Arquivo pessoal Em seu estudo, que compara dados dos censos do IBGE nos anos de 2000 e 2010 e considera indivíduos entre 25 e 65 anos que responderam aos questionários, Luiz Carlos Gama constatou que as transformações econômicas do Brasil na última década influenciaram a migração no país e que esse tipo de movimento interfere nos rendimentos e salários dos brasileiros. O pesquisador usou dois tipos de definição de movimento migratório: a migração normal, que consiste em mudar de cidade com os objetivos de trabalho e moradia, e a migração de retorno, quando o migrante sai e retorna à sua cidade de origem num prazo máximo de cinco anos. “A literatura da área defende que os migrantes são positivamente selecionados no país, ou seja, são mais bem remunerados que os não migrantes. Eu queria testar se essa afirmação era verdadeira, levando em conta as mudanças econômicas e sociais pelas quais o Brasil passou entre os anos 2000 e 2010, como a maior estabilidade econômica e o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho”, explica Luiz Gama. Segundo o pesquisador, o brasileiro que muda de uma cidade para outra alcança salários maiores porque costuma obedecer a um padrão: homem, de cor branca, jovem, residente em área urbana e com maior nível de escolaridade. “Como a migração é um investimento, a pessoa precisa ter um capital inicial para se mudar para outro lugar. E o branco, com maior nível de escolaridade, costuma dispor mais facilmente desse capital”, afirma o pesquisador. As análises feitas pelo economista mostraram que apenas uma dessas características que definem o padrão do migrante brasileiro sofreu alteração ao longo do período observado. “O brasileiro de cor branca continua migrando mais que o negro, mas a diferença entre eles diminuiu na migração em geral e, na migração de retorno, os negros ultrapassaram os brancos. Um dos possíveis motivos para isso é o aquecimento do setor de construção civil, que atraiu muita mão de obra do Nordeste, região que possui percentual mais elevado de pessoas que se autodeclaram negras nos censos do IBGE”, explica. Voltando para casa “Uma pessoa que deixa o Nordeste para fazer a vida no Sul e Sudeste agora tem incentivo para voltar, pois sua região de origem está mais desenvolvida e consegue oferecer os salários maiores que ele foi buscar fora de lá”, diz. Como a migração tradicional tem como efeito negativo a “fuga dos cérebros”, que é o abandono de uma região por seus profissionais mais qualificados, o pesquisador destaca, ainda, a importância do aumento da migração de retorno, uma vez que ela corrige tal distorção do movimento migratório. “A migração de retorno é um fenômeno importante para explicar alguns aspectos da economia e devemos dar a ela ênfase como política pública. Incentivar o migrante a voltar para aplicar seu conhecimento na sua cidade de origem é essencial para diminuirmos as disparidades entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste. A diferença salarial entre as regiões do país diminuiu e áreas onde houve crescimento da migração de retorno apresentaram também grande aumento da renda do trabalho”, analisa Luiz Carlos Gama. Fatores não mensuráveis “Coragem, desapego, habilidade e até mesmo saudade interferem no fluxo migratório. Uma pessoa que abandona sua cidade natal pode ter sua volta adiantada porque sentiu muita falta da família ou não se adaptou ao clima da nova cidade, por exemplo. Nem sempre o retorno ao lar tem a ver com fatores econômicos ou financeiros”, exemplifica. O pesquisador acrescenta a importância da influência familiar no momento da migração. Com o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, por exemplo, a necessidade de migrar em busca de uma vida melhor acaba diminuindo. “Se a mulher de um círculo familiar não trabalha, a decisão de migrar é do marido, ele vai e ela o acompanha. Quando está no mercado de trabalho, a mulher interfere na decisão a partir do momento em que possui um emprego na cidade onde a família mora e, por isso, talvez o investimento na mudança não seja tão interessante”, conclui. Dissertação: Migração e rendimentos no Brasil: análise dos fatores associados no período intercensitário 2000-2010 (Luana Macieira)
O migrante brasileiro é mais escolarizado e recebe salários superiores ao do brasileiro que não migra. Essa é a constatação central da dissertação de mestrado Migração e rendimentos no Brasil: análise dos fatores associados no período intercensitário 2000-2010, defendida pelo pesquisador Luiz Carlos Day Gama (foto) junto ao Programa de Pós-graduação em Economia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Face.
Apesar da diminuição em números absolutos dos migrantes brasileiros, a taxa de migração de retorno cresceu no país, passando de 967 mil, em 2000, para mais de um 1,3 milhão em 2010. Segundo Luiz Carlos Gama, essa mudança é reflexo das melhorias na qualidade de vida nas regiões Norte e Nordeste do país.
Apesar da comprovação de que fatores como escolaridade e idade interferem no fluxo migratório e, consequentemente, nos salários dos brasileiros, Luiz Carlos Day Gama destaca que outros fatores importantes, mas impossíveis de serem analisados, também agem sobre o movimento migratório no Brasil.
Autor: Luiz Carlos Day Gama
Orientadora: Ana Flávia Machado
Defesa: 15 de fevereiro de 2013