Universidade Federal de Minas Gerais

Lucas Braga/UFMG
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'Povo descobriu que pode ser ator do processo político', afirma especialista do DCP em movimentos sociais

quarta-feira, 26 de junho de 2013, às 5h55

Os megaprotestos que invadiram as ruas das principais cidades brasileiras nas últimas semanas ainda demandam compreensão ampliada. “O significado dessas manifestações ainda está em disputa dentro da esfera pública. Dado o número de demandas – e o fato de serem, na sua maioria, muito vagas –, fica difícil conferir um sentido a elas”, afirma o professor Marcus Abílio Gomes Pereira, do Departamento de Ciência Política (DCP) da Fafich.

Coordenador do grupo de pesquisa Democracia Digital, do DCP, Marcus Abílio, que se debruça sobre fenômenos relacionados às teorias democráticas e dos movimentos sociais e ao uso de novas tecnologias de informação, identifica, nesta entrevista ao Portal UFMG, uma interseção das manifestações brasileiras com as que ocorrem em outras partes do mundo.

“Os protestos, em diferentes países, têm um ponto em comum: a insatisfação com um modelo de globalização hegemônico, não favorável à manutenção da soberania popular”, analisa o cientista político. E alerta: “Quando a onda começar a passar, alguns grupos radicais tenderão a se tornar mais violentos”. Confira a entrevista.

Por que essas manifestações surgiram exatamente agora? O que possibilitou que as marchas ganhassem tamanho volume?
Nas teorias de movimentos sociais, há uma paisagem teórica chamada "processos políticos" que busca explicar a razão das mobilizações de protesto. É o que se costuma chamar de oportunidades políticas. Os movimentos perceberam que este era um momento de fragilidade dos governos em função da visibilidade internacional obtida pelo país com a Copa das Confederações.

Um primeiro movimento vai para as ruas, ganha visibilidade – obviamente, com a ajuda da ação repressiva da polícia militar de São Paulo. Outros movimentos percebem a ação e pegam "carona" no processo, desencadeando o que chamamos de "onda de protestos". O tempo de duração dessa onda vai depender da capacidade dos atores envolvidos de agir para tensionar ou distensionar o processo. Quando a onda começar a passar, alguns grupos radicais tendem a se tornar mais violentos, na tentativa de continuar pressionando os governos. Mas há um cansaço natural dos manifestantes, que tendem e precisam voltar, em algum momento, às suas vidas cotidianas.

Quem é esse manifestante? O que ele busca?
Há na verdade um conjunto de atores políticos que busca aprofundar a democracia por meio da demanda por mais espaços de diálogo entre o sistema político e a sociedade. Visam melhorias nos transportes públicos, mais controle sobre os gastos públicos e mais reconhecimento para grupos sociais historicamente excluídos: temos a causa indígena, os movimentos LGBT, os sem-teto, os atingidos pela Copa etc.

Mas há outro grupo que também tem comparecido às ruas e que possui um conjunto de reivindicações relacionadas especificamente ao fim da corrupção. É uma tentativa de "passar o Brasil a limpo". Na atuação dos dois grupos, podemos perceber, ainda que em níveis distintos, a denúncia de uma crise da legitimidade: um descompasso entre o que seus representantes têm feito e o que de fato se deseja que façam.

Essa diversidade de grupos e demandas parece dificultar a construção de um sentido, de um significado para as manifestações...
O significado dessas manifestações ainda está em disputa dentro da esfera pública. Dado o número de demandas – e o fato delas serem, na sua maioria, muito vagas – fica difícil conferir um sentido a elas. O que é possível ser percebido é uma sensação generalizada de insatisfação com o sistema político brasileiro. Há um descolamento entre representantes e representados. Também é interessante observar que os protestos, em diferentes países, têm um ponto em comum: a insatisfação com um modelo de globalização hegemônico, que não é favorável à manutenção da soberania popular. Os governantes estão reféns do capitalismo global, o que diminui a sua margem de ação. Esses movimentos em todo o mundo são a clara demonstração do desejo de que o povo retome a sua soberania.

Isabella Lucas/UFMG
Prof%20marcus%20Ab%EDlio_%20Foto%20Isabella%20Lucas.JPG Já é possível pensar em resultados para as marchas?
Independentemente de essas manifestações resultarem ou não em resultados práticos (o que já vem acontecendo, dado que a presidente Dilma Rousseff acabou de propor uma assembleia constituinte), é importante entender que as manifestações possuem um caráter pedagógico para a população brasileira. O povo percebeu, a partir desses protestos, que pode ser ator, e não mero objeto do processo político.

Há alguns dias, vimos governos baixando os preços das passagens, e os críticos enxergaram um viés populista nessas medidas. Como podemos ler esse cenário?
Creio que existe, mesmo que pequena, uma chance de haver um retrocesso conservador em relação às conquistas democrático-participativas até então alcançadas, em especial nos últimos dez anos. Mas isso ainda está em aberto. Vai depender da relação de forças entre governo, oposição e outros atores relevantes, tais como os meios de comunicação de massa e os setores mais retrógrados brasileiros. Tudo vai depender de como as propostas do executivo federal serão recebidas pelos manifestantes e se serão realmente cumpridas.

Como o senhor diferencia a cobertura das manifestações da imprensa tradicional daquela feita pelas redes sociais?
A internet é um espaço que possibilita o embate político por meio das plataformas digitais. Nesse sentido, é – e possibilita uma cobertura – muito mais plural, heterogênea e diversa que a dos grandes conglomerados midiáticos, que costumam ter uma pauta muito mais homogênea. Nesse sentido, a importância das plataformas digitais na elaboração de percepções sociopolíticas é enorme, pois se trata de criar a possibilidade de argumentações e contra-argumentações numa relação horizontalizada, enquanto nos meios massivos tradicionais temos a circulação da informação em sentido único.

É por meio das plataformas digitais (Twitter, Facebook, Flickr, Orkut, WhatsApp etc.) que esses jovens que estão nas ruas têm se articulado, discutido e mobilizado há alguns anos. Quem acompanha essas discussões políticas não se surpreendeu tanto com a escala das manifestações nas ruas de todo o país.

O que esperar para os próximos dias?
Creio que agora vamos entrar numa segunda fase (a primeira foi a dos protestos, com temáticas das mais variadas) do processo, mais propositiva, por meio da construção de plataformas com objetivos mais concretos e factíveis. Naturalmente, vão surgindo lideranças (indivíduos ou organizações) que começam a tomar as rédeas das manifestações e que poderão servir de interlocutores