Bruna Brandão/UFMG |
“Como todo guarani-kaiowá, vivo ameaçado pelo risco de ser morto.” Foi assim que o índio Tonico Benites descreveu, hoje, o clima de horror e incerteza que se abate sobre seu povo. Doutorando em Antropologia Social pela UFRJ, Tonico participou esta manhã do debate Povos indígenas e desenvolvimento: o genocídio no Mato Grosso do Sul, promovido pela UFMG. A discussão integrou o evento A Universidade contra o genocídio dos Guarani-Kaiowá, que acontece no campus durante esta sexta-feira. “Hoje, muitos cientistas sociais indicam que, se nada for feito, em pouco tempo esse povo será exterminado”, ressaltou Tonico. “No entanto, já falávamos isso há muitos anos, desde as décadas de 60 e 70, só que ninguém ouvia.” Em seu depoimento, ele destacou a necessidade de regulamentação das terras indígenas, a reivindicação dos nativos por seu território e a violência que ela desencadeia. “A Justiça existe no Brasil, só que, muitas vezes, ignora nosso passado, nossa memória, nossa história e até nossos direitos”, salientou. Também participante do evento, o antropólogo da Procuradoria Geral de Dourados (MS) Marcos Homero chamou atenção para a ideia de caça aos índios presente no imaginário da população do estado do Mato Grosso do Sul. O palestrante contou diversos casos de preconceito contra indígenas por ele presenciados. “É devido a essa mentalidade que o poder público não funciona como deveria no que diz respeito à regulamentação fundiária”, sugeriu. Ele lembrou, ainda, que os livros didáticos escolares, em geral, também são preconceituosos e só tratam dos índios da época do descobrimento do Brasil, ignorando os atuais. UFMG e os Guarani-Kaiowá O evento A Universidade contra o genocídio dos Guarani-Kaiowá incluiu, ainda, piquenique no gramado da Reitoria, com apresentações musicais, e prevê reunião de pesquisadores com representantes da etnia, ao longo da tarde, no Departamento de Comunicação Social, no 4º andar da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).
A participação de índios Guarani-Kaiowá na última edição do Festival de Inverno da UFMG, em julho passado, chamou a atenção da equipe organizadora para a causa da etnia. “Pudemos escutar de perto não só os cantos, mas também depoimentos sobre a situação assombrosa em que se encontram esses índios”, revelou o coordenador do Festival, César Guimarães. Desde então, o grupo tem procurado constituir rede de professores, artistas e intelectuais contra a violência e a pressão econômica exercida pelo agronegócio na região em que vive esse povo.