O coordenador do Centro de Estudos em Educação Superior, de Berkeley, falou também do Brasil – “o país e suas universidades de pesquisa são líderes mundiais em potencial” – e sobre consórcio internacional de instituições que busca aperfeiçoar a experiência dos estudantes. Quais são os principais conceitos e características do modelo de colleges nos Estados Unidos, e seus principais benefícios? Outro aspecto relevante é que o modelo americano de universidade de pesquisa abraçou os ideais da integração da pesquisa ao currículo de pós-graduação, e a necessidade de liberdade acadêmica de que a Alemanha foi pioneira. Mas adicionou a isso a inclusão da graduação como parte de uma comunidade acadêmica mais ampla, e o propósito primeiro da universidade passou a ser a mobilidade socioeconômica e o desenvolvimento econômico regional. E qual é a ideia básica dos colleges comunitários? Países como a China têm adotado modelos similares? Como têm sido essas experiências? Qual a sua visão do momento atual das universidades brasileiras? A variável-chave é a forma como o país vai lidar com a missão de criar um sistema de educação superior de massa. Se a opção for simplesmente continuar a sobrecarregar universidades federais e muitas das estaduais com rápido crescimento das matrículas, o país vai retardar significativamente seu caminho para a qualidade de sua educação superior. Se, por outro lado, a nação e os principais estados decidem repensar a situação atual e construir instituições alternativas, com missões distintas – como de ensino intensivo ou com foco vocacional –, conseguirão, de forma mais efetiva, fortalecer a rede de universidades de pesquisa de alta produtividade. O senhor coordena um consórcio de universidades de ponta, voltado para os estudantes. Quais são as motivações e as metas desse trabalho? Como funciona o trabalho do grupo? Ao mesmo tempo em que os dados obtidos compõem uma base sólida para o Consórcio, estamos compartilhando boas práticas em nossos esforços para aprimorar a experiência educacional dos estudantes, promovemos encontros e eventos, e estimulamos diversas formas de colaboração. As universidades de pesquisa enfrentam muitos desafios, e o nosso modelo, em que um grupo seleto de instituições gera dados e conversa sobre o que faz bem e o que precisa trabalhar melhor, tem se mostrado extremamente frutífero. (Itamar Rigueira Jr.)
Depois de participar, no início desta semana, de seminário que tratou de temas como a interdisciplinaridade em instituições americanas e brasileiras – promovido pela Reitoria e realizado pelo Ieat –, o pesquisador John Aubrey Douglass, da Universidade da Califórnia em Berkeley (na foto, extraída do portal da universidade) concedeu entrevista ao Portal UFMG em que aborda o sucesso do sistema universitário americano, baseado, entre outros aspectos, na ênfase dos colleges como provedores de formação que antecede a escolha da profissão e como vetores de desenvolvimento regional.
A partir do final do século 19, os colleges e um grupo emergente de universidades reconceberam a educação superior em uma série de aspectos. Em primeiro lugar, os Estados Unidos tornaram-se a primeira nação a estabelecer uma meta e atingir o ensino superior de massa. Além disso, desenvolveu-se a ideia de que os estudantes precisavam de exposição ampla a disciplinas novas e variadas, antes de se especializar em uma área ou profissão específica.
O foco das universidades de pesquisa no ensino, na pesquisa e no serviço público – essencialmente para atender as necessidades da sociedade – levou à criação de outros tipos de instituições que deveriam atender a demanda pública pelo acesso à educação superior. Isso inclui a ideia de college comunitário, que prevê um programa de dois anos e o acúmulo de créditos que permite ao estudante, por exemplo, transferir-se no terceiro ano para um campus como o de Berkeley. Os colleges comunitários também oferecem programas vocacionais e educação de adultos.
Essas são apenas algumas das características do sistema americano – a meta da educação superior de massa, instituições com missões diferentes, o sistema de transferência de créditos e o compromisso de apoiar mobilidade socioeconômica e desenvolvimento regional. Em suma, os Estados Unidos construíram uma rede de colleges e universidades ao longo de mais de 150 anos, e com tremendo sucesso. Levou muito tempo para criarmos sistemas consistentes de educação superior, organizados no âmbito estadual e com apoio limitado do governo federal. Recentemente, outros países, respeitando suas particularidades culturais e políticas, têm adotado aspectos desse sistema, com aumento dramático dos índices de resultados e impactos muito positivos sobre as economias regionais.
De modo geral, a China tem avançado muito não apenas em relação a acesso e índices de graduação, mas também no aperfeiçoamento de suas instituições. É um fenômeno muito recente – lembro que, no início dos anos de 1990, contavam-se nos dedos os programas de doutorado, em todo o país, e eram de qualidade duvidosa. Existem também restrições de ordem política e cultural que impõem grandes desafios ao sistema de ensino superior da China, além de restrições significativas quanto a liberdade acadêmica e grande fragilidade na qualidade da pesquisa, particularmente nas ciências sociais e humanas. Entretanto, considerando que a China tem percorrido longas distâncias e em alta velocidade, a história do país na educação superior é positiva, e terá influência importante na criação de uma sociedade mais aberta e igualitária.
O Brasil e suas universidades que realizam pesquisa de ponta são líderes mundiais em potencial, e com uma série de vantagens que muitas outras economias “em desenvolvimento” (incluindo outros membros dos Brics) não possuem. Refiro-me, por exemplo, ao compromisso com a liberdade acadêmica e a uma tradição de pesquisa acadêmica e educação profissional que promete levar a aumento significativo na produtividade em pesquisa e alta qualidade da pós-graduação.
O Student Experience in the Research University Consortium (Consórcio Experiência do Estudante na Universidade de Pesquisa), o Seru, reúne 23 universidades americanas de ponta, incluindo Berkeley, e agora nove instituições estrangeiras, como a Unicamp. Nosso objetivo é saber mais sobre quem são nossos alunos e melhorar suas experiências e os efeitos dessas experiências – para apoiar o que chamamos de uma cultura de aprimoramento pessoal entre os estudantes dessas instituições.
Cada instituição mantém uma equipe no Centro de Estudos em Educação Superior, em Berkeley, para administrar pesquisas com estudantes do primeiro ano de graduação. É um survey online que todos os estudantes devem responder e inclui questões gerais a respeito dos campi das universidades-membros e perguntas customizadas. Estamos gerando um rico banco de dados que as universidades utilizam para rever e aperfeiçoar programas acadêmicos, sistemas de admissão etc. Alguns dos tópicos sobre os quais estamos debruçados são efeitos de aprendizado, engajamento dos alunos em pesquisa, e suas expectativas e graus de satisfação.