Universidade Federal de Minas Gerais

Urbanização acelerada explodiu ambiência, avalia economista da Unicamp

quarta-feira, 3 de outubro de 2012, às 6h00

Bruna Brandão
Wilson.jpg Para o economista Wilson Cano, o Brasil passa por uma crise urbana da qual só sairá com um acontecimento político de grande envergadura. “É preciso que ocorra algo como uma crise profunda, nos moldes da Grande Depressão, para que se criem condições políticas, psicológicas, sociais e econômicas capazes de reverter os problemas causados pela urbanização acelerada do país”, sentencia.

Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor do livro Ensaios sobre a crise urbana no Brasil, lançado em 2011 pela Editora Unicamp, Cano considera insatisfatória a atuação dos movimentos sociais no país.

“Se no passado eles foram peças importantes na luta pela redemocratização do Brasil, atualmente estão inativos – assim como os sindicatos, que se tornaram braços orgânicos do governo”, avalia.

O economista participou como conferencista do XII Seminário da Rede Ibero-americana de Pesquisadores sobre Globalização e Território, que acontece até amanhã, no Conservatório. Em entrevista ao Portal da UFMG, ele analisou os problemas gerados pela urbanização acelerada do país, as políticas de habitação implantadas pelo governo e a especulação imobiliária provocada pela entrada do capital estrangeiro nos anos 1990.

Em linhas gerais, quais os fundamentos e as principais características da crise urbana no Brasil?
Em primeiro lugar, somos um país subdesenvolvido, o que faz com que fenômenos como a urbanização não apenas assumam consequências positivas, mas também gerem problemas complicados e difíceis de enfrentar. A urbanização dos países latino-americanos, em geral, aconteceu de forma muito acelerada, durante cerca de três ou quatro décadas – prazo muito curto para que pudessem refletir e montar sistemas de planejamento, legislação e recursos apropriados.

Até os anos 1960 vivemos uma urbanização “suportável” porque a periferização ainda não havia sido feita da forma dantesca como ocorre hoje: o habitante da metrópole não morava assim tão longe de seu local de trabalho. Havia, ainda, outros esquemas de sobrevivência e de resolução de problemas, mais fáceis e ágeis do que os de hoje.

Era possível, por exemplo, comprar um lote em 120 prestações, sem juros nem correção monetária, e ainda ganhar cinco mil tijolos e 10 mil telhas para construir sua casa. É claro que existiam problemas de educação, saúde, higiene, água, esgoto e transporte coletivo, mas as questões eram menores e o enfrentamento, mais fácil.

Que tipo de problemas a periferização provocou?
A ambiência urbana, que de certa forma era sustentável, explodiu, e a periferização foi ao extremo. O tempo de deslocamento se multiplicou, e a precarização do transporte cresceu. Hoje, o passageiro gasta várias horas por dia andando de ônibus, trem ou metrô. O sistema de água já melhorou, mas o esgoto nacional é uma tragédia; são raras as cidades com um sistema razoável. Todas essas questões são sequelas da urbanização: efeitos negativos que se transformaram em problemas de grande porte.

A crise, então, é consequência de uma urbanização muito acelerada, sem o devido planejamento...
É uma herança disso tudo. Com a periferização, a conurbação, a metropolização e o surgimento de várias aglomerações urbanas, os problemas deixaram de ser locais e municipais. O lixo não é mais uma questão do “município X”, mas um problema regional. As dificuldades deixam de ser locais e passam a ser estaduais ou federais.

De que adianta, por exemplo, fazer um sistema de saneamento básico em um dos últimos municípios de determinada bacia, se as pessoas continuam poluindo a cabeceira? Entretanto, a soma dos gastos necessários para resolver o problema das dezenas de municípios de uma bacia qualquer, por exemplo, muitas vezes é mais alta do que a soma dos orçamentos de todos eles.

Dessa forma, a questão é transferida para a esfera federal, e passa a depender de questões políticas, institucionais, orçamentárias, fiscais – além da especulação imobiliária, que se multiplicou. A própria política nacional de habitação, a partir de 1964, foi um agente promotor dessa especulação.

De que forma isso ocorreu?
Primeiro veio o Banco Nacional de Habitação (BHN). Agora, o Minha Casa, Minha Vida segue a mesma lógica: a escolha de grandes terrenos na periferia das cidades por serem mais baratos e comportarem maior número de casas. Como consequência, o Estado tem que levar até lá água, esgoto, policiamento, saúde, asfalto e telefonia, o que custa uma fortuna. Esse processo provocou uma especulação violenta no valor dos terrenos imobiliários ocupados pela classe média, elevando os preços. Dessa forma, a política oficial da habitação chancelou toda a dinâmica de especulação do capital imobiliário – e o Minha Casa, Minha Vida continua fazendo a mesma coisa.

Essa situação é um caso tipicamente brasileiro ou outros países latino-americanos passaram pelos mesmos problemas?
Há diferenças, mas também há muito em comum. A urbanização tem a mesma herança: primeiro veio a exploração colonial, depois o exportador primário e, por fim, a industrialização acelerada.

É possível relacionar a crise urbana com essa crise financeira internacional?
Sim, porque mudou o caráter dela. Até os anos 90, era o capital nacional que comandava todo o circuito imobiliário, do qual fazem parte segmentos como construtoras e imobiliárias. Depois disso, entraram grandes grupos imobiliários que compram apenas 5% ou 10% das empresas nacionais, e exigem que elas façam uma abertura do capital em bolsa – uma jogada especulativa por meio da qual se faz o marketing para que investidores comprem os títulos e valorizem as ações. Assim, os 5% originais se transformam em 50%. E esses grupos constroem em grandes estoques de terra urbana, consolidando as condições para a especulação.

(Gabriella Praça)

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