Bruna Brandão/UFMG |
O neurocientista Miguel Nicolelis ministrou esta manhã, no campus Pampulha, a conferência Muito além do nosso eu: o cérebro movendo o mundo. O evento integrou o Encontro de pesquisa em bioquímica e imunologia, que acontece hoje e amanhã, no Centro de Atividades Didáticas 1 (CAD1). Nicolelis apresentou alguns dos experimentos de interface cérebro-máquina que desenvolve com sua equipe, na Universidade de Duke (EUA), onde é professor titular. O pesquisador é um dos expoentes do “distribucionismo”, corrente científica segundo a qual mesmo as ações mais simples dependem do trabalho integrado de muitos neurônios. “Registrar um neurônio de cada vez é como tentar estudar o ecossistema da floresta amazônica estudando uma árvore de cada vez”, comparou. O cientista destacou a importância da pesquisa básica. Segundo ele, a interface cérebro-máquina, que lhe trouxe notoriedade mundial pela possibilidade de aplicação em humanos que perderam capacidades motoras, foi desenvolvida apenas para testar teorias de codificação neural. “No início, não se tinha ideia de que a interface teria aplicação prática”, ressaltou. Ilusão cerebral Segundo ele, o homem não apenas constrói ferramentas, mas, também, as assimila. Dessa forma, os aparatos técnicos se tornam parte de nós. “Não é à toa que não conseguimos nos desgrudar de nossos telefones celulares”, comentou. O neurocientista brasileiro coordena o projeto Walk Again, desenvolvido simultaneamente em Durham (EUA), São Paulo, Natal, Munique (Alemanha), Lausanne (Suíça), entre outras cidades. Pesquisadores ligados ao projeto estão trabalhando na criação de um exoesqueleto de interface cérebro-máquina que seja capaz de devolver os movimentos a pessoas que sofreram paralisia. Nicolelis planeja uma demonstração do dispositivo na abertura da Copa do Mundo de 2014, com o pontapé inicial dado por um brasileiro portador de deficiência física.
Ao exibir os experimentos realizados com primatas não humanos, Nicolelis enfatizou que o “sentido de eu” (“sensor self”, em inglês) que o cérebro cria para definir nossa identidade não é rígido nem confiável. “O cérebro é a única orquestra que se modifica cada vez que produz uma sinfonia”, observou, referindo-se ao ruído provocado no órgão pelas tempestades neurais.