Universidade Federal de Minas Gerais

Bruna Brandão/UFMG
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Laboratório pesquisa e reproduz etapas da produção do livro

Museu e laboratórios pesquisam e preservam artes e ofícios ligados ao impresso

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013, às 6h01

Tipografia, caligrafia, gravura, edição, ilustração, design, encadernação. As práticas e tradições que constituem o universo do livro são desenvolvidas há cerca de dois anos pelo Museu Vivo Memória Gráfica e pelo Laboratório de História do Livro, que reativam e atualizam técnicas, tradições gestuais e práticas socioculturais em torno do objeto-livro, que simboliza a cultura escrita.

Composto originalmente por acervo da Associação Memória Gráfica Tipografia e Escola de Gravura, o Museu Vivo recebeu também equipamentos da antiga gráfica da Escola de Arquitetura da UFMG. Abrigados pelo Centro Cultural UFMG, o museu e o laboratório viabilizam projetos de ensino, pesquisa e extensão dos cursos de Conservação e Restauração e de Bens Culturais Móveis, Ciência da Informação, Artes Visuais e Letras (ênfase em edição), além de projetos em áreas afins.

As atividades do parque gráfico – composto por cavaletes de tipos móveis, prelos tipográficos a ainda por uma impressora off-set do começo da segunda metade do século passado – contam com as habilidades do tipógrafo José do Monte, e também com o trabalho dos estagiários do curso de Artes Visuais.

As oficinas tipográficas do Museu recém-incorporaram uma linotipo, doada pelo designer e colecionador Flávio Vignoli, parceiro do museu em diversos projetos. Ao combinar o procedimento de composição ativado por teclado alfanumérico com o processo de fundição dos caracteres tipográficos, a linotipo permite a composição de uma linha inteira de texto em um só bloco de chumbo. A máquina é operada por Ilton Fernandes, antigo linotipista das oficinas do jornal Estado de Minas.

“Ficamos presos à banalidade instituída pelo hábito e esquecemos que o livro tem uma história, é uma máquina que se caracteriza por um modo de funcionamento e por um conjunto de tecnologias próprias”, afirma a professora Ana Utsch, da Escola de Belas-Artes, que idealizou e coordena o museu e o laboratório.

Percurso regressivo
Ana conta que, no Laboratório de História do Livro, as pesquisas seguem percurso regressivo, do século 19 ao século 15. “Conseguimos identificar elementos materiais, técnicos e estéticos recorrentes e outros que variam com mais frequência, e que podem ser relacionados com pontos de ruptura e de continuidade da tradição de produção do livro, a partir também dos modos de produção e distribuição”, explica a pesquisadora, que defendeu, no ano passado, tese sobre a encadernação do século 19, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, sob orientação de Roger Chartier.

Ana Utsch lembra que o século 19 trouxe grandes transformações geradas pelo aumento vertiginoso da produção. Os encadernadores, por exemplo, precisaram criar novas técnicas, ainda artesanais, mas capazes de acelerar o processo. Segundo ela, a pesquisa é pautada pela definição das formas pelas quais as convenções foram estabelecidas em diferentes períodos. “Procuramos compreender as maneiras como as práticas socioculturais se comunicam com o mundo do livro e como fixaram as diversas modalidades de produção e difusão”, salienta.

A organização do Laboratório da História do Livro foi baseada no conhecimento de materiais e ferramentas envolvidos na fabricação do livro em momentos diversos. O espaço foi equipado a partir de pesquisa fundada na Codicologia e na Bibliografia Material, disciplinas vinculadas à História do Livro. “Construímos modelos que revelam as formas de elaboração do livro por meio da fabricação de fac-símiles, estacionados em etapas específicas de produção”, descreve Ana Utsch.

O laboratório se dedica também a elaborar e a divulgar estruturas mais recentes, incluindo encadernações contemporâneas e modelos de conservação. Além de produzidas e expostas no laboratório, essas estruturas têm sido objeto de oficinas oferecidas ao público interno e externo à UFMG. Outra iniciativa vinculada ao espaço é o Gabinete do Livro, que promove mostras de edições especiais, como foi o caso das experiências como editor do poeta João Cabral de Melo Neto. O Museu Vivo Memória Gráfica e o Laboratório de História do Livro estão abertos à visitação.

Arte em sobretextos
As atividades desenvolvidas no Centro Cultural UFMG em torno da elaboração e da história do livro incluem produção editorial, dividida em três linhas. Entre os objetivos do projeto estão a utilização do parque gráfico e a prática de pesquisadores e estagiários. A coleção Sobretextos é composta de pequenos textos literários de domínio público, que refletem sobre o universo das artes do livro. A próxima publicação é a do capítulo 62 de Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, que conta uma visita do protagonista a uma tipografia em Barcelona.

