Universidade Federal de Minas Gerais

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Imagem do vírus influenza: simplicidade facilita modificação genética

ICB desenvolve vacina contra chagas a partir de colagem genética

terça-feira, 23 de outubro de 2012, às 5h50

Modificar o vírus da influenza para desenvolver vacina bivalente que proteja contra a doença de chagas e a gripe. A ideia, que resultou em depósito de patente para a UFMG, já tem eficácia comprovada em modelo animal.

“Ambas são doenças infecciosas que induzem uma resposta imunológica do tipo inflamatória”, explica o doutorando Rafael Polidoro Alves Barbosa, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), autor de trabalho sobre o tema, vencedor do Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia, na categoria Jovem Pesquisador.

O projeto consiste em alterar um vírus influenza H1N1, que funciona como vetor vacinal e carrega um gene do Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença de chagas. Embora o modelo trabalhe especificamente com o vírus A/WSN/33, a vacina pode ser adaptada à linhagem da gripe prevalente a cada ano.

“O influenza é relativamente fácil de ser usado geneticamente, pois tem só oito genes e normalmente codifica dez proteínas. Assim, precisamos mudar pouca coisa para transformá-lo em uma ferramenta viável”, descreve Polidoro. Ele acrescenta que a possibilidade de gerar vírus influenza recombinantes pela técnica de genética reversa faz deles “alvos atraentes de estudos de vetores para doenças causadas por protozoários”.

O estudo é orientado na UFMG pelo imunologista Ricardo Gazzinelli e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pelo virologista Alexandre Vieira Machado. Também recebe contribuições do professor Maurício Martins Rodrigues, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em T. cruzi, e do pesquisador Oscar Bruña-Romero, especialista em adenovírus, da Universidade Federal de Santa Catarina.

O projeto é parte do programa de pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas (INCTV), do CNPq, coordenado pelo professor Gazzinelli.


Encontro
O trabalho de Rafael Polidoro tem como base dois vírus criados em laboratório – um produzido por ele e um adenovírus construído pelos professores Bruña-Romero e Machado, em 2006. “Usando técnicas de genética reversa, chegamos a vírus influenza recombinantes que carreiam porções da proteína ASP-2 de T. cruzi”, conta o biólogo. Segundo ele, o experimento começa sem vírus, pois eles surgem a partir de cortes, colagens e clonagem de genes em DNA de bactérias – neste caso específico, genes de influenza e T. cruzi.

“Com a tecnologia recombinante, construímos os genes de interesse, combinamos com os outros genes do vírus e adicionamos todos em células permissíveis a plasmídeos. Os vírus se formam a partir do encontro dos genes do vírus na mesma célula”, resume.

Usando os vírus construídos por ele e por seus colaboradores, Polidoro vacinou camundongos com duas doses – a primeira de influenza via intranasal e a segunda, um mês depois, de adenovírus injetados por via subcutânea.

Ao testar a resposta imunológica, ele constatou que 14 dias após a segunda dose já havia anticorpos em alguns grupos. Aos 21 dias, a resposta imunológica celular e a produção de substâncias defensoras estavam presentes em grande quantidade no grupo influenza-adenovírus. Além disso, constatou a existência, neste grupo de camundongos vacinados, de população de células imunodominantes, isto é, capazes de proteger contra o parasito T. cruzi.

“Assim, quando em 28 dias após a vacinação ­infectamos os camundongos com uma dose cinco ­vezes acima da letal de Trypanosoma cruzi, a sobrevida do nosso grupo de estudo chegou a quase 80%”, explica o pesquisador. Para confirmar a eficácia da ­vacina, Polidoro comparou os resultados com grupo de animais que receberam os vírus sem a proteína do T. cruzi e constatou que todos morreram cerca de 20 dias após a infecção.

Portanto, na avaliação experimental em animais, o pesquisador mostrou que os influenzas recombinantes foram capazes de estimular linfócitos, quando combinados com adenovírus que carreavam o segmento da proteína ASP-2 de T. cruzi.

