Rap e repente ditam o ritmo do carnaval na UFMG

Sambas-enredo, marchinhas e música da Bahia. Os estilos que tradicionalmente compõem a trilha sonora do carnaval já são bem conhecidos. Já no Festival de Verão da UFMG os participantes são convidados a apreciar sons e ritmos incomuns para esta época do ano.

Na noite do domingo, dia 10, o Centro Cultural UFMG recebe o Rap de repentes, um duelo de MCs e de violeiros repentistas. Vinda de Recife, Pernambuco, a dupla Edmilson Ferreira e Antônio Lisboa aporta em Belo Horizonte para apresentar ao público do Festival a tradição da cantoria e do repente nordestino.

“Na cantoria de viola, não existe repertório. O cantador repete um tema pré-estabelecido, um mote, mas canta tudo de improviso. Se o público pede para cantarmos sobre amor, por exemplo, é claro que falamos de abraços, de carinho, sentimento. Mas, a cada vez que abordamos o tema, fazemos uma cantoria nova. Criamos no momento”, explica Antônio Lisboa.

Lisboa conta que existem mais de cem modalidades de cantoria, como sextilhas, mourões, oitavas, décimas. São formas básicas de estruturas poéticas que se subdividem em muitas outras, sem contar as variantes dentro da mesma métrica. “Cantamos sextilhas, mourões, martelo alagoano, martelo agalopado, martelo miudinho etc. E cantadores cantam o que o público mais pede: a saudade, o amor, a seca, os temas sociais”, detalha.

Juntos há 18 anos, Edmilson Ferreira e Antônio Lisboa já realizaram três turnês pela Europa. Os cantadores contabilizam 245 primeiros lugares nos tradicionais festivais de repentistas que acontecem país afora.

Em comum o improviso
Junto com os repentistas, vão se apresentar alguns expoentes de um movimento musical que tem ganhado cada vez mais relevância na cena cultural de Belo Horizonte: o Duelo de MCs.

Crédito: Rafael Vilela

Realizado desde 2007 sob o viaduto Santa Tereza, no centro de Belo Horizonte, o evento se tornou não só um polo para manifestações artísticas da cultura hip hop, como também uma referência para os debates que discutem a ocupação dos espaços públicos e a atuação da juventude. O evento reúne em torno de 1,5 mil pessoas no local a cada apresentação.

O professor Marcos Vinícius Bortolus, coordenador do eixo Projetos Especiais do Festival de Verão, explica que o rap e o repente dialogam pela característica comum de improvisação, um dos principais motes do Festival. “A ideia foi reunir dois estilos distintos de improvisação no mesmo palco. É uma maneira de valorizar as diferentes formas de improvisar”, diz, ele. “A presença dos MCs no Festival é o reconhecimento de uma cultura e de uma forma de expressão, o rap, como uma forma de improvisação criativa”, aponta Bortolus.

Duelo de MCs
O Festival de Verão receberá os MCs Monge, PDR, DIN e Ozléo. “No hip hop, os duelos entre MCs acontecem em diversos formatos, mas o mais comum é termos dois rounds de 45 segundos para cada MC, em um sistema de ataque e resposta”, explica MC Monge. No primeiro round, um MC ataca e seu adversário responde. No segundo, eles invertem os papéis. “No final, uma votação decide o vencedor daquele duelo”, conta.

Crédito: Rafael Vilela

Monge explica que os MCs farão uma brincadeira entre o freestyle, o improviso dos MCs no hip hop, e o improviso feito pelos repentistas. Antônio Lisboa destaca que, na apresentação da dupla, o público de Belo Horizonte também poderá conferir uma espécie de duelo. “Em Recife, chamamos de desafio. É algo que dura entre cinco e seis minutos, também uma modalidade de repente”, diz.

Dupla atua junta desde 1995 e já gravou mais de 30 CDs

Rap de Repentes: duelo de MCs e violeiros repentistas
Local: Centro Cultural UFMG: Avenida Santos Dumont, 174, Praça da Estação
Entrada: Gratuita, limitada à capacidade do auditório
Data: 10 de fevereiro
Horário: 19 horas
Duração: 120 minutos
Classificação etária: livre
Informações: (31) 3409-6411 (3409-8278 durante o evento) e festivalveraoufmg@gmail.com