Universidade Federal de Minas Gerais

Márcio Nehemy
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Imagem mostra a localização da retina no fundo do olho

Professor da UFMG participa de estudo internacional que validou uso de medicamento para retina

segunda-feira, 29 de abril de 2013, às 5h51

Um novo medicamento capaz de tratar várias doenças da retina teve sua etapa de testes realizada na UFMG. Desenvolvida em parceria com institutos e universidades do mundo todo, envolveu seis pacientes selecionados para tratamento no Hospital São Geraldo, coordenado pelo médico e professor Márcio Nehemy, do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG .

O medicamento, cujo princípio ativo é o aflibercepte, tem ação antiogênica, ou seja, atua na inibição do crescimento de vasos sanguíneos anormais nos olhos. “Esses vasos são a causa de doenças na retina como a retinopatia diabética e a degeneração macular. A grande novidade é que o novo medicamento, além de barrar o avanço da doença, é capaz de restaurar a visão perdida. Ele consegue restaurar a retina que foi prejudicada, algo que os tratamentos anteriores não eram capazes”, explica o professor.

A retinopatia diabética e a degeneração macular estão entre as maiores causas de cegueira no Brasil. Enquanto a primeira atinge apenas os diabéticos, a segunda incide sobre pessoas com mais de 50 anos que possuem predisposição genética.

Segundo Márcio Nehemy, o alto índice de diabéticos no país faz com que a retinopatia diabética ganhe lugar de destaque nas pesquisas dos institutos de referência em oftalmologia nos Estados Unidos, Europa e Brasil.

“A UFMG é referência em pesquisas no campo da oftalmologia, por isso sempre participamos de testes e grupos de pesquisa internacionais", destaca o professor, acrescentando que, se não for tratada, a retinopatia diabética, que acomete 40% dos diabéticos, pode causar cegueira total. "Com uma incidência tão grande, o desenvolvimento de novos medicamentos e tecnologias de tratamento é essencial”, diz o professor.

No organismo dos portadores de retinopatia diabética, o açúcar não é metabolizado de maneira adequada. Em excesso, essa substância pode lesionar os vasos sanguíneos da retina, que está localizada no fundo do olho e é responsável pela captação de luz.

Já a degeneração macular, apesar de raramente causar cegueira completa, é a principal causa de cegueira legal do mundo ocidental. Pessoas com cegueira legal são aquelas incapazes de trabalhar devido ao problema de visão. A doença atinge cerca de 20% dos idosos com mais de 70 anos.

Diagnóstico precoce
Se os tratamentos anteriores não eram capazes de restaurar a visão perdida com a retinopatia diabética e a degeneração macular, o novo medicamento permite a recuperação ou estabilização da visão, quando o tratamento é realizado precocemente.

“O medicamento consegue recuperar a visão perdida em um terço dos casos. O tratamento das duas doenças da retina era, na maioria das vezes, feito por meio de aplicações de laser, até 2005. A partir daquele ano, iniciou-se o tratamento com medicamentos antiangiogênicos injetados dentro dos olhos. Havia necessidade, entretanto, de injeções mensais para controlar essas doenças. Com o novo medicamento antiogênico, as injeções podem ser feitas a cada dois meses, o que diminui o custo e aumenta o conforto e a segurança dos pacientes”, explica Nehemy.

O diagnóstico precoce também é importante para que o tratamento foque na paralisia do avanço da doença, e não na recuperação da visão perdida. Como a retinopatia diabética pode demorar a ser notada pelo doente (ele pode estar com a doença, mas enxergando normalmente), o professor Nehemy destaca a importância do controle da glicose e do exame oftalmológico periódico nos diabéticos.

“A degeneração macular está relacionada à idade e tem predisposição genética, que obviamente não podem ser prevenidas. Mas a retinopatia diabética pode facilmente ser evitada. Os diabéticos devem fazer exames de fundo de olho com o oftalmologista frequentemente. Pessoas que não possuem nenhum problema de visão também devem, a cada três anos, visitar o oftalmologista. Depois dos 50 anos, essa visita deve ser a cada dois anos ou até mesmo anual”, aponta.

Além de visitas frequentes ao oftalmologista e do controle da glicose por parte dos diabéticos, o tabagismo, o colesterol alto e a obesidade também devem ser evitados, uma vez que contribuem para o aparecimento de doenças na retina.

Saúde pública
Para Márcio Nehemy, a cegueira é um problema de saúde pública que ainda afeta muitos brasileiros. “O indivíduo que perde a visão tem grande perda da qualidade de vida, além de não poder trabalhar. Ele é, assim, forçado a se aposentar e passa a precisar de suporte emocional e financeiro. Isso traz gastos para o governo e para o próprio paciente, uma vez que alguns tratamentos, como o aflibercepte, ainda não estão disponíveis na rede coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS)."

O aflibercepte já está em uso na Europa e Estados Unidos há quase um ano. Depois da recente aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), passou a ser usado no Brasil, mas ainda restrito à rede privada de saúde.

“O impacto na vida de uma pessoa que fica cega é enorme. Ela fica abalada emocionalmente, e mais propensa à depressão. Um medicamento novo que consiga desenvolver a visão para essas pessoas é uma conquista que merece ser comemorada. Daí nossa nova luta para que este remédio seja logo disponibilizado pelo SUS”, conclui Nehemy.

(Luana Macieira)