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A nanotecnologia já tem sido bastante usada pela medicina para combater diversas doenças. Pacientes com câncer, por exemplo, já são tratados com medicamentos introduzidos na corrente sanguínea através de nanoestruturas. Por meio da tese Estudos in vitro e in vivo de lipossomas contendo gadolínio-159 para o tratamento do câncer, defendida na Faculdade de Farmácia da UFMG, o pesquisador Daniel Crístian Ferreira sugere novo uso da nanotecnologia para o tratamento de tumores cancerígenos: em vez de levar o medicamento ao tumor, a nanoestrutura seria responsável por carregar um elemento radioativo. O estudo foi um dos cinco desenvolvidos na UFMG que venceram o Prêmio Capes de Tese 2012, que será entregue na próxima quinta-feira, dia 13, em Brasília. “A radiação sempre foi muito pesquisada com objetivos terapêuticos e de diagnóstico de muitas doenças, inclusive o câncer. O nosso estudo tenta melhorar a radioterapia convencional usada nos tratamentos de tumores, uma vez que ela traz muitos efeitos colaterais para os pacientes” explica Daniel Ferreira. O pesquisador ressalta que o uso da radiação em uma nanoestrutura permite que o combate às células tumorais seja feito de forma mais seletiva. Para que aconteça essa ligação entre o tumor e a nanoestrutura, esta recebe, em sua superfície, um elemento que é atraído pelo tumor específico a ser tratado. “No caso de um tumor atraído por ácido fólico, por exemplo, a nanoestrutura será coberta por esse ácido para gerar a atração. A esse efeito damos o nome de permeação e retenção aumentada”, explica o pesquisador. Como o tratamento em pacientes com câncer é muito agressivo, órgãos e tecidos saudáveis acabam atingidos pela radiação, que deveria ter o propósito de atacar somente os tumores. Com a dose direcionada exatamente para a célula tumoral, o paciente recebe menos radiação e, consequentemente, tem menos efeitos colaterais em decorrência do tratamento. “A associação de sistemas nanoestruturados incorporados a radioisótopos faz com que a radiação não atinja áreas sensíveis e saudáveis do organismo, como o cristalino dos olhos e a medula óssea, que sofrem muito quando o corpo do paciente recebe a radiação convencional do tratamento contra o câncer”, afirma Daniel Ferreira. Gadolínio “Uma dos primeiros passos era obter o radioisótopo. Obtemos o gadolínio, que tem características adequadas ao tratamento médico, como a sobrevida e a emissão de uma quantidade de energia radioativa adequada, por exemplo. Esse metal era citado na literatura especializada como detentor de potencial terapêutico, mas isso ainda não havia sido testado de fato”, conta o pesquisador. Com o elemento radioativo escolhido, foram realizados testes em laboratório para identificar se ele era capaz de atacar células tumorais. Depois da comprovação da eficiência do gadolínio, foram implantadas células cancerígenas em camundongos, que também incorporaram as nanoestruturas com o isótopo radioativo. Segundo Daniel Ferreira, os resultados dos testes são animadores. “Nos animais que receberam o material radioativo na nanoestrutura, os tumores cresceram menos. Nesses animais houve um índice de morte das células cancerígenas muito superior aos animais que não incorporaram o isótopo radioativo por meio da nanoestrutura”, diz ele. Em humanos “Usamos tumores de câncer de mama nos camundongos tratados, uma vez que são os tumores que mais atingem os brasileiros. Com o fim da fase de testes pré-clínicos, queremos levar os estudos, no futuro, para os testes reais em pacientes com tumores”, conta Daniel Ferreira. A expectativa do pesquisador é de que a tecnologia possa ajudar a minimizar o sofrimento dos pacientes com câncer. Para ele, a ação conjunta de médicos nucleares e radioterapeutas pode fazer com que os tratamentos sejam mais bem-sucedidos, uma vez que a radioterapia por meio de nanoestrutura permite aplicação de doses menores de radiação. “O foco passa a ser a qualidade de vida do paciente com câncer. Não achamos a cura da doença, mas estamos dando um passo para que o tratamento seja menos doloroso e mais eficiente. Pessoas com câncer precisam de novas alternativas para viver melhor e com mais qualidade”, conclui Daniel Ferreira Soares. (Luana Macieira)
Interessado em pesquisar formas benéficas de uso da radiação, Daniel Crístian Ferreira fez o mestrado no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Lá, o primeiro desafio foi buscar um elemento radioativo que atendesse aos fins terapêuticos do tratamento do câncer.
Com a conquista no Grande Prêmio Capes de Tese 2012, os pesquisadores envolvidos na descoberta estão ansiosos para dar continuidade aos estudos e testes sobre o tratamento contra tumores. Segundo Daniel Ferreira Soares, o próximo passo envolve o teste da radioterapia com nanoestruturas em humanos.
Tese: Estudos in vitro e in vivo de lipossomas contendo gadolínio-159 para o tratamento do câncer
Autor: Daniel Cristian Ferreira Soares.
Orientador: Gilson Andrade Ramaldes
Data da defesa: 18 de fevereiro de 2011.
Tese disponível em http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUOS-8P9GLQ/daniel_cristian_ferreria_soares_tese_de_doutorado.pdf?sequence=1