Universidade Federal de Minas Gerais

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Testes foram realizados na câmara ambiental, sala especial da EEFFTO

Artigo de pesquisadores da UFMG descreve descobertas sobre capacidade termorregulatória do organismo

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012, às 17h42

Por meio de testes realizados com nove pessoas, pesquisadores da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG estudaram a capacidade termorregulatória do organismo quando este é submetido a altas temperaturas. Segundo Flávio de Castro Magalhães, um dos autores do artigo Thermoregulatory efficiency is increased after heat aclimation in tropical natives, a capacidade do corpo suar para controlar sua temperatura era algo já conhecido, mas a pesquisa comprovou como essa termorregulação ocorre.

“Antes de se adaptar ao calor, a pessoa produz suor. Depois que o organismo está adaptado àquela nova temperatura, o corpo passa a suar mais em todas as regiões. O que observamos com os testes é que algumas partes do corpo ampliam sua capacidade de suar muito mais que outras. Pudemos comprovar que o aumento de suor nas regiões do corpo não é proporcional e contínuo, e isso é essencial para o entendimento do mecanismo de termorregulação corporal”, explica.

A literatura especializada já mostrava que o corpo humano controla a produção de suor de forma a regular a temperatura corporal. Porém, ainda havia dúvidas acerca de como essa produção de suor acontecia. “Já sabíamos que o corpo produziria mais suor se submetido a maiores temperaturas, mas não sabíamos que algumas partes do corpo passavam a suar mais que outras”, conta Flávio.

Para chegar à conclusão de que a termorregulação não ocorre de forma uniforme nas partes do corpo onde a pessoa sua, os pesquisadores submeteram nove pessoas à câmara ambiental, uma espécie de sala especial localizada na Escola de Educação Física e onde é possível controlar a temperatura do ambiente entre 0°C e 100°C, e a umidade relativa do ar entre 0% e 90%.

“Quando colocamos uma pessoa para fazer atividade física por vários dias na câmara ambiental, em temperatura de 40°C e com 45% de umidade relativa do ar, o corpo dela se adapta da mesma forma que se adaptaria ao longo de meses exposta à prática esportiva naquelas condições. Na câmara, conseguimos observar, em menos tempo, como o corpo controla sua produção de suor para manter a temperatura”, diz Flávio.

O artigo, que foi publicado no Journal of Physiological Anthropology, tem coautoria do professor aposentado da UFMG Luiz Oswaldo C. Rodrigues e do diretor da Escola de Educação Fpisica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Emerson Silami Garcia, e de vários alunos da unidade.

Flávio de Castro Magalhães destaca a importância de dar continuidade aos estudos na área. “Na EEFFTO temos um grupo de estudos que pesquisa termorregulação e fadiga. Estudos nessa área são importantes não apenas para o treinamento de atletas profissionais, mas também para dar qualidade de vida àqueles que praticam qualquer atividade física regular, que produz suor”, conclui.

'Secar o suor não é eficiente'
Todas as pessoas, praticantes de esportes ou não, possuem capacidade de suar para regular a temperatura do corpo, porém alguns têm essa capacidade mais desenvolvida que outros. “Jovens e homens têm mais capacidade de produzir suor que mulheres e pessoas mais velhas. Pessoas bem hidratadas também têm mais facilidade de termorregulação que pessoas desidratadas”, afirma Flávio.

O pesquisador informa que muitos praticantes de esportes não entendem bem a importância do funcionamento do suor para o organismo. “O suor, apesar de formado basicamente por água e sódio, não é visto como algo apropriado, é encarado como desleixo, sujeira, algo a ser evitado. Pessoas que transpiram têm vergonha e, muitas delas, secam o suor a todo momento, o que é inapropriado para a sua eficiência termorregulatória."

Segundo Flávio, ao enxugarmos o suor durante uma prática esportiva, estamos evitando uma perda de calor mais eficiente. “Quem enxuga seu suor está apenas jogando água fora. Para o suor ter a capacidade termorregulatória, ele tem que evaporar naturalmente. O calor só é passado para o ambiente quando ele evapora. Se você o enxuga, você não perde calor para fora”, explica.

Dessa forma, para que o suor exerça seu papel de regulador da temperatura do corpo, ele não deve ser evitado. “Se a pessoa está correndo e começa a suar muito mais na testa que em outros lugares, isso é a prova de que seu corpo se organiza da melhor forma possível para que ela perca calor para o ambiente. Ela deve deixar o suor fazer o seu trabalho para que a atividade física cause menos cansaço e ela se sinta mais confortável durante o exercício”, conclui o pesquisador.

Artigo: Thermoregulatory efficiency is increased after heat acclimation in tropical natives.
Autores: Flávio Magalhães, Renata Passos, Michele Fonseca, Kenya Oliveira, João Ferreira Júnior, Angelo Martini, Milene Lima, Juliana Guimarães, Valério Baraúna, Emerson Silami Garcia, Luiz Oswaldo Rodrigues.

(Luana Macieira)