"Negra beiçuda, de carne preta"; "preta velha”; “macaca de carvão". Assim é caracterizada a Tia Nastácia, do Sítio do Picapau Amarelo, na obra de Monteiro Lobato. Esses termos, considerados racistas, têm causado muita polêmica, sobretudo no que diz respeito à abordagem de obras como as de Monteiro Lobato pelos professores. Na semana da consciência negra, o Café Controverso, do Espaço TIM UFMG do Conhecimento, coloca em debate o tema Literatura e racismo. O evento vai acontecer neste sábado, 24, às 11h, com a participação de Santuza Amorim, professora da Faculdade de Educação da Uemg, e de Maria Nazareth Fonseca, professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e de Literatura Afro-brasileira da PUC Minas. Pesquisadora da área de educação básica, Santuza Amorim analisa materiais didáticos identificados como preconceituosos. Segundo ela, essas obras expõem elementos da cultura afro, como festas religiosas, e características físicas dos negros de maneira depreciativa. “Na maioria das vezes, o negro aparece em situações subalternas, como pivetes ou empregadas domésticas, por exemplo. Tais livros não mostram essas figuras em famílias organizadas ou como trabalhadores que têm profissões bem situadas”, argumenta. Censura “Censurar uma obra que foi escrita no passado é desconhecer o contexto em que foi publicada. Apagando a visão do livro não temos nem esse momento pra discutir formas de racismo”, explica. A professora argumenta ainda que existem outras obras que expressam discriminações e cita o livro de Aluísio de Azevedo O cortiço. “A obra também tem uma visão racista e nem por isso sua circulação foi questionada.” (Com Assessoria de Imprensa do Espaço TIM UFMG do Conhecimento)
Santuza defende uma abordagem adequada, na literatura infantojuvenil, para as obras que apontam formas de discriminação. “Existem pessoas que tentam expor o racismo em obras literárias, mas elas acabam piorando a situação, por não estarem preparadas para instruir as crianças sobre isso”, explica. Ela diz ainda que os livros de Monteiro Lobato não devem ser descartados pelas escolas. “O Jeca Tatu também expressaria preconceito contra o homem do campo, pois é pintado como preguiçoso”, justifica.
Maria Nazareth Fonseca é contra a censura das obras do autor brasileiro, alegando que cabe aos professores explicar aos estudantes as relações marcadas pelo contexto histórico em que foram publicadas. Apesar de não concordar com o modo que Monteiro Lobato figura personagens com a Tia Nastácia, ela teme que a proibição em si dê lugar ao racismo.
O debate terá entrada franca, e o Espaço fica no Circuito Praça da Liberdade. O evento será transmitido ao vivo pelo site www.espacodoconhecimento.org.br. Mais informações no próprio site ou pelo telefone 3409-8350.