O diálogo franco é muito importante como parte do suporte familiar e social após a notícia de um transplante de fígado. E diversos fatores têm influência direta na maneira como as relações se estabelecem a partir do diagnóstico, de acordo com estudo do psicólogo Clerison Stelvio Garcia, que resultou em dissertação defendida na Faculdade de Medicina da UFMG. “A aproximação entre o paciente e seus familiares, com boa disponibilidade para troca justa de informações, é importante para superar este momento difícil”, orienta Clerison Garcia, acerescentando que a divisão de tarefas também facilita, evitando sobrecarregar apenas uma pessoa com todos os cuidados. O caráter do transplante é destacado no trabalho como um dos pontos mais delicados a serem enfrentados, tanto pela pessoa que espera por ele, quanto por sua família. “Todos têm consciência de que a cirurgia é a última alternativa para a sobrevida, que a pessoa poderá falecer se o transplante não for bem-sucedido”, explica o autor. A própria reação do paciente durante o processo afeta a maneira como a família se comporta. “Os familiares sentem menos o impacto do diagnóstico quando o paciente se sente mais confortável e também os ajuda a passar por esse momento”, afirma Clerison. “Já quando o paciente apresenta encefalopatia – que se caracteriza por confusão mental, dificuldade de fala e de locomoção –, a família sente mais as dificuldades”. Fatores determinantes Nos casos pesquisados, a reação da família ao diagnóstico variou também de acordo com o motivo que levou à necessidade do transplante. Pacientes com cirrose hepática relacionada ao abuso de álcool recebiam menos suporte do que pacientes com outros diagnósticos, como as hepatites B e C. O psicólogo atribui essa diferença ao trabalho que esses pacientes já deram para a família devido ao alcoolismo, com episódios de agressões e constrangimento público. “O diagnóstico é encarado como mais um problema provocado por aquela pessoa, algo até certo ponto esperado”, afirma. “Nos outros casos, é mais comum a família ser pega totalmente de surpresa pelo diagnóstico”. Método A análise mostrou também a influência de fatores como sexo e idade do paciente. Pacientes mais jovens tiveram mais suporte social. Uma hipótese levantada foi a importância da presença e apoio dos pais, comum principalmente entre os pacientes com menos de 30 anos. A família também sofreu maior impacto quando os candidatos a transplantes eram homens. Para Clerison, isso pode ter origem cultural, já que o homem ainda é visto como o chefe da família. “Em geral, esses pacientes estão em idade economicamente ativa, são os principais provedores da família, e esta dependência aumenta o sofrimento diante do risco de morte deste parente”, conclui. Dissertação: O suporte social e o impacto na família de candidatos atransplante de fígado (Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG)
As entrevistas dos 119 pacientes em espera para transplante de fígado no Hospital das Clínicas da UFMG e seus familiares revelam que o suporte oferecido a estas pessoas, em geral, se relaciona a assistência, ajuda material e expressão de afeto positivo. Escolaridade mais elevada e ausência de doenças paralelas foram associadas a menor impacto na família e maior suporte social para os pacientes. Por outro lado, o indivíduo com mais complicações, em geral, gera maior impacto e, consequentemente, conta apenas com um pequeno núcleo de parentes e amigos mais próximos.
O estudo utilizou dois questionários. O primeiro, chamado “Inventário de Rede de Suporte Social” (SSNI, na sigla em inglês), avalia a quantidade e a qualidade de relações sociais de um indivíduo. Já a “Escala de Zarit” mede a sobrecarga que os cuidados com o candidato a transplante provocam na família. Os resultados desses questionários foram também comparados com dados socioeconômicos desses pacientes.
De Clerison Stelvio Garcia
Orientador: Agnaldo Soares Lima
Defesa: 18 de março sde 2013
Programa: Cirurgia e Oftalmologia