Universidade Federal de Minas Gerais

Liberdade acadêmica e tradição de pesquisa são vantagens das universidades brasileiras, diz pesquisador de Berkeley

sexta-feira, 22 de março de 2013, às 5h50


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Depois de participar, no início desta semana, de seminário que tratou de temas como a interdisciplinaridade em instituições americanas e brasileiras – promovido pela Reitoria e realizado pelo Ieat –, o pesquisador John Aubrey Douglass, da Universidade da Califórnia em Berkeley (na foto, extraída do portal da universidade) concedeu entrevista ao Portal UFMG em que aborda o sucesso do sistema universitário americano, baseado, entre outros aspectos, na ênfase dos colleges como provedores de formação que antecede a escolha da profissão e como vetores de desenvolvimento regional.

O coordenador do Centro de Estudos em Educação Superior, de Berkeley, falou também do Brasil – “o país e suas universidades de pesquisa são líderes mundiais em potencial” – e sobre consórcio internacional de instituições que busca aperfeiçoar a experiência dos estudantes.

Quais são os principais conceitos e características do modelo de colleges nos Estados Unidos, e seus principais benefícios?
A partir do final do século 19, os colleges e um grupo emergente de universidades reconceberam a educação superior em uma série de aspectos. Em primeiro lugar, os Estados Unidos tornaram-se a primeira nação a estabelecer uma meta e atingir o ensino superior de massa. Além disso, desenvolveu-se a ideia de que os estudantes precisavam de exposição ampla a disciplinas novas e variadas, antes de se especializar em uma área ou profissão específica.

Outro aspecto relevante é que o modelo americano de universidade de pesquisa abraçou os ideais da integração da pesquisa ao currículo de pós-graduação, e a necessidade de liberdade acadêmica de que a Alemanha foi pioneira. Mas adicionou a isso a inclusão da graduação como parte de uma comunidade acadêmica mais ampla, e o propósito primeiro da universidade passou a ser a mobilidade socioeconômica e o desenvolvimento econômico regional.

E qual é a ideia básica dos colleges comunitários?
O foco das universidades de pesquisa no ensino, na pesquisa e no serviço público – essencialmente para atender as necessidades da sociedade – levou à criação de outros tipos de instituições que deveriam atender a demanda pública pelo acesso à educação superior. Isso inclui a ideia de college comunitário, que prevê um programa de dois anos e o acúmulo de créditos que permite ao estudante, por exemplo, transferir-se no terceiro ano para um campus como o de Berkeley. Os colleges comunitários também oferecem programas vocacionais e educação de adultos.

Essas são apenas algumas das características do sistema americano – a meta da educação superior de massa, instituições com missões diferentes, o sistema de transferência de créditos e o compromisso de apoiar mobilidade socioeconômica e desenvolvimento regional. Em suma, os Estados Unidos construíram uma rede de colleges e universidades ao longo de mais de 150 anos, e com tremendo sucesso. Levou muito tempo para criarmos sistemas consistentes de educação superior, organizados no âmbito estadual e com apoio limitado do governo federal. Recentemente, outros países, respeitando suas particularidades culturais e políticas, têm adotado aspectos desse sistema, com aumento dramático dos índices de resultados e impactos muito positivos sobre as economias regionais.

Países como a China têm adotado modelos similares? Como têm sido essas experiências?
De modo geral, a China tem avançado muito não apenas em relação a acesso e índices de graduação, mas também no aperfeiçoamento de suas instituições. É um fenômeno muito recente – lembro que, no início dos anos de 1990, contavam-se nos dedos os programas de doutorado, em todo o país, e eram de qualidade duvidosa. Existem também restrições de ordem política e cultural que impõem grandes desafios ao sistema de ensino superior da China, além de restrições significativas quanto a liberdade acadêmica e grande fragilidade na qualidade da pesquisa, particularmente nas ciências sociais e humanas. Entretanto, considerando que a China tem percorrido longas distâncias e em alta velocidade, a história do país na educação superior é positiva, e terá influência importante na criação de uma sociedade mais aberta e igualitária.

Qual a sua visão do momento atual das universidades brasileiras?
O Brasil e suas universidades que realizam pesquisa de ponta são líderes mundiais em potencial, e com uma série de vantagens que muitas outras economias “em desenvolvimento” (incluindo outros membros dos Brics) não possuem. Refiro-me, por exemplo, ao compromisso com a liberdade acadêmica e a uma tradição de pesquisa acadêmica e educação profissional que promete levar a aumento significativo na produtividade em pesquisa e alta qualidade da pós-graduação.

A variável-chave é a forma como o país vai lidar com a missão de criar um sistema de educação superior de massa. Se a opção for simplesmente continuar a sobrecarregar universidades federais e muitas das estaduais com rápido crescimento das matrículas, o país vai retardar significativamente seu caminho para a qualidade de sua educação superior. Se, por outro lado, a nação e os principais estados decidem repensar a situação atual e construir instituições alternativas, com missões distintas – como de ensino intensivo ou com foco vocacional –, conseguirão, de forma mais efetiva, fortalecer a rede de universidades de pesquisa de alta produtividade.

O senhor coordena um consórcio de universidades de ponta, voltado para os estudantes. Quais são as motivações e as metas desse trabalho?
O Student Experience in the Research University Consortium (Consórcio Experiência do Estudante na Universidade de Pesquisa), o Seru, reúne 23 universidades americanas de ponta, incluindo Berkeley, e agora nove instituições estrangeiras, como a Unicamp. Nosso objetivo é saber mais sobre quem são nossos alunos e melhorar suas experiências e os efeitos dessas experiências – para apoiar o que chamamos de uma cultura de aprimoramento pessoal entre os estudantes dessas instituições.

Como funciona o trabalho do grupo?
Cada instituição mantém uma equipe no Centro de Estudos em Educação Superior, em Berkeley, para administrar pesquisas com estudantes do primeiro ano de graduação. É um survey online que todos os estudantes devem responder e inclui questões gerais a respeito dos campi das universidades-membros e perguntas customizadas. Estamos gerando um rico banco de dados que as universidades utilizam para rever e aperfeiçoar programas acadêmicos, sistemas de admissão etc. Alguns dos tópicos sobre os quais estamos debruçados são efeitos de aprendizado, engajamento dos alunos em pesquisa, e suas expectativas e graus de satisfação.

Ao mesmo tempo em que os dados obtidos compõem uma base sólida para o Consórcio, estamos compartilhando boas práticas em nossos esforços para aprimorar a experiência educacional dos estudantes, promovemos encontros e eventos, e estimulamos diversas formas de colaboração. As universidades de pesquisa enfrentam muitos desafios, e o nosso modelo, em que um grupo seleto de instituições gera dados e conversa sobre o que faz bem e o que precisa trabalhar melhor, tem se mostrado extremamente frutífero.

(Itamar Rigueira Jr.)

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