Bruna Brandão/UFMG |
Os lanches rápidos são capazes de substituir o jantar? Essa foi a pergunta feita por três pesquisadores que decidiram avaliar o impacto do hábito de jantar em pacientes que realizam hemodiálise. Os resultados da investigação estão no artigo Impacto do hábito de jantar sobre o perfil dietético de pacientes em hemodiálise, que descreve os hábitos alimentares de 90 pacientes em tratamento hemodialítico em Belo Horizonte. O trabalho foi publicado no Jornal Brasileiro de Nefrologia. O estudo conclui que o hábito de jantar contribui para a saúde e bem-estar dos pacientes em hemodiálise. Se para uma pessoa saudável trocar o jantar por um lanche já traz riscos, para o paciente com insuficiência renal a troca é muito mais perigosa. Como o tratamento de hemodiálise pode causar, ao longo do tempo, desnutrição e emagrecimento, é importante que esses pacientes tenham uma dieta mais controlada. “O paciente que faz hemodiálise tem um risco aumentado de desnutrição. Como no processo da hemodiálise há uma perda muito grande de vitaminas hidrossolúveis, abrir mão do jantar pode ser perigoso”, afirma o doutorando em Epidemiologia pela UFMG e um dos autores do artigo, Lucas Maciel Cunha. Segundo ele, abrir mão do jantar faz parte de uma transição nutricional que ocorre no mundo todo. Essa mudança é reflexo da mudança de hábitos da sociedade, que leva uma vida mais corrida e dedica menos tempo às refeições. O jantar ideal seria aquele com porções de cereais, carnes, legumes e vegetais folhosos. “O paciente em hemodiálise tem uma dieta mais restritiva que aqueles que não apresentam a doença. O hábito de consumir um jantar completo faz com que as vitaminas perdidas durante o tratamento sejam repostas mais facilmente”, explica Márcia Ribeiro, nutricionista e coautora do artigo. A nutricionista explica que a opção do lanche no lugar do jantar, apesar de não ser a ideal, pode ocorrer se ele for feito com os elementos que normalmente compõem as principais refeições do dia: proteínas, carboidratos, legumes e verduras. “O problema é que as pessoas que deixam de jantar não o fazem para comer um sanduíche saudável. Elas acabam escolhendo um lanche rápido como pão de sal adicionado de margarina, manteiga ou um produto industrializado com poucos nutrientes”, ressalta. Alerta nutricional “Quem faz hemodiálise deve ter um cuidado maior em relação às escolhas para o consumo de frutas e verduras, por causa do potássio. Cada paciente precisa ter sua dieta. A preocupação com o produto industrializado ocorre por causa do fósforo, muito presente nos alimentos embutidos”, explica Márcia Ribeiro. A nutricionista destaca que a escolha dos alimentos a serem consumidos pelos pacientes com doenças renais deve ser cuidadosa. O objetivo é combater a desnutrição, mas sem pôr em risco a eficiência do tratamento. “O paciente que faz hemodiálise pode comer quase tudo, desde que com moderação e bem orientado por um nutricionista”, conclui. Censo da hemodiálise “Foram coletadas informações socioeconômicas, medidas corporais como peso, altura, circunferência de cintura e alguns dados de exames de laboratório realizados pelos pacientes para conhecê-los melhor”, explica Lucas Maciel. A primeira constatação do censo diz respeito às comorbidades apresentadas junto com a insuficiência renal. “A maioria das pessoas que fazem hemodiálise no Brasil sofre de consequências da hipertensão e diabetes”, diz Lucas. O levantamento também observou que a maioria é do sexo masculino e tem mais de 50 anos. “Verificamos também que há um elevado percentual de mulheres com circunferência de cintura maior do que a considerada normal. Isso implica maior risco de acidentes cardiovasculares entre elas”, conclui. O censo, além de conhecer melhor o perfil epidemiológico e nutricional de pacientes que fazem hemodiálise nas diversas regiões brasileiras, futuramente poderá servir para o acompanhamento do perfil dessa população em pesquisas e na prática clínica nos hospitais do país. (Luana Macieira) Ficha técnica Autores: Márcia Ribeiro, Melissa de Araújo, Michele Pereira e Lucas Maciel Cunha. Artigo: Aspectos nutricionais e epidemiológicos de pacientes com doença renal crônica submetidos a tratamento hemodialítico no Brasil, 2010. Autores: Bárbara Menardi, Carmen Branco, Lucas Cunha, Melissa de Araújo, Márcia Ribeiro, Anita Sachs, Clarissa Baia, Sérgio Antônio, Cibele Isaac e Elvino Barros.
Alguns alimentos que não trazem risco algum a pessoas saudáveis podem comprometer a saúde de pacientes em tratamento hemodialítico. Os maiores inimigos de quem faz hemodiálise são os excessos de fósforo e de potássio, além dos conservantes presentes em alimentos industrializados como presunto, mortadela e outros embutidos.
Para dar continuidade aos trabalhos sobre a dieta de pacientes com insuficiência renal, os pesquisadores Lucas Cunha, Márcia Ribeiro e Melissa de Araújo, juntamente com o Comitê de Nutrição da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), participaram do estudo Aspectos nutricionais e epidemiológicos de pacientes com doença renal crônica submetidos a tratamento hemodialítico no Brasil, 2010, trabalho publicado em abril deste ano. O estudo realizou uma espécie de censo com cerca de 2600 pacientes que fazem hemodiálise em todo o país.
Artigo: Impacto do hábito de jantar sobre o perfil dietético de pacientes em hemodiálise.