir dessa combinação é o Sativex, desenvolvido por um laboratório inglês e que teve sua comercialização aprovada no Canadá. Ele é usado no tratamento da esclerose múltipla.

Mas os CBDs podem ser bem mais do que neutralizadores dos malefícios do THC. Um dos participantes da mesa-redonda, o professor José Alexandre Crippa, da USP, por exemplo, pesquisa o uso dos canabinoides no tratamento dos transtornos de ansiedade.

“Sua atuação é semelhante à do Diazepam, mas sem os efeitos colaterais que ele provoca, como a indução à sedação e a perda de memória”, diz Fabrício Moreira. No momento, conta ele, o grupo do pesquisador da USP avalia a segurança desse medicamento em humanos.

Medo condicionado
Outra frente de estudo diz respeito ao papel do sistema endocanabinoide na extinção da memória do chamado medo condicionado, tema da pesquisa do professor Carsten Wotjak, do Instituto de Psiquiatria Max Planck, da Alemanha, também convidado do Simpósio. Segundo Fabrício Moreira, o medo condicionado é provocado por grandes traumas, levando as pessoas a guardar memórias negativas. “Isso ocorre, por exemplo, com soldados que viveram experiências de guerra e com pessoas que sofreram violências”, aponta o farmacologista.

A intenção é chegar a medicamentos capazes de fazer com que o cérebro apague as memórias ruins. Os estudos do pesquisador alemão são desenvolvidos com ratos de laboratório submetidos a experiências traumáticas. “Assim é possível entender como esses animais guardam essas lembranças e testar drogas que poderão fazer com que eles as esqueçam", analisa Moreira.

O sistema endocanabinoide está no centro dessa linha de pesquisa. Foi descrito no início da década de 1990, quando ainda não se sabia como a maconha agia no cérebro. “Foram descobertas estruturas no cérebro onde a maconha atua e a existência de uma substância análoga ao THC, a anandamida, a substância da felicidade”, conta Fabrício Moreira. Para ele, a rota a ser seguida envolve “desenvolvimento de substâncias capazes de aumentar os teores de endocanabinoides no cérebro, o que ajudaria a apagar as memórias negativas”.

A “maconha do cérebro” também é alvo de pesquisas no Laboratório de Psicofarmacologia do ICB. Orientado por Fabrício Moreira, o doutorando Luciano Vilela estuda os endocanabinoides na prevenção de convulsões epiléticas, em parceria com o professor Márcio Moraes, também do ICB e especialista em epilepsia.

“Por meio de intervenções já regulamentadas por comitês de ética, provocamos crises de epilepsia no camundongo e verificamos como esses canabinoides protegem o animal de substâncias que causam as convulsões. Os resultados são bons, batem com estudos produzidos em outras partes do mundo”, informa o professor.

Essa convergência anima Fabrício Moreira: “O trabalho do professor alemão segue uma vertente psiquiátrica, ao demonstrar que os canabinoides combatem as fobias sociais. Já os estudos em nosso laboratório apontam para benefícios neurológicos, como no caso da prevenção das convulsões epiléticas”.

Até mesmo a dependência e o uso abusivo de drogas estão na mira dos estudos com endocanabinoides. Outra pesquisa de doutorado desenvolvida no Laboratório observa o impacto da geração dessas substâncias para atenuar, por exemplo, o efeito psicoestimulante da cocaína.

Intervenções sutis
Na avaliação de Fabrício Moreira, o grande desafio para os pesquisadores em psicofarmacologia é tirar proveito das propriedades positivas da maconha e, ao mesmo tempo, contornar os efeitos deletérios gerados por suas substâncias. “Não se trata de usar o THC como medicamento, mas, sim, de se valer dos canabinoides ou aumentar a produção de endocabinoides no organismo”, diz o professor.

