Universidade Federal de Minas Gerais

Ilustração do livro O trabalho do fogo
Figura_2.png
Prancha de Debret mostra típica família escravista e urbana

Professor da Face propõe em livro nova classificação para domicílios mineiros da primeira metade do século 19

quinta-feira, 6 de junho de 2013, às 5h49

A definição de família nas Minas Gerais da primeira metade do século 19 não coincide com o entendimento atual. A unidade domiciliar era um universo mais amplo, que incluía parentes mais distantes, empregados e escravos, reunidos em torno de uma atividade produtiva. Mas esse aspecto não vem sendo devidamente considerado pelas formas convencionais de classificação e estudo das unidades domésticas. No livro O trabalho do fogo: domicílios ou famílias do passado – Minas Gerais, 1830 (Editora UFMG), o professor Mario Marcos Sampaio Rodarte, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), propõe uma nova tipologia.

“A formação dos domicílios na época era orientada sob outra lógica. Havia os motivos que conhecemos hoje, e mais a necessidade de manter a unidade operando economicamente”, explica Mario Rodarte, que é pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar). Ele lembra que, não por acaso, as pessoas da época se preocupavam mais com as famílias que com indivíduos, e que as estatísticas refletiam essa hierarquia, ao privilegiarem o levantamento do número de fogos (as famílias ou domicílios), em vez de habitantes.

A pesquisa a partir de dados censitários relativos a 84 mil famílias (cerca de meio milhão de pessoas) considerou mais de 30 variáveis, cuja combinação gerou quatro perfis de domicílios, definidos basicamente pela inserção da atividade do chefe: escravistas, camponeses, artesãos e assalariados.

Escravos e agregados
O fogo escravista (21,6% dos recenseados) era geralmente dedicado à mineração, ao comércio de longa distância ou à agricultura de exportação. Chefiado por um homem branco, cercado de muitos parentes, esse domicílio reunia também muitos escravos e os chamados agregados, que eram empregados com certa autonomia, mas também considerados membros do grupo.

O domicílio camponês (24,3%), por sua vez, se assemelha mais, em termos numéricos, aos atuais – normalmente um casal de cor parda com cerca de quatro filhos, vivendo em torno da agricultura de subsistência e do comércio vicinal. A terceira modalidade mais comum (12,5%) era formada pelos autônomos. Essas famílias foram chefiadas quase sempre por mulheres, com ou sem filhos, e dedicadas a artesanatos diversos. Residentes em núcleos urbanos, tais famílias davam vida às cidades e vilas de Minas.

O quarto e último tipo era bem menos comum, mas importante, de acordo com Mario Rodarte, exatamente por sua distinção. “Um grupo típico entre os assalariados era composto por escravos alforriados, de idade mais avançada, que faziam trabalhos para os quais os escravos não eram apropriados. Nas fazendas do Norte de Minas, por exemplo, quem cuidava da criação extensiva do gado ficava longe dos proprietários e feitores”, explica o autor. Ainda segundo Rodarte, essas famílias viviam à beira da indigência e, por isso, quase não eram notadas por viajantes estrangeiros e memorialistas.

O pesquisador, que teve seu trabalho reconhecido pelo Grande Prêmio Capes de Teses em 2009, ressalva que os quatro tipos de fogos representam a sociedade da época, “mas não contam toda a verdade”. O emprego do método denominado Grade of Membership, ou GOM, gerou a classificação de famílias intermediárias, em que os aspectos mais definidores “se combinam de forma peculiar e harmoniosa”. E ele cita exemplos: “Muitas vezes, com a morte de um dono de escravos, sua família se mudava para a cidade, se desfazia de parte de seu plantel de escravos e assumia formas da família artesã. Outro caso é o de autônomos estabelecidos em sítios próximos aos povoados, que usavam escravos ‘de segunda mão’, mais baratos, e que desenvolviam atividades agrícolas para o abastecimento urbano local”.
Diversidade e posição geográfica

O censo realizado em Minas Gerais nos primeiros anos da década de 1830 é objeto de estudo do professor Mario Rodarte desde a iniciação científica, na graduação. Ele ressalta que o estado era muito representativo do país em vários aspectos, do número de habitantes – 20% da população brasileira – à diversidade e à posição geográfica, que confere proximidade com todas as outras regiões. “Além disso, Minas soube não apenas gerar, mas também conservar seus documentos, por meio sobretudo do Arquivo Público Mineiro”, ele enfatiza.

Para Rodarte, que integra o Núcleo de Pesquisa em História Econômica e Demográfica, os estudos da família devem considerar o contexto histórico e as relações com a economia e a ocupação do território. “As famílias ajudam a conhecer os personagens e características dessa ocupação, e vice-versa”, afirma o autor, que aproveita para ressaltar desdobramentos de seu estudo, como o reforço da ideia de que Minas não se abateu com o declínio da exploração do ouro, mas soube diversificar sua economia e ocupar de forma acelerada e eficiente regiões como o Triângulo e a Zona da Mata.

Livro: O trabalho do fogo: domicílios ou famílias do passado – Minas Gerais, 1830
De Mario Marcos Sampaio Rodarte
Editora UFMG
277 páginas / R$ 42 (preço sugerido)

(Itamar Rigueira Jr.)


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