A obra é resultado de estudo do vocabulário da língua falada na zona rural de municípios do Vale do Jequitinhonha, desenvolvido a partir da coleta de dados feita no período entre 1980 e 2000, sob a coordenação de Carolina Antunes, professora aposentada da Fale. Alguns verbetes foram recolhidos em conversas com a população rural, em mercados e feiras; outros, extraídos de estudos sobre o Vale. Na tentativa de equilibrar a presença de todas as regiões do Jequitinhonha, foram necessários mais de dez anos para chegar ao produto final. De acordo com Carolina Antunes, a pesquisa considerou também dicionários da língua portuguesa, um conjunto de glossários de outras regiões do país, além de pesquisas afins. Com mais de mil verbetes, o dicionário não se limita a descrever o significado da palavra; ele contempla também todas as informações importantes à compreensão de cada verbete: traz o léxico, apresenta em negrito a forma como é pronunciada no Vale do Jequitinhonha, informa se está ou não dicionarizado, se é datado e se há informação quanto à etimologia. Outros sentidos “À preocupação de se registrar o uso efetivo do sistema linguístico nesse período e naquele local determinados subjaz o que se faz não só por gosto pessoal e interesse pela apreensão de saberes veiculados nas histórias locais e regionais, mas também, e principalmente, por acreditar na necessidade de que seja ampliada a visão de informações linguísticas e culturais da/na Língua Portuguesa com base na análise de uma variante linguística pouco considerada”, destaca a professora na apresentação da obra. Cultura oral Na avaliação da professora, a obra interessa aos especialistas em linguagem, mas também a qualquer pessoa leiga, uma vez que se destina à leitura, à divulgação e ao diálogo. “Projetos como esse promovem a cultura oral do Vale do Jequitinhonha e valorizam os saberes verbais”, justifica Carolina Antunes. A obra terá duas sessões de lançamento. A primeira, no dia 30 de abril, às 17h, em Belo Horizonte, no Centro de Memória da Faculdade de Letras (2º andar, ao lado da biblioteca), no campus Pampulha. O segundo evento está marcado para 8 de junho, também às 17h, em Diamantina, no anfiteatro da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, campus I. (Samuel Quintero/Boletim 1817) “Bom sem base é poder encontrar os amigos para um dedo de prosa. O candeeiro, o fifó ou a lamparina poderão alumiar e lhe mostrar o caminho.” Essa frase, composta de expressões comuns na cultura do Nordeste de Minas, exemplifica a variante linguística apresentada no Dicionário do dialeto rural no Vale do Jequitinhonha, que será lançado este mês no Centro de Memória da Faculdade de Letras da UFMG.
Segundo Carolina Antunes, nem sempre o sentido conferido ao verbete nas comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha coincide com o registrado pelos dicionários da Língua Portuguesa, sem contar que também há muitos verbetes inéditos. Em razão disso, para auxiliar na compreensão, todos os termos trazem algum exemplo concreto de uso, a partir das situações em que tais palavras e expressões foram empregadas nas comunidades.
O projeto está ligado às raízes e à trajetória acadêmica da autora, que saiu de Turmalina, cumpriu parte dos seus estudos em Diamantina e recebeu incentivo da Faculdade de Letras da UFMG – tanto durante a formação como na docência no ensino superior – para trabalhar com sua região de origem.