Diferentemente do que alguns estudos têm afirmado, os jovens se interessam pelo bem comum e buscam se organizar – de formas muitas vezes alternativas, a partir de desconfiança com relação às instituições. Essa é uma das conclusões das pesquisas cujos resultados são revelados no livro Juventude e a experiência da política no contemporâneo (Contracapa), organizado pelos professores Claudia Mayorga e Marco Aurélio Prado, da UFMG, e Lucia Rabello de Castro, da UFRJ. “Encontramos formas de organização e atuação dos jovens que mostram como as instituições são ‘duras’, devido a lógicas e dinâmicas muito cristalizadas e prescritivas e que impedem participação diversificada”, explica Claudia Mayorga, do Departamento de Psicologia da Fafich. Segundo ela, como o pertencimento a sindicatos ou a espaços de reflexão nas escolas, por exemplo, exige determinado repertório linguístico e de desempenho, a experiência juvenil não é legitimada como discurso válido. “Assim, resta ao jovem o lugar do aprendiz ou do tarefismo exacerbado, traduzido como ‘protagonismo juvenil’. Por isso, a luta pelo direito de ir e vir na cidade e a denúncia de violência policial nas periferias apontam a possibilidade da relação entre juventude e política e mostram que os jovens reivindicam o reconhecimento como atores legítimos para participar da construção da sociedade”, afirma Mayorga, que integra o Núcleo de Pesquisa em Psicologia Política (NPP), da UFMG. Ainda de acordo com a pesquisadora, esse movimento tem sido expresso pela criação de outros espaços para problematização da sociedade e de formas híbridas de ação – que articulam cultura, política e vida cotidiana –, pela difusão de ações de mobilização em que o pedagógico e o político se associam e pela reinvenção permanente dos próprios jovens, com a valorização da experiência. A partir das experiências A investigação envolve parceria iniciada em 2005 por grupos de universidades federais (UFPE, UFSC e UFRJ, além da UFMG) interessados em discutir política a partir da experiência das pessoas e não apenas das estruturas. “Cada grupo partiu de duas hipóteses: a de que o distanciamento entre jovens e instituições poderia ser entendido como desconfiança por parte dos primeiros, e a de que ações decorrentes dessa desconfiança raramente são tomadas como atividades políticas, mas deveriam ser, pois questionam a organização das sociedades, o lugar da juventude e as formas da política como atividades por excelência do mundo adultocêntrico”, conta o professor Marco Aurelio Prado, também integrante do NPP. Na UFMG, o objetivo foi analisar práticas políticas diversas justamente para questionar as hipóteses levantadas e refletir sobre os eixos transversais instaurados pelo projeto nacional. Foram escolhidos grupos – jovens em sindicatos, no hip hop e aqueles que lutam pelos direitos ligados à diversidade sexual – com inserções institucionais, histórias e demandas muito diferentes. Autonomia dos sujeitos Os organizadores destacam ainda que a obra pretende questionar parâmetros para pensar a política na contemporaneidade e visões como a que classifica os sujeitos de forma simplista – os “preparados cognitivamente para a política” e os “desinteressados na política”. “Queremos mostrar que é possível expandir concepções para a compreensão do que se dá na contemporaneidade com as formas de participação da juventude”, conclui Marco Aurélio Prado. Livro: Juventude e a experiência da política no contemporâneo (Itamar Rigueira Jr. / Boletim UFMG, edição 1815)
Os capítulos do livro abordam pesquisas realizadas em Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Na UFMG, os estudos contaram com a participação do coletivo de hip hop Nóspegaefaz, da Comissão de Jovens da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais e do Grupo Universitário em Defesa da Diversidade Sexual (Gudds!).
“Nosso interesse é pelas diferenças. Se, por um lado, cada grupo possui preocupações centrais distintas, por outro, há uma transversalidade na noção de autonomia dos sujeitos que parece permear todas as ações”, explica Marco Prado.
Organizado por Claudia Mayorga, Marco Aurélio Máximo Prado e Lucia Rabello de Castro
Editora Contracapa