Universidade Federal de Minas Gerais

Bruna Brandão/UFMG
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Pinotti: inovação deve ser formatada para o mercado

Marcos Pinotti: “Inovação não tem que ser feita na universidade”

quarta-feira, 17 de outubro de 2012, às 9h15

Quando ingressou no Departamento de Engenharia Mecânica, em 1999, o professor Marcos Pinotti esbarrou na falta de espaço para estruturar suas atividades de pesquisa. O único lugar livre de que o Departamento dispunha era o almoxarifado, localizado sob a escada que liga os dois níveis do galpão, no campus Pampulha.

Com a ajuda de doutorandos, Pinotti esvaziou o local, limpou, pintou e o transformou no embrião do Laboratório de Bioengenharia (Labbio), que hoje ocupa uma área bem mais espaçosa no próprio prédio da Engenharia Mecânica.

A conversão de um almoxarifado em laboratório é reveladora do espírito inquieto e empreendedor de Pinotti, que lidera equipe de 40 pessoas, entre professores, pesquisadores e alunos, responsável por 42 patentes, 10% do total registrado pela UFMG.

Pesquisador reconhecido mundialmente – em junho, ele passou a ser o primeiro sul-americano a ter o título de fellow das sociedades internacionais de ciências e engenharia de biomateriais por suas pesquisas na área –, Marcos Pinotti critica as distorções que enxerga no ambiente de inovação existente no Brasil, como o fato de boa parte das patentes ainda ser registrada pelas universidades.

“Não é função nossa fazer inovação”, sustenta o professor, em entrevista ao Portal da UFMG, na qual também discorre sobre os modelos de inovação que conhece mundo afora e os trabalhos dos laboratórios de Bioengenharia e de Pesquisa Aplicada à Neurovisão (Lapan).

Que percepção o senhor tem do ambiente de inovação no Brasil?
Estamos aprendendo. A Organização Mundial do Comércio vê o Brasil como under performer ou learner. Ou seja, estamos abaixo de nossa potencialidade. A grande crítica é que a universidade é divorciada das empresas. Parece que é pecado conversar com as empresas. As regras são rígidas, o arcabouço jurídico é muito complexo, e as empresas resistem em nos procurar para conversar. Não pelas pessoas – o pessoal da CTIT [Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica, organismo que conduz os processos de patenteamento e de transferência de tecnologia na UFMG] é maravilhoso –, mas o processo é demorado. A maioria das empresas chega à conclusão de que não vale a pena licenciar uma tecnologia desenvolvida na Universidade; temos aqui um monte de patentes paradas. Discuto esse cenário da inovação no Brasil no livro Homo innovatus, que estou escrevendo com a advogada Nizete Lacerda, que participou do esforço da CTIT no seu início.

A academia brasileira não parece ser um ambiente dos mais propícios para a inovação...
Ainda não encontramos a maneira correta. A inovação não tem que ser feita na universidade. O que é inovação? Inovar é transformar conhecimento em produto ou serviço e comercializá-lo. Não é a universidade que tem que fazer a inovação, e, sim, a indústria, o mercado. Qual é a função da universidade? Gerar conhecimento. Que universidade vai ajudar a fazer inovação? Aquela que formata o conhecimento, de modo a permitir que as empresas o transformem em produto.

Esse é o diferencial que desenvolvemos aqui na UFMG. Levamos uma década para acertar um modelo para redigir patentes. E agora vivenciamos um processo de aprendizado para saber como fazer o licenciamento das patentes e tecnologias que geramos. Felizmente, estamos começando a colher os frutos agora, a UFMG está subindo nos rankings, porque isso funcionou. Apesar de todas as dificuldades, evoluímos bastante.

Voltando ao ponto anterior: não é a universidade que tem a obrigação de inovar. Isso é atribuição, por exemplo, de uma start up, que deve sair da universidade, mas com foco no mercado. Outra coisa que não fazemos direito, e que devemos aperfeiçoar, são as incubadoras de empresa.

Por quê?
Perto de 85% das empresas “desincubadas” morrem em cinco anos. Que sentido faz incubar essa empresa e depois deixá-la à deriva no mercado? Alguns até alegam: “Ah, faz uma pré-incubação”. Mas isso não resolve o problema. Você faz uma pré-incubação para garantir que a empresa sobreviverá durante dois anos na incubadora, mas ao final, ela não sobrevive no mercado da mesma forma. Para dar certo, uma empresa precisa de seis coisas importantes: ideias, talentos, mercado, financiamento, mentor e network. O que nós damos às empresas incubadas? Muito pouca coisa. Se o cara tem uma boa ideia, melhor que ele junte os talentos e vá para o mercado.

Capital ele não vai receber da universidade...
Não vai nem é função da universidade fazer isso. Ok, tem o dinheiro do governo. E aí, cadê o mercado? Cadê o mentor? Cadê os grandes empresários? Gente que chega e diz: “Não, não é assim que faz. Você está desfocado. Gerencia assim, deixa eu lhe apresentar uma empresa que poderá comprar o seu produto ou que está querendo mudar o foco, atingir nicho novo de mercado e sua start-up é o que eles precisavam”. É assim que as coisas funcionam em vários lugares do mundo.

O senhor esteve na Suécia recentemente em visita a parques tecnológicos. Como avalia a experiência daquele país nesse campo?
Um dos parques que me chamaram a atenção foi o de Gotemburgo. Eles conseguiram estabelecer uma grande sinergia entre a cidade de Gotemburgo, que construiu o parque, o governo da Suécia, que paga todas as pessoas que trabalham lá, e as empresas estabelecidas. Esses empreendimentos melhoraram a vida das pessoas do lugar, atraíram centros de pesquisa de várias grandes empresas. A viagem à Suécia foi a terceira que me permitiu conhecer lugares com ambientes interessantes de inovação. No ano passado, participei de comitiva organizada pela Fapemig que esteve em Israel. Estivemos em parques tecnológicos, incubadoras, universidades, empresas que trabalham com inovação. Israel é um dos países mais inovadores do mundo; há mais empresas israelenses na Nasdaq do que da Europa inteira. O modelo de incubadora deles, que era igual ao nosso, faliu em 1991. As incubadoras não conseguiram absorver o grande contingente de pesquisadores russos, um pessoal muito qualificado, todos com doutorado, e quebraram. É um estágio parecido com o que vivemos hoje no Brasil.

E a terceira experiência?
Em 2010, fiquei dois meses nos Estados Unidos a convite do Eisenhower Fellowships [programa de intercâmbio científico e tecnológico custeado pelo Departamento de Estado norte-americano]. Visitei todas as empresas que eu quis, estive até na Nasa. Fizemos um seminário de uma semana na Filadélfia, onde cada um dos fellows que participaram do programa apresentaram suas experiências. Eu falei sobre os modelos de inovação e sobre como as universidades ganham dinheiro com isso. Tive sorte porque na primeira entrevista que eu fiz nos Estados Unidos, um alto funcionário do governo norte-americano me confidenciou que, apesar de toda propaganda, poucas universidades ganham dinheiro com patente. Foi um choque, porque se imagina que nos EUA todas as universidades ganham dinheiro, mas isso só ocorre com umas quatro ou cinco.

É possível transplantar iniciativas desses lugares para cá?
Tenho adotado algumas coisas em escala micro no meu laboratório.

Poderia citar exemplos?
Estamos tentando reincubar uma empresa de Santa Rita do Sapucaí. O pessoal de lá vai “morar” aqui no laboratório com a finalidade de desenvolver um assento com sensores para cadeira de rodas. A grande dificuldade é arrumar financiamento. Portas fechadas fazem parte do tortuoso caminho da inovação.

Como o laboratório funciona?
Na verdade, a nossa estrutura comporta três laboratórios, o de Bioengenharia e o de Pesquisa Aplicada à Neurovisão, em parceria com o Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães. Esse é também um arranjo inovador, iniciado em 2006. O Hospital de Olhos precisava do arcabouço tecnológico para fazer o diagnóstico adequado e acompanhamento das crianças com dislexia. Além disso, desenvolvemos um sistema e uma tecnologia que, além de detectar problemas de processamento visual (dislexia), permite fazer screening visual das crianças para detectar problemas de refração (miopia e astigmatismo), entre outros.

A inovação consistiu em criar um laboratório de pesquisa da UFMG em conjunto com um hospital privado, parceria que se mostrou muito eficaz. Já geramos uma patente e um programa de acompanhamento de saúde da criança na escola (Bom Começo), financiado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, pela Fapemig e pelo CNPq. Esse programa causou tanto impacto que já foi adotado em Vancouver, no Canadá.

O Laboratório de Bioengenharia trabalha basicamente com produtos nessa interface entre engenharia e medicina?
Isso. E tem uma área interessante que é a biomimética, que se baseia em tecnologias inspiradas na natureza. Um exemplo é o tênis, que foi licenciado duas vezes para uma mesma companhia: o primeiro licenciamento para um tênis de caminhada, e o segundo para tênis de corrida. Seu solado foi inspirado na pata do gato, por isso ele amortece o impacto da pisada.

A ideia é mimetizar?
Inspirar-se. Entender aquele processo e traduzi-lo para uma utilização específica. Outro exemplo é a terapia fotodinâmica, desenvolvida por outra start up aqui do laboratório. Ela permite, por exemplo, matar fungo de unha sem recorrer a antibiótico, que causa problemas no fígado. De modo bem resumido, o que fazemos é depositar, na unha infectada, um corante que é absorvido pelo fungo. Quando irradiamos a unha com uma fonte de luz de uma cor específica, o corante libera radicais livres e desencadeia um processo de morte celular programada. Essa técnica, objeto de patente compartilhada com a UFMG, é financiada pela Fapemig e pelo CNPq.

O laboratório parece ser uma espécie de protótipo em escala reduzida do que poderia ser um ambiente propício à inovação formatada?
Procuramos caminhar nessa direção. Outro projeto engatilhado é a estruturação de um laboratório na área de direito e inovação tecnológica. Está sendo montado com o professor Bruno Wanderlei, da Faculdade de Direito da UFMG. A intenção é estudar plataformas tecnológicas estruturadas de forma a garantir segurança jurídica para transformar essas tecnologias em produtos e serviços. Trata-se de uma oportunidade muito interessante de aliar a Escola de Engenharia à Faculdade de Direito em um assunto tão fundamental para o país.

(Flávio de Almeida)

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