Nessa direção, o grupo da UFMG trabalha, por exemplo, na investigação de mecanismos para retardar a metabolização da anandamida, que é rapidamente eliminada pelo organismo. “O que se pretende é encontrar substâncias capazes de aumentar a vida útil da anandamida, permitindo apagar memórias negativas e evitar crises convulsivas, mas com a preocupação de interferir de forma mais sutil no cérebro”, revela o farmacologista.

(Flávio de Almeida)

05/set, 13h24 - Coral da OAP se apresenta no Conservatório, nesta quarta

05/set, 13h12 - Grupo de 'drag queens' evoca universo LGBT em show amanhã, na Praça de Serviços

05/set, 12h48 - 'Domingo no campus': décima edição em galeria de fotos

05/set, 9h24 - Faculdade de Medicina promove semana de prevenção ao suicídio

05/set, 9h18 - Pesquisador francês fará conferência sobre processos criativos na próxima semana

05/set, 9h01 - Encontro reunirá pesquisadores da memória e da história da UFMG

05/set, 8h17 - Sessões do CineCentro em setembro têm musical, comédia e ficção científica

05/set, 8h10 - Concerto 'Jovens e apaixonados' reúne obras de Mozart nesta noite, no Conservatório

04/set, 11h40 - Adriana Bogliolo toma posse como vice-diretora da Ciência da Informação

04/set, 8h45 - Nova edição do Boletim é dedicada aos 90 anos da UFMG

04/set, 8h34 - Pesquisador francês aborda diagnóstico de pressão intracraniana por meio de teste audiológico em palestra na Medicina

04/set, 8h30 - Acesso à justiça e direito infantojuvenil reúnem especialistas na UFMG neste mês

04/set, 7h18 - No mês de seu aniversário, Rádio UFMG Educativa tem programação especial

04/set, 7h11 - UFMG seleciona candidatos para cursos semipresenciais em gestão pública

04/set, 7h04 - Ensino e inclusão de pessoas com deficiência no meio educacional serão discutidos em congresso

Classificar por categorias (30 textos mais recentes de cada):
Artigos
Calouradas
Conferência das Humanidades
Destaques
Domingo no Campus
Eleições Reitoria
Encontro da AULP
Entrevistas
Eschwege 50 anos
Estudante
Eventos
Festival de Inverno
Festival de Verão
Gripe Suína
Jornada Africana
Libras
Matrícula
Mostra das Profissões
Mostra das Profissões 2009
Mostra das Profissões e UFMG Jovem
Mostra Virtual das Profissões
Notas à Comunidade
Notícias
O dia no Campus
Participa UFMG
Pesquisa
Pesquisa e Inovação
Residência Artística Internacional
Reuni
Reunião da SBPC
Semana de Saúde Mental
Semana do Conhecimento
Semana do Servidor
Seminário de Diamantina
Sisu
Sisu e Vestibular
Sisu e Vestibular 2016
UFMG 85 Anos
UFMG 90 anos
UFMG, meu lugar
Vestibular
Volta às aulas

Arquivos mensais:
outubro de 2017 (1)
setembro de 2017 (33)
agosto de 2017 (206)
julho de 2017 (127)
junho de 2017 (171)
maio de 2017 (192)
abril de 2017 (133)
março de 2017 (205)
fevereiro de 2017 (142)
janeiro de 2017 (109)
dezembro de 2016 (108)
novembro de 2016 (141)
outubro de 2016 (229)
setembro de 2016 (219)
agosto de 2016 (188)
julho de 2016 (176)
junho de 2016 (213)
maio de 2016 (208)
abril de 2016 (177)
março de 2016 (236)
fevereiro de 2016 (138)
janeiro de 2016 (131)
dezembro de 2015 (148)
novembro de 2015 (214)
outubro de 2015 (256)
setembro de 2015 (195)
agosto de 2015 (209)
julho de 2015 (184)
junho de 2015 (225)
maio de 2015 (248)
abril de 2015 (215)
março de 2015 (224)
fevereiro de 2015 (170)

Expediente