Junia Mortimer |
A UFMG, que aprovou em 2009 sua Resolução de Uso e Ocupação do Solo, a partir de plano diretor concebido há mais de dez anos, continua discutindo uma série de questões e buscando aprimorar seus campi e as relações territoriais com as cidades em que eles estão inseridos. Debates e iniciativas, coordenados pelo Departamento de Planejamento Físico e Projetos (DPFP), confirmam a tradição de planejamento da UFMG – na década de 70 a instituição foi referência apontada pelo MEC – e evidenciam parceria estreita, nessa área, da administração central com pesquisadores de áreas diversas, como arquitetura e engenharia. “O setor de planejamento tem a obrigação e a vocação de pensar a Universidade, e nada mais coerente com isso que a colaboração com a pesquisa desenvolvida na instituição”, comenta o professor da Escola de Arquitetura Carlos Alberto Maciel, coordenador de projetos do DPFP. Com relação ao campus Pampulha, o crescimento da população nos últimos anos – em função da implantação de novos cursos e vagas e da transferência recente de unidades como a Engenharia e a Face – e a chegada iminente da Faculdade de Direito e da Escola de Arquitetura provocam os gestores a respeito de temas como a circulação de veículos, a oferta de serviços, a gestão das áreas verdes, a integração com as áreas externas e o compartilhamento de espaços. Ainda na Pampulha, uma ideia em gestação é a de ampliar e diversificar a oferta de serviços. A praça atual é considerada insuficiente, também porque não serve bem a unidades distantes. “Uma alternativa que permitiria descentralizar os serviços seria a construção de uma segunda praça de serviços mais próxima à Veterinária, Odontologia e Educação Física, que poderia inclusive atender a um eventual crescimento da demanda caso as unidades do campus Saúde – Medicina e Enfermagem – decidam transferir-se para o campus Pampulha”, anuncia o coordenador de projetos do DPFP. Uma das maiores preocupações na área do planejamento físico é a integração com o entorno urbano. E uma primeira medida imaginada nessa direção seria a abertura de trechos da divisa do terreno do campus Pampulha. A avenida Abrahão Caram, por exemplo, que não tem o trânsito pesado de uma via de ligação regional, admitiria o que Maciel chama de “frente amigável”. “É preciso repensar aquela área de contato com a cidade, para propiciar maior permeabilidade do território da Universidade e conectividade com o espaço público, fazendo do campus uma extensão dele”, afirma o professor, acrescentando que esse tipo de medida tem a vantagem adicional de distribuir melhor o fluxo de entrada e saída. Maciel admite que a ideia implica medidas relacionadas à segurança, como a melhoria da iluminação e a intensificação do monitoramento dos espaços, mas enfatiza que vale a pena estudar o assunto. E lembra que um debate vinculado ao da segurança é o da qualificação, sob diversos aspectos, para o uso noturno dos campi, urgente em função da recente multiplicação dos cursos nesse período. Colaboração com pesquisadores bem conhecida da comunidade acontece em torno das questões de circulação. Promoção da acessibilidade e estímulo às formas de transporte não motorizado são iniciativas que já estão em andamento. Para diminuir o fluxo de veículos, a comunidade precisará discutir, de acordo com Maciel, a implantação de ciclovias integradas a plano da prefeitura para a região e a cobrança de estacionamento – que ao mesmo tempo geraria receitas para a manutenção e qualificação das áreas livres e a implantação da infraestrutura adequada para o transporte não motorizado, além de inibir o uso do carro para acesso ao campus. História e perspectivas “A obra registra os diversos tempos em sequência, desde a fase das unidades isoladas na cidade até a atualidade, passando pela idéia de edifícios complexos, de grande escala, que integrariam diversas unidades acadêmicas na Pampulha – concretizada em parte no caso do complexo que reúne Fale, Fafich e Ciência da Informação –, construídos no sistema modular”, descreve Carlos Alberto Maciel, um dos organizadores do livro, que é fartamente ilustrado e aborda ainda os projetos Campus 2000 e Campus 2010. Capítulo assinado pela arquiteta Renata Siqueira, diretora do Departamento de Planejamento Físico e Projetos, apresenta propostas para os planos diretores dos campi da Universidade com foco no planejamento voltado para aspectos como ocupação de territórios e parâmetros urbanísticos comprometidos com a qualidade ambiental. No campus Saúde, a prioridade é a requalificação dos espaços livres, em busca de melhorias direcionadas, a princípio, à população mais fragilizada, mas que beneficiariam todos os usuários. Para Montes Claros, o objetivo é estabelecer parâmetros que considerem o crescimento acelerado. “Há muitas áreas a serem ocupadas, e já não predomina a característica de fazenda do Instituto de Ciências Agrárias”, observa Renata. Ela informa que a Universidade discute também a possibilidade de que a fazenda em Pedro Leopoldo possa se transformar, a longo prazo – e tendo em vista que a Pampulha se aproxima do seu limite –, em um novo campus. Co-organizadora do livro, e coordenadora do processo de elaboração do plano diretor e do projeto Campus 2000, a professora Maria Lucia Malard cita como um marco a parceria iniciada em 1998 entre a escola de Arquitetura e a administração da UFMG. “A interação para o encaminhamento das questões do campus Pampulha foi muito frutífera, para as duas partes. Principalmente na área de projetos, qualificou e arejou a prática docente; por outro lado, os pesquisadores deram enorme contribuição dos pontos de vista metodológico e tecnológico, inovando nas soluções para os problemas. Esse é o modelo que se deve buscar sempre”, afirma Maria Lucia. (Itamar Rigueira Jr.)
Esse é o espírito do seminário Planejamento físico de campi, que acontece esta tarde na Pampulha, e do livro Territórios da universidade: permanências e transformações (organizado pelos professores Maria Lucia Malard e Carlos Alberto Maciel), que será lançado após o encerramento do evento.
A rica história do planejamento físico da UFMG é contada em detalhes no livro Territórios da universidade: permanências e transformações, que também aborda o presente e o futuro. Textos de época se unem a artigos recém-produzidos e revelam, por exemplo, que há 30 anos já se discutia a inserção do território do campus Pampulha no contexto urbano, e como atenuar o seu isolamento.