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Pesquisadores do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias (DCCV) da Escola de Veterinária da UFMG realizaram inseminação artificial em uma mula na busca de explicações para o histórico de fertilidade do animal – fato considerado raro pela ciência. A mula ficou prenha e o filhote tem todas as características fenotípicas de uma mula. O animal foi encaminhada ao Hospital Veterinário da UFMG para ser monitorado pela equipe do professor Marc Henry. A capacidade de gerar filhotes despertou a atenção dos pesquisadores. A mula é um híbrido resultante do cruzamento entre égua (Equus caballus) e jumento (Equus ansinus). Os casos de fertilidade desse animal são raríssimos. De acordo com o professor Marc Henry, o animal foi monitorado por volta de oito meses, e ficou comprovado tratar-se de mais um caso raro. “Segundo o dono, a mula já tinha parido outras vezes. Então, decidimos monitorá-la e vimos que ela realmente ovulava. Fizemos algumas tentativas de inseminação, com sêmen de jumento, até que ela ficou prenha”, conta o professor. Todo o processo foi acompanhado por Leonardo Resende Lisboa, aluno do 6º período de graduação em Medicina Veterinária. Ele controlava a cada dois ou três dias a atividade ovariana, fazendo a palpação dos ovários através de toque retal. E com a ultrassonografia, era possível verificar se ocorria o crescimento folicular. “Vimos o folículo crescer e regredir, até que detectamos que de fato ela ovulava, passamos a tentar inseminar. O sêmen coletado foi do jumento Ribeiro do Hospital da Escola. Na última tentativa, fizemos a inseminação bem próxima ao momento da ovulação”, explica Leonardo. Para ele, uma curiosidade da pesquisa foi o fato de a mula não apresentar sinais de cio quando um macho se aproximava, apesar de o exame ginecológico demonstrar o contrário. Contribuição científica No dia 8 de setembro, nasceu o filhote, após 360 dias de gestação, com todas as características fenotípicas de uma mula. “Acompanhamos o nascimento e coletamos a placenta e o sangue da mãe. Ainda faremos outras pesquisas para averiguar se o genótipo é realmente de uma mula”, explica Marc Henry. “Do ponto de vista genético, tudo indica que todos os cromossomos que estavam no oócito que gerou essa mula eram de origem equina”, acredita. Segundo o professor, algumas análises dos dados coletados serão feitas no laboratório de genética da Escola, com o apoio da professora Denise Oliveira, e outras nos Estados Unidos, na Southern Illinois University. “Há pouquíssimos casos sobre isso bem estudados no mundo”, adianta. “Vamos acompanhar essa mula por mais tempo, já fizemos um acordo com o proprietário para coletarmos material para a Universidade ou para qualquer outro grupo de pesquisa que tenha alguma questão interessante para estudar.” (Assessoria de Comunicação da Escola de Veterinária da UFMG)
Para o professor Marc, do ponto de vista científico, o importante é aproveitar esses modelos para estudar a segregação de genes. “Hoje, com a tecnologia genética mais avançada, conseguimos estruturar melhor qual a divisão de genes que essa mula teria.”