Bruna Brandão/UFMG Em solenidade no auditório da Reitoria, na manhã desta segunda-feira, Mattos, que preside o comitê científico da Rede, afirmou que “nenhum país está blindado contra a crise”, diante do avanço significativo das políticas neoliberais e da ampliação e do aprofundamento da lógica capitalista em todo o mundo. Idealizador da Rede, o professor do Instituto de Estudos Urbanos e Territoriais da Universidade Católica do Chile destacou a participação do reitor da UFMG, Clélio Campolina, na consolidação da Rede, ao organizar, em 1993, em Belo Horizonte, encontro que gerou as condições para a formação da entidade. Após a solenidade de abertura, Campolina proferiu a conferência Crise global, mudanças geopolíticas e inserção da América Latina. Em incubação Segundo ele, as atuais condições vão resultar em um fenômeno em certa medida equivalente ao da crise de 1929. Como sinais desse quadro, ele cita movimentos nacionalistas que ganham força na Europa. “Estamos diante de um fenômeno que está se incubando, não está em sua manifestação final, mas inicial”, reitera. Em sua opinião, o grande custo social dessa crise será o desemprego, que tende a crescer, acarretando mais desigualdade e a ampliação dos conflitos sociais. Nem mesmo os países em desenvolvimento ficarão imunes, diz. “Creio que não se salva nada, assim como na crise de 29, porque vivemos num mundo globalizado”. Como exemplo, Mattos menciona a China que, apesar do crescimento, tem “problemas tremendos, uma quantidade de conflitos sociais e problemas ambientais impressionantes, que não se divulgam”. Aos que acreditam que a China vai seguir crescendo, Mattos contra-argumenta que as atuais projeções dão conta de que o ritmo é menor: “Isso é inevitável, porque a China também depende do mercado mundial”. Ao se definir como “tremendamente pessimista com a atual crise”, Mattos lembra que a desigualdade social acarreta problemas ambientais, já que inibir as causas das agressões à natureza significa reduzir empregos, o que se reflete no consumo e aprofunda a crise. “Minha impressão é de que, se não houver uma reação ao fundo da crise, vamos passar anos muito complicados”. Modelos mais sustentáveis Secretário da Rede, o professor mexicano Sergio González Lopez concorda com Carlos de Mattos e destaca que nesse cenário surgem temas fundamentais como sustentabilidade e responsabilidade social. “Uma das principais possibilidades na busca de um modelo cada vez mais humanizante e harmônico com a própria natureza terá que vir dos pesquisadores e das universidades”, aponta González López, diretor do Instituto de Estudos sobre a Universidade, da Universidade Autônoma do Estado do México. Para ele, esse novo cenário exige que as instituições atuem com foco maior na responsabilidade social. Assim, as pesquisas em torno de temas tão cruciais devem ultrapassar as atividades de cunho individual, para que surjam projetos institucionais de novos modelos “mais sociais e sustentáveis e que deem resposta aos prováveis efeitos drásticos que emergirão dessa crise”. Veja aqui mais informações sobre o XII Seminário.
No auditório da Reitoria, integrantes da Rede participam de solenidade de abertura
Tudo indica que nos próximos anos a crise financeira e suas consequências serão temas de peso crescente na agenda de pesquisadores e universidades, disse o economista chileno Carlos de Mattos, na abertura do XII Seminário da Rede Ibero-americana de pesquisadores sobre globalização e território.
Em entrevista ao Portal UFMG pouco antes da cerimônia de abertura, Mattos comentou que a crise financeira vivenciada hoje, em especial na Europa e nos Estados Unidos, está apenas em seu início, é muito mais profunda “do que dão conta os meios tradicionais de análise e terá efeitos devastadores nos próximos dez anos”.
Ao constatar que o problema da crise e do desemprego ainda não ganhou a devida força entre os pesquisadores da Rede, Carlos de Mattos prevê que esse quadro vai mudar nos próximos anos, quando ficar claro que a América Latina também sentirá os efeitos da situação mundial.