Sintomas associados a uma síndrome descrita há mais de 70 anos correspondem, na verdade, a outra disfunção que requer tratamento específico. A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia a partir de análise do perfil de 93 pacientes acompanhados na Clínica de Dor Orofacial da Unidade Os resultados do estudo constam do artigo Stylohyoid complex ossification in temporomandibular disorder: a case control study, publicado no The Journal of Prosthetic Dentistry, em fevereiro deste ano. Descrita em 1937 pelo cientista W. Eagle, a Síndrome que leva o seu nome está associada à ossificação do ligamento estilohioideo, localizado na mandíbula e que exerce importante papel nos movimentos mastigação, abertura e fechamento da boca. Essa calcificação compromete algumas funções da mandíbula, pois deixa o ligamento rígido e parecido com um osso. “W. Eagle descreveu uma série de sinais e sintomas que ele associou à ossificação do ligamento estilohióideo, que faz parte da fixação do osso hioide. Nossa pesquisa constatou, no entanto, que esses sintomas estão, na maioria dos casos, relacionados à D-ATM [Disfunção da Articulação Temporomandibular], doença que atinge a articulação da mandíbula com o osso temporal e que é tratada de maneira diferente da Síndrome de Eagle”, explica o professor Evandro Abdo, um dos autores do estudo, que foi parte da dissertação de Mestrado em Estomatologia do aluno Francisco Carlos Sancio. Os 93 pacientes observados pelos pesquisadores procuraram atendimento devido às intensas dores na mandíbula e cabeça, além da sensação de zumbido nos ouvidos. As diferenças entre a Síndrome de Eagle e a D-ATM são sutis, o que fez com que, por muitos anos, sintomas da segunda fossem atribuídos à primeira. No caso da Síndrome de Eagle, os sintomas são associados à ossificação de um ligamento da mandíbula. Já a disfunção da articulação temporomandibular se manifesta por conta de problema nas articulações, envolvendo músculos mastigatórios e a oclusão dos dentes (posição das arcadas superior e inferior dos dentes). Para o professor Abdo, a dificuldade de estabelecer diagnósticos corretos para as duas doenças deve-se às semelhanças entre seus sintomas. “Quando W. Eagle descreveu a doença, sabia-se muito pouco sobre os transtornos da D-ATM. Por isso, toda pessoa que tinha sintomas de dores na mandíbula era automaticamente diagnosticada como portadora da Doença de Eagle e possuidora do ligamento estilohioideo calcificado”, explica o pesquisador, que também é diretor da Faculdade de Odontologia da UFMG. Reconhecer para tratar Na maioria dos pacientes em que o diagnóstico comprova a Síndrome de Eagle, o tratamento não é severo. Porém, em casos de ossificação avançada do estilohioideo, uma cirurgia se faz necessária para remover a parte calcificada. Em contrapartida, quando o diagnóstico for de D-ATM, o tratamento pode ser fisioterapia ou ajuste na oclusão dos dentes. Artigo: Stylohyoid complex ossification in temporomandibular disorder: a case control study. Publicado na revista The Journal of Prosthetic Dentistry, em fevereiro de 2013. Um resumo do artigo está disponível neste site. (Luana Macieira)
O reconhecimento preciso dos sintomas das duas doenças é essencial para que o paciente receba o tratamento adequado mais rapidamente, uma vez que a Síndrome de Eagle, no seu estágio mais avançado, pode causar travamento total da abertura da boca. “Quando ossifica totalmente, esse ligamento fica rígido e pode impedir o movimento da mandíbula”, explica Abdo.