Os Cadernos Técnicos, por sua vez, são dedicados à divulgação dos trabalhos de bibliografia material e bibliologia feitos por pesquisadores e estagiários e nas oficinas do Laboratório de História do Livro. “Nossa intenção é tornar pública a sistematização do trabalho, compondo um inventário material e técnico. Sentimos falta no Brasil desse tipo de publicação, contamos apenas com material importado, sem tradução”, justifica Ana Utsch. A terceira linha editorial tem a função de apoiar o Centro Cultural, por meio da produção de agendas de eventos, catálogos de exposições etc.

Arqueologia do impresso
“Apenas preservando a inteligência da cultura do códex poderemos gozar a ‘felicidade extravagante’ prometida pela tela”, escreveu Roger Chartier, um dos mais respeitados pesquisadores da história do livro. A frase poderia servir de lema para o Núcleo de Estudos da Cultura do Impresso (Neci), criado em 1999 na Escola de Belas-Artes (EBA).

“Nosso objetivo é refletir sobre as relações estabelecidas entre as diferentes formas de expressão – textuais, iconográficas e materiais – que constituíram a cultura do impresso. Para isso é fundamental a identificação das diferentes práticas socioculturais e das tradições gráficas e estéticas fixadas em torno da tipografia”, comenta a professora de gravura Daisy Turrer, uma das fundadoras do Neci e coordenadora até o início deste ano, quando passou o bastão para a professora Ana Utsch.

Um exemplo representativo do trabalho do Núcleo é o projeto Arqueologia do Impresso, que promoveu estudos do acervo da Biblioteca do Santuário do Caraça. Os professores Paulo Bernardo Vaz (Fafich), Eliana Mussi (Fale), Daisy Turrer (EBA) e Alexandre José Gonçalves (na época doutorando em História na Unicamp) se debruçaram sobre a coleção do século 16 para estudar as características paratextuais das obras naquele período, cerca de 100 anos depois da invenção da imprensa.

“Os livros dessa época encerravam na página de rosto os rastros precisos das diferentes modalidades de produção e de difusão do livro impresso no Antigo Regime, evidenciando a convivência das antigas práticas de mecenato, de privilégio (autorização) e de censura com as estratégias de difusão concebidas pelo editor-impressor. O acervo do Caraça não chega a ser grande, mas é muito significativo”, comenta Daisy Turrer.

Outro produto das investigações do Neci é um estudo comparativo de duas edições de Dom Quixote, uma do final do século 17 e outra do século 19. A primeira é ilustrada em gravura em metal, e a segunda, em litografia. Elas se prestam de forma exemplar à pesquisa em torno das mudanças paratextuais na construção do livro a partir do século 17. O trabalho será publicado em breve com o título D. Quixote: encenações tipográficas, organizado por Daisy Turrer e Eliana Muzzi.

A origem do Núcleo de Estudos da Cultura do Impresso remonta a 1997, quando a Imprensa Universitária ofereceu equipamentos antigos ao setor de gravura da Escola de Belas-Artes. Uma pequena oficina tipográfica foi instalada junto ao setor. “Não tinha capacidade para grandes edições, mas nos inspirou a criar o grupo de estudos”, relembra Daisy Turrer, mestre e doutora pela Faculdade de Letras da UFMG, onde pesquisou o livro como experiência de escrita.

Daisy acrescenta que foi contratado à época o tipógrafo aposentado Daniel Walter, para dar suporte técnico às atividades. “O apoio do tipógrafo operacionaliza as aulas, já que é preciso organizar os tipos, preparar as máquinas etc.”, ela justifica. Com a morte de Daniel, em 2006, e diante da dificuldade de encontrar outro profissional na área, o trabalho da oficina tipográfica ficou inviabilizado. Atualmente, os equipamentos estão sob responsabilidade dos professores Amir Brito e Mario Azevedo, que elaboram projeto de retomada das atividades da oficina tipográfica do Neci.

Ao longo dos anos, o Neci também promoveu exposições de arte tipográfica, seminários mensais conduzidos por professores de diferentes unidades acadêmicas, e elaborou oficinas para o Festival de Inverno da UFMG, coordenadas pelos professores Maria do Carmo Freitas, Tânia Araújo, ­Marcelo ­Drummond e Daisy Turrer.

(Itamar Rigueira Jr./Boletim 1809)

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