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O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, o vice-reitor da Universidade Independente de Angola, Filipe Zau, e o reitor da Universidade do Algarve, Portugal, João Guerreiro, debateram ontem os processos de inclusão e de avaliação de ensino superior. A mesa foi realizada no auditório do CAD1, no campus Pampulha. Segundo o vice-reitor da Universidade Independente de Angola, Filipe Zau, a educação vem sofrendo consequências da acelerada mutação em que o mundo se encontra. Entre elas, um baixo nível de conhecimento entre estudantes que se formam, aumento do analfabetismo funcional e do número de pessoas despreparadas para conseguir o primeiro emprego e o crescimento da automação, que substitui funcionários pouco qualificados. Ele relatou que na África o ensino superior ainda enfrenta problemas como a escassez de recursos financeiros destinados ao ensino e à pesquisa, a remuneração insuficiente para o corpo docente, o desequilíbrio entre capacidades instaladas, o aumento do número de estudantes e a falta de adequada formação de professores, além da volumosa dívida externa. Todos esses fatores, na avaliação de Zau, além de dificultar o acesso ao ensino superior, ainda faz com que grande parte dos profissionais formados na África migrem para países mais desenvolvidos, que oferecem mais recursos e condições de trabalho. Para completar, a seleção para ingresso no ensino superior em países como a Angola, segundo o vice-reitor, é permissiva e desqualificada. “Precisamos andar depressa, mas andar bem, com qualidade, e isso não é fácil. É preciso entender que as universidades são fundamentais para a formação de governos de países em desenvolvimento, pois não se constrói um edifício começando pelo telhado”, afirmou Filipe Zau, citando o economista Adelino Torres. Democratização A discrepância entre o acesso de jovens ricos e pobres ao ensino superior revelava que a universidade brasileira era extremamente elitizada. Em 1997, apenas 0,5% dos 20% mais pobres estavam no ensino superior, enquanto 22,4% dos 20% mais ricos cursavam uma graduação. Em 2011, 4,2% dos 20% mais pobres do país já tinham acesso ao ensino superior. Em relação aos negros, esse percentual subiu de 2,2% para 10,7% entre 1997 e 2011. “Caminhamos em direção a uma educação mais democratizada mas, apesar dos avanços, temos ainda um grande desafio”, reconheceu o presidente do Inep. Em números absolutos, a quantidade de estudantes no ensino superior passou de 1,5 milhão, no final dos anos 1990, para 6,7 milhões na década seguinte. Para viabilizar esse salto, o governo federal atuou em várias frentes: uma delas foi a implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que tem como objetivo garantir o acesso e a permanência na educação superior por meio do aumento de vagas nos cursos de graduação, da ampliação da oferta de cursos noturnos e do combate à evasão. Outra ação foi a criação dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia, centros de educação superior, básica e profissional especializados na oferta de formação profissional e tecnológica. Outra frente é o sistema Universidade Aberta do Brasil, integrado por instituições públicas que oferece, por meio do uso da metodologia da educação a distância, cursos de nível superior para camadas da população com dificuldades de acesso à formação universitária. A prioridade do programa, que conta com 250 mil alunos matriculados, é a formação de professores para a educação básica. Luiz Cláudio Costa ressaltou que, além da ampliação do número de vagas oferecidas, a forma de acesso ao ensino superior também precisa ser inclusiva, o que motivou a criação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “O vestibular tradicional tem uma lógica perversa, uma vez que limita os candidatos a concorrerem a vagas em uma, talvez duas universidades. Com o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que utiliza o Enem, os candidatos concorrem, em números atuais, a 130 mil vagas, divididas em 3,7 mil cursos de 101 universidades de todo o Brasil”, salientou. Este ano, o Enem registrou recorde de inscrições, totalizando 7,173 milhões de inscritos. No ano passado, a prova do Enem foi aplicada em 1.612 municípios brasileiros. Em relação à avaliação e controle de qualidade, o governo federal criou o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que analisa as instituições, os cursos e o desempenho dos estudantes. O processo de avaliação leva em consideração aspectos como ensino, pesquisa, extensão, responsabilidade social, gestão da instituição e corpo docente. O Sinaes reúne informações do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e das avaliações institucionais e dos cursos. “O sistema oferece indicadores de qualidade muito claros. Nesse contexto, as instituições federais, além de promover a inclusão, o ensino e a pesquisa, servem como norteadoras de qualidade. Mas o maior indicador de qualidade se chama inclusão”, afirmou Luiz Cláudio Costa. (Assessoria de Imprensa da UFMG)
Luiz Cláudio Costa destacou o aumento do número de pessoas com acesso ao ensino superior na última década: em 1997, 7,1% dos jovens de 18 a 24 anos cursavam o ensino superior; em 2011, tal índice passou para 17,6%.