Muito usada na Índia, em cerimônias religiosas e casamentos, a folha da trepadeira betel teve comprovada a sua eficácia para o tratamento de infecções causadas por bactérias. A descoberta foi feita por uma equipe de pesquisadores do Brasil, Índia, México, Estados Unidos e Dinamarca e descrita em artigos publicados este ano nas revistas Plos One e Biology Integrative. As funções terapêuticas da planta já eram conhecidas pela medicina aiurvédica, ciência milenar indiana cujos princípios deram origem às medicinas chinesa, árabe, romana e grega. A medicina aiurvédica já utilizava a betel no tratamento de inflamações, dores de cabeça e problemas respiratórios. Porém, só agora houve a comprovação científica de sua real eficácia no tratamento das infecções bactericidas. “Realizamos testes em duas bactérias, a Corynebacterium pseudotuberculosis, que causa uma falsa tuberculose em caprinos e ovinos, e a Vibrio cholerae, causadora do cólera. Pela primeira vez, destrinchamos os compostos isolados das folhas da betel”, explica o professor Vasco Azevedo, do ICB, residente do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) e coordenador da equipe brasileira que participou do estudo. As análises de bioinformática e o sequenciamento do genoma das bactérias ficaram a cargo dos grupos comandados por Vasco Azevedo e pelo professor Artur Silva, da Universidade Federal do Pará (UFPA). A pesquisadora mexicana Nidia Leon-Sicairos foi a responsável por testes que comprovaram que alguns componentes das folhas de betel possuem fortes propriedades antibióticas. Além da descoberta, o estudo permitiu a realização de um apanhado histórico dos usos mais conhecidos da planta. Mais eficiente que a penicilina Para chegar a esses resultados, os pesquisadores usaram várias estratégias. Uma delas foi a técnica de genomas comparativos, que observa as diferenças e semelhanças estruturais de diferentes organismos. Segundo Vasco Azevedo, esse tipo de técnica é eficiente para conhecer a fundo a estrutura da planta em estudo. “Com essa comparação, observamos que as substâncias da folha de betel poderiam ser usadas para desenvolver remédios e até mesmo vacinas contra doenças provocadas por bactérias”, conclui. Artigos Exoproteome and secretome derived broad spectrum novel drug and vaccine candidates in vibrio cholerae targeted by piper betel derived compounds. Publicado pela revista Plos One e disponível aqui. Conserved host-pathogen PPIs Globally conserved inter-species bacterial PPIs based conserved host pathogen interactome derived novel target in C. pseudotuberculosis, C. diphtheriae, M. tuberculosis, C.ulcerans, Y.pestis, and E.coli target by piper betle compounds. Publicado pela revista Biology Integrative e disponível aqui. (Luana Macieira)
“Percebemos que os compostos do betel podem ser usados contra um espectro muito grande de bactérias, que inclui as causadoras de diarreia, cólera, peste bubônica e falsa tuberculose. Contra algumas doenças, as propriedades da folhas de betel se mostraram mais eficientes que certos antibióticos, como a penicilina", afirma o professor da UFMG.