Apesar do longo caminho a percorrer, a pesquisa já alcançou estágio que permite sua transferência para a indústria, onde ocorreriam as próximas fases de testes. Como lembra Polidoro, o animal utilizado nos estudos de laboratório é um modelo específico, daí a necessidade de passar para um mais complexo, como primatas, antes de chegar à fase dos testes em humanos.

Gripe é o próximo alvo
As pesquisas de Polidoro nessa área começaram ainda na graduação, em 2006, como projeto de iniciação científica. “Era um trabalho com toxoplasmose. No ano seguinte, dei início à construção dos vírus no projeto da doença de Chagas e em 2009 terminei a caracterização de três diferentes vírus”, conta.

Em 2008, o trabalho rendeu os prêmios regional e nacional em eventos da Fiocruz. Recebeu outros reconhecimentos na mesma linha de pesquisa, como o Global Travel Award da Bill and Melinda Gates Foundation, em 2010, que custeou sua participação em congresso internacional para apresentar resultados desse estudo; o prêmio de melhor doutorado em evento da Sociedade Brasileira de Imunologia, em 2011; e no mesmo ano premiação na XIX Jornada de Jovens Pesquisadores da Associação de Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM), realizada na Universidad Nacional del Este, em Ciudad del Este (Paraguai).

Recentemente eleito presidente da Associação de Pós-graduandos da UFMG, Polidoro planeja fazer pós-doutorado na Universidade de Medicina de Monte Sinai, em Nova York, instituição referência em pesquisas sobre gripe, área na qual, segundo ele, o Brasil ainda precisa evoluir. “A Fiocruz tem um plano de pandemia da gripe que é muito bom, mas mesmo assim pretendo absorver alguma tecnologia para trazer para cá”, afirma.

Segundo ele, com a técnica de genética reversa, é possível modificar rapidamente um vírus influenza pandêmico, por exemplo, e atenuá-lo para uso em vacinação no país. “Se além desse fator pudéssemos incluir um gene no vírus que possa proteger contra outra doença, estaríamos poupando esforço e vacinando contra duas doenças ao mesmo tempo”, ressalta.

Tripla descoberta marcou história da medicina
A descoberta de uma nova doença humana foi levada à comunidade científica em abril de 1909, pelo pesquisador Carlos Chagas (1878-1934), do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). No ano anterior, Chagas já havia identificado o agente causal da doença – o protozoário que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz – e o barbeiro, inseto transmissor.

“A ‘tripla descoberta’ de Chagas constitui um marco na história da ciência e da saúde brasileiras”, escreve a pesquisadora Ana Maria Jansen-Franken, do Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC, em artigo publicado no site da Fiocruz.

Rafael Polidoro comenta que, um século depois de sua descrição, a doença ainda constitui importante problema de saúde pública, sobretudo em países da América Latina. A Organização Mundial de Saúde estimou, em 2008, em torno de dez mil mortes dentre mais de dez milhões de indivíduos infectados.

Devido à inexistência de vacina para humanos, o tratamento é restrito à fase aguda da doença, na qual ocorrem sintomas comuns como febre ou fadiga, o que torna difícil o diagnóstico adequado.

“Recentemente foi demonstrado que é interessante do ponto de vista econômico o desenvolvimento de uma vacina contra a doença na América Latina, mesmo em regiões de baixo risco de infecção e baixa eficiência vacinal”, comenta o pesquisador, ao ressaltar a importância do desenvolvimento de protocolo otimizado de vacinação.

Segundo Jansen-Franken, o T. cruzi “é um parasita eclético quanto a seus hospedeiros e habitats e é transmitido em redes parasitárias bem estabelecidas em todos os biomas do país”, aspecto que deve ser considerado nas ações de vigilância sanitária.

(Boletim UFMG 1795/Ana Rita Araújo)

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