Pessoas com transtornos mentais estão mais vulneráveis ao vírus HIV. De 2.475 usuários de serviços de saúde mental entrevistados em estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina, 89% das mulheres e 77% dos homens sexualmente ativos admitiram terem realizado sexo desprotegido nos seis meses anteriores. Os dados que revelam essa situação são de dissertação de mestrado defendida no último dia 29 no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Unidade. Entre as principais conclusões do estudo, a autora Eliane Peixoto destaca a diferença de risco para o sexo desprotegido entre homens e mulheres como um dos mais importantes. “A sociedade trata os gêneros de maneira diferente, ainda mais quando o assunto é sexo, mas as iniciativas de prevenção em geral os igualam”, afirma. “Para que os programas de prevenção sejam mais eficazes é preciso considerar essas diferenças sociais”, defende. O transtorno mental tende a aumentar essa desigualdade de gêneros. “A mulher com transtorno mental pode ter sua sexualidade estigmatizada, ter seu poder no lar ou sua autoestima diminuídos, reduzindo sua habilidade em negociar o uso do preservativo com o parceiro e tentar se proteger", explica a autora. A vulnerabilidade é reforçada também pela violência enfrentada por elas. O estudo apurou que 76% das mulheres sofreram algum tipo de violência verbal, enquanto 29% enfrentaram algum episódio de violência sexual. A reversão desse quadro, na avaliação de Eliane Peixoto, passa pela questão do empoderamento feminino. Como o preservativo mais utilizado é o masculino, o maior poder de decisão de ter sexo protegido ou não ainda está nas mãos do homem. Se o parceiro não quiser, cabe à mulher negociar o uso do preservativo. Porém, muitas vezes ela tem dificuldades de levar essa negociação a bom termo, ficando a mercê do sexo inseguro. “É preciso oferecer ferramentas às mulheres para que elas se sintam mais decididas a fazer o teste do HIV e a negociar o uso do preservativo”, aponta. Estigma O sexo sem proteção ainda é mais frequente nos pacientes com diagnósticos menos graves, como depressão ou transtornos de ansiedade, quando comparados com portadores de esquizofrenia e transtorno bipolar. A prevalência de sexo desprotegido nos seis meses anteriores à entrevista entre pacientes com depressão e ansiedade foi de 89% entre os homens e 91% entre as mulheres. Entre os pacientes com diagnósticos mais graves, 75% dos homens e 88% das mulheres reportaram tal comportamento. A explicação está na maneira como essas pessoas se relacionam em sociedade. Ainda que afetados com o estigma, pessoas com transtornos leves conseguem se inserir melhor socialmente do que aquelas com transtornos graves, de caráter incapacitante. “O maior envolvimento proporciona mais oportunidades para relações sexuais, inclusive para a prática do sexo sem proteção", conclui Eliane Peixoto. (Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina)
Segundo Eliane Peixoto, existem duas possíveis explicações para o alto índice de comportamento de risco entre os indivíduos com transtorno mental. “Esses indivíduos são discriminados e marginalizados, tendo menos acesso à educação, trabalho e renda, por exemplo. Também têm uma redução no discernimento, preocupando-se menos com a segurança em algumas situações”, afirma.