Isabella Lucas/UFMG |
O Rio de Janeiro recebe, a partir de hoje, a 22ª Conferência Internacional da World Wide Web, a WWW2013. É a primeira vez que um país da América Latina sedia a conferência, uma espécie de Copa do Mundo para os pesquisadores, empresários e profissionais que atuam na área. A UFMG tem participação decisiva na organização do evento. Um de seus coordenadores gerais é o professor Virgílio Almeida, do Departamento de Ciência da Computação (DCC) e secretário de Políticas de Informática do Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação. Seu colega de DCC, Alberto Laender, coordena os workshops do evento. “A WWW é uma conferência de muito prestígio, o que prova que a comunidade da área confia na capacidade e competência dos brasileiros”, diz Laender, em entrevista ao Portal UFMG. Segundo ele, a UFMG terá oito trabalhos apresentados na conferência, dois no evento principal e seis nos workshops. Todos são resultado de pesquisas desenvolvidas no âmbito do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Web (InWeb), com sede no DCC. Qual a importância de o Brasil sediar um evento desse porte? Como a UFMG está participando da WWW2013? Quais os principais temas da conferência? Como o crowdsourcing muda a maneira de se usar a internet? Luis Von Ahn vê a internet como um modo de compartilhar conhecimentos. Ele é o criador do DuoLingo, projeto que permite que as pessoas aprendam idiomas pela internet. Nesse caso, todo o processo de ensino e tradução é feito via crowdsourcing, ou seja, pessoas anônimas se oferecem para traduzir os conteúdos das aulas para a língua de seus países, de forma totalmente colaborativa. Como muito do conteúdo da web é em inglês, projetos via crowdsourcing podem tornar a rede mais acessível. O Brasil é um dos países com maior número de usuários da internet no mundo. Como a internet chegou ao país? Por que nossa conexão é tão cara? Seria este o motivo da demora para a implantação do sistema 4G no país? Como o Brasil pode aumentar o número de pessoas com acesso a uma conexão com mais qualidade e velocidade? Qual a importância de aumentar esse acesso dos brasileiros a uma internet melhor? (Luana Macieira)
Este é um dos principais eventos do mundo relacionados à web. Recebê-lo é como sediar a Copa do Mundo ou as Olimpíadas. A WWW é uma conferência de muito prestígio, o que prova que a comunidade da área confia na capacidade e competência dos brasileiros. Os pesquisadores brasileiros sempre participaram do evento e estamos entre os maiores usuários da internet no mundo, além de termos infraestrutura de rede muito organizada. Por isso tudo, temos muito orgulho pela conquista do direito de organizar a WWW2013.
A UFMG tem professores participando diretamente da organização do evento, além de trabalhos aceitos para apresentação na conferência principal, nos workshops e nas competições. Hoje, temos o principal programa de pós-graduação em computação do Brasil, que tem, entre as suas característica mais importantes, a interação com a iniciativa privada, por meio de parcerias e projetos com empresas, e a criação de startups. A própria Google está hoje em Belo Horizonte por ter adquirido uma startup nascida na UFMG e por causa do potencial tecnológico da Universidade, que fornece mão de obra altamente qualificada.
Temos a conferência principal e os workshops, que discutem assuntos mais pontuais. Os temas variam desde aqueles mais tradicionais relacionados à web, até assuntos mais inovadores e recentes, como as redes sociais e as novas mídias. Um dos destaques do evento central é a palestra do professor da Cornell University Jon Kleinberg. Ele vai fazer uma análise temporal da Web, abordando a evolução da rede e do uso que seus usuários fazem dela. Outra palestra de destaque será a do pesquisador Tim Berners-Lee, criador da Web, que vai abordar o desenvolvimento da internet acessível a todos, em todas as partes do mundo. Outro tema importante, também com abordagem prevista para a conferência principal, é o crowdsourcing.
Crowdsourcing é usar a massa crítica que acessa a internet para fazer algo. É quando se vale de uma gama enorme de pessoas para realizar uma campanha, ajudar num processo de doação de sangue ou reunir pessoas para protestar, por exemplo. A Primavera Árabe é um grande exemplo da força do crowdsourcing. As pessoas, via Twitter e outras redes sociais, se organizaram para protestar contra regimes de governo. O crowdsourcing será tema da palestra ministrada pelo pesquisador Luis von Ahn, professor na Carnegie Mellon University.
A internet nasceu nos Estados Unidos e, como tudo que aparece repentinamente, surgiu de forma um pouco desorganizada. No Brasil, ela já chegou mais organizada. Aqui todos os sites são “.br”, o que mostra uma organização da infraestrutura de forma muito mais clara. Nosso maior problema é a questão da velocidade e do preço do acesso à internet.
O alto preço da internet está relacionado aos investimentos do governo e das operadoras. Há uma pressão das operadoras que cobram caro para aumentar a qualidade dos serviços e certo monopólio das mesmas. Os investimentos do governo existem, mas não na mesma velocidade que caracteriza a evolução da internet. Talvez por isso as coisas demorem um pouco mais para chegar ao Brasil. É necessária maior colaboração entre governo e operadoras para que as novas tecnologias sejam introduzidas mais rapidamente e a custo mais acessível.
O 4G já está em amplo funcionamento em alguns países. Essa tecnologia é boa por ser mais rápida, mas não temos ainda muita certeza de qual será o custo para o usuário brasileiro. Ela é muito importante para grandes eventos como a Copa do Mundo. Primeiro, porque receberemos visitantes acostumados a uma internet mais rápida. Em segundo lugar, os veículos de imprensa que estarão aqui precisarão de uma boa velocidade de dados para conseguir transmitir o evento para seus países de origem. O 4G é mais veloz, tem banda maior e provê maior disponibilidade de acesso a um número maior de usuários.
Há dois pontos sobre essa questão. O primeiro é a disponibilidade de uma infraestrutura para que as pessoas tenham acesso à internet. Isso seria o básico para permitir que mais pessoas se conectassem à rede, mas não é o bastante. Outro ponto é que os dispositivos como smartphones, por exemplo, sejam mais acessíveis. Hoje qualquer pessoa tem um celular, um aparelho básico para fazer ligações. Mas para que fiquem conectadas, as pessoas precisam de aparelhos que tenham acesso à internet. O poder aquisitivo das pessoas melhorou, mas o custo desses dispositivos ainda é muito alto. Esse custo precisa diminuir para que mais pessoas possam se conectar à internet por meio de telefones celulares.
A internet precisa estar nos lugares. A infraestrutura precisa chegar aos locais públicos, às escolas e bairros de periferia. A inclusão é importante porque hoje não se vive sem internet. Os jovens de hoje já nasceram no meio digital e não imaginam a vida sem a rede. A internet amplia a visão do mundo, pois permite ver coisas que não estão por perto, abre um novo mundo para o usuário. Ali ele pode aprender coisas novas, fazer um curso online, se comunicar. Guardadas as devidas proporções, uma pessoa que passa a ter acesso à internet é como um iletrado que aprende a ler e escrever. É a possibilidade de um novo mundo, daí a importância da inclusão digital.