Foca Lisboa/UFMG |
O debate sobre as transformações políticas, sociais e culturais em curso no continente africano e a reconfiguração das suas relações com o resto do mundo é imprescindível para o desenvolvimento do continente neste século 21, afirmou nesta manhã, no campus Pampulha, o embaixador de Moçambique no Brasil e secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy. Ele participou da primeira mesa-redonda da II Jornada de Estudos Africanos, que abordou o tema Políticas de cooperação acadêmica internacional Brasil-África – prioridades, desafios e perspectivas. Também integraram a mesa o reitor Clélio Campolina Diniz, o presidente da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), Jorge Ferrão, e o diretor de Educação a Distância da Capes, João Carlos Teatini. Murade Murargy falou sobre a importância da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), e suas ligações com a UFMG, para as relações África-Brasil. Instituída em julho de 2010, a Unilab baseia-se em princípios de cooperação solidária entre o Brasil e os demais países de língua portuguesa, principalmente africanos. A reitora da Unilab é a professora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG. Murargy destacou a importância de se evidenciar o conceito de África Contemporânea. “Ele compreende uma percepção do passado, um entendimento do presente e uma visão de futuro, prevendo a valorização da cultura e dos povos africanos”, disse. O secretário executivo da CPLP destacou ainda os desafios enfrentados pela atuação de empresas brasileiras em solo africano. “Algumas delas acreditam que podem explorar e ir embora, sem deixar nada para o país, sem nenhuma responsabilidade social”, relatou. Em sua opinião, é necessário que as pesquisas produzidas em centros de estudos africanos como o da UFMG não fiquem confinadas em livros e bibliotecas. “Precisam ser expandidas e divulgadas, de forma a serem de fato utilizadas por essas empresas na sua relação com os países”, reiterou. Novo entendimento “Temos um cenário em que o Centro de Estudos Africanos de Portugal privilegia estudos de países de língua portuguesa. Na Inglaterra, privilegia-se o estudo de países de língua inglesa. E assim também é na França ou na Ásia. O desafio brasileiro é promover estudos africanos que não se restrinjam apenas aos países de língua portuguesa”. João Carlos Teatini, da Capes, destacou os vários programas e as perspectivas da administração pública brasileira em relação à internacionalização e às relações do Brasil com a África. E também comentou a atuação das empresas brasileiras no continente africano. “Infelizmente, há de fato algumas empresas que só querem explorar, e isso não é só na África: aqui no Brasil também. Um exemplo é o que está acontecendo na Amazônia com a questão do desmatamento. Outro é o caso é dos índios no Mato Grosso do Sul, que não têm suas terras demarcadas, e estão sendo expulsos delas por fazendeiros. São questões que precisam ser resolvidas”.
Jorge Ferrão, por sua vez, disse que a criação do Centro de Estudos Africanos da UFMG colabora para a construção de novo entendimento sobre a atuação dos núcleos de estudos africanos já existentes mundo afora.