A discussão sobre a necessidade de se extrair dentes inclusos assintomáticos é frequente entre os dentistas. Enquanto uma corrente prega que eles não devem ser removidos, outra vertente defende sua retirada por razões preventivas. Esse segundo ponto de vista é defendido pelo grupo de professores da Faculdade de Odontologia UFMG que assina o artigo Um dente incluso assintomático deve ser removido?, publicado em dezembro do ano passado na Revista Gaúcha de Odontologia. No artigo, os pesquisadores observaram a importância da extração de dentes inclusos a partir de caso atendido em uma das clínicas da Faculdade de Odontologia. “Observamos um paciente de 58 anos que procurou a clínica para remover um siso incluso e assintomático, ou seja, que ainda não havia apresentado nenhum sintoma como dor, inchaço ou incômodo. Em um primeiro momento, decidimos realizar um controle do caso, acompanhando o paciente sem retirar o dente, uma vez que a extração colocaria em risco o primeiro molar ligado ao siso”, explica o professor Evandro Abdo, diretor da Unidade e um dos autores do artigo. Formação de cisto “Há essa crença de que os dentes assintomáticos não precisam ser removidos. Essa conduta é famosa na odontologia europeia, mas as escolas americana e brasileira já pregam a remoção profilática do siso incluso. No caso desse paciente, tivemos que retirar o dente posteriormente devido ao aparecimento de um cisto. Por isso, constatamos que a remoção deveria ter sido feita de forma profilática quando o paciente procurou a clínica pela primeira vez”, diz Abdo. Para o grupo de professores da UFMG, a remoção profilática, além de evitar problemas futuros, faz com que a cirurgia seja realizada em uma etapa da vida em que os pacientes apresentam menor incidência de doenças sistêmicas. “Numa faixa etária mais avançada, muitos pacientes já têm a saúde mais debilitada. Nesse caso, toda cirurgia pode trazer complicações. Por isso defendemos a extração do dente incluso ainda na juventude, que é quando a pessoa tem a imunidade mais forte e se recupera mais facilmente da cirurgia”, explica. Apesar da conduta de extração profilática do dente incluso já ser majoritária entre os dentistas brasileiros, o professor Evandro Abdo defende a necessidade de que casos clínicos comprovem a eficácia da medida. “Situações como essa nos dão a certeza de que casos assintomáticos devem ser acompanhados e tratados para que esses dentes não tragam problemas em uma fase mais avançada da vida”, conclui. Artigo: Um dente incluso assintomático deve ser removido? Publicado na Revista Gaúcha de Odontologia e disponível neste site (Luana Macieira)
No segundo ano de controle do paciente, foi diagnosticada a formação de um cisto no dente incluso e que não havia sido extraído no ano anterior. Segundo o pesquisador, esse cisto poderia trazer outros problemas, como infecções ou até mesmo a reabsorção do dente vizinho ao siso, afetando, assim, outras partes da arcada dentária.
Autores: Evandro Abdo, Marcelo Drummond Naves, Maria Cássia de Aguiar e Ricardo Mesquita