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Já usada como matéria-prima para a produção de combustíveis, a biomassa começa a ser empregada na fabricação de produtos mais sofisticados, como protetores solares, cosméticos e perfumes. Essa nova aplicação é estudada por pesquisadores da UFMG e da Universidade de Ottawa, no Canadá, que testaram o uso de derivados de plantas na produção sustentável de compostos que podem ser empregados na fabricação dos filtros solares, substituindo os derivados fósseis. As descobertas estão descritas no artigo Plantas químicas: moléculas de alto valor obtidas de óleos essenciais, publicado no Jornal da Sociedade Americana de Química. “Concluímos que a tecnologia usada para a produção de filtros solares e outros cosméticos pode ser aprimorada”, afirma o professor Eduardo Nicolau, do Departamento de Química da UFMG, um dos coordenadores do estudo. A pesquisa visa transformar componentes de óleos essenciais de plantas comumente encontradas nos países tropicais em insumos de alto valor agregado que servem de base para a produção dos filtros solares, perfumes e cosméticos. Para transformar as substâncias químicas extraídas das plantas nessas matérias-primas, o grupo da UFMG e do Canadá se valeu da chamada metátese de olefinas, cujo aprimoramento em laboratório valeu aos químicos francês Yves Chauvin e aos norte-americanos Robert H. Grubbs e Richard R. Schrock o Prêmio Nobel de Química em 2005. A metátese é uma reação química em que os átomos trocam de posição para gerar novos compostos. No caso das olefinas, esse processo transforma compostos com dupla ligação entre dois átomos de carbono com a ajuda de um catalisador. Com os estudos, os pesquisadores perceberam que é possível transformar um produto químico presente nas plantas em elemento essencial para a fabricação do composto que, no protetor solar, é o responsável por filtrar a luz e proteger a pele. Segundo Eduardo Nicolau, o uso da biomassa para a produção dos filtros solares faz com que o novo método seja ambientalmente mais amigável. “Além disso, surgirão novas oportunidades econômicas para os países tropicais onde essas plantas podem ser cultivadas”, afirma. No caso específico do protetor solar, a produção do filtro ocorre por meio da combinação de uma parte química extraída da anis estrela, planta cultivada em países tropicais, com elementos da indústria petroquímica. “Colocamos essas duas partes juntas e aí se tem o composto químico do filtro solar. Usando essa metodologia, o 4-octilmetoxicinamato, substância química que representa a parte ativa do filtro, é sintetizado mais facilmente. Sem contar que, quando diminuímos o uso de derivados do petróleo na fabricação de qualquer produto, o meio ambiente agradece”, sentencia o professor. Primeiro passo “A novidade é que no lugar de transformarmos a biomassa em produtos químicos usados em larga escala, mas de baixo valor agregado, propomos transformá-la em produtos de maior valor agregado, como fragrâncias e produtos de higiene pessoal". diz. Nicolau pondera, no entanto, que os estudos encontram-se em fase inicial, uma vez que as tecnologias não estão prontas para serem aplicadas em larga escala nas indústrias de filtros solares e cosméticos. “Mas demos início aos trabalhos que podem fazer com que ela seja futuramente usada nas indústrias. Com a substituição dos elementos de origem fóssil pela biomassa, reduzimos a emissão de gás carbônico e de rejeitos na fabricação. Isto pode resultar em uma tecnologia mais limpa e de menor custo global”, conclui Eduardo Nicolau. (Luana Macieira)
No Brasil, a biomassa tem uma posição de destaque na produção de combustíveis como o álcool e o biodiesel. Recentemente, ela vem assumindo importância crescente como matéria-prima para a indústria química. Eduardo Nicolau destaca que um aspecto inovador da pesquisa é o uso da biomassa em um campo onde sua atuação é incipiente.