Universidade Federal de Minas Gerais

Diálogo franco é caminho na espera por transplante de fígado, defende trabalho de mestrado da Medicina

quinta-feira, 20 de junho de 2013, às 8h54

O diálogo franco é muito importante como parte do suporte familiar e social após a notícia de um transplante de fígado. E diversos fatores têm influência direta na maneira como as relações se estabelecem a partir do diagnóstico, de acordo com estudo do psicólogo Clerison Stelvio Garcia, que resultou em dissertação defendida na Faculdade de Medicina da UFMG.

“A aproximação entre o paciente e seus familiares, com boa disponibilidade para troca justa de informações, é importante para superar este momento difícil”, orienta Clerison Garcia, acerescentando que a divisão de tarefas também facilita, evitando sobrecarregar apenas uma pessoa com todos os cuidados.

O caráter do transplante é destacado no trabalho como um dos pontos mais delicados a serem enfrentados, tanto pela pessoa que espera por ele, quanto por sua família. “Todos têm consciência de que a cirurgia é a última alternativa para a sobrevida, que a pessoa poderá falecer se o transplante não for bem-sucedido”, explica o autor.

A própria reação do paciente durante o processo afeta a maneira como a família se comporta. “Os familiares sentem menos o impacto do diagnóstico quando o paciente se sente mais confortável e também os ajuda a passar por esse momento”, afirma Clerison. “Já quando o paciente apresenta encefalopatia – que se caracteriza por confusão mental, dificuldade de fala e de locomoção –, a família sente mais as dificuldades”.

Fatores determinantes
As entrevistas dos 119 pacientes em espera para transplante de fígado no Hospital das Clínicas da UFMG e seus familiares revelam que o suporte oferecido a estas pessoas, em geral, se relaciona a assistência, ajuda material e expressão de afeto positivo. Escolaridade mais elevada e ausência de doenças paralelas foram associadas a menor impacto na família e maior suporte social para os pacientes. Por outro lado, o indivíduo com mais complicações, em geral, gera maior impacto e, consequentemente, conta apenas com um pequeno núcleo de parentes e amigos mais próximos.

Nos casos pesquisados, a reação da família ao diagnóstico variou também de acordo com o motivo que levou à necessidade do transplante. Pacientes com cirrose hepática relacionada ao abuso de álcool recebiam menos suporte do que pacientes com outros diagnósticos, como as hepatites B e C. O psicólogo atribui essa diferença ao trabalho que esses pacientes já deram para a família devido ao alcoolismo, com episódios de agressões e constrangimento público. “O diagnóstico é encarado como mais um problema provocado por aquela pessoa, algo até certo ponto esperado”, afirma. “Nos outros casos, é mais comum a família ser pega totalmente de surpresa pelo diagnóstico”.

Método
O estudo utilizou dois questionários. O primeiro, chamado “Inventário de Rede de Suporte Social” (SSNI, na sigla em inglês), avalia a quantidade e a qualidade de relações sociais de um indivíduo. Já a “Escala de Zarit” mede a sobrecarga que os cuidados com o candidato a transplante provocam na família. Os resultados desses questionários foram também comparados com dados socioeconômicos desses pacientes.

A análise mostrou também a influência de fatores como sexo e idade do paciente. Pacientes mais jovens tiveram mais suporte social. Uma hipótese levantada foi a importância da presença e apoio dos pais, comum principalmente entre os pacientes com menos de 30 anos.

A família também sofreu maior impacto quando os candidatos a transplantes eram homens. Para Clerison, isso pode ter origem cultural, já que o homem ainda é visto como o chefe da família. “Em geral, esses pacientes estão em idade economicamente ativa, são os principais provedores da família, e esta dependência aumenta o sofrimento diante do risco de morte deste parente”, conclui.

Dissertação: O suporte social e o impacto na família de candidatos atransplante de fígado
De Clerison Stelvio Garcia
Orientador: Agnaldo Soares Lima
Defesa: 18 de março sde 2013
Programa: Cirurgia e Oftalmologia

(Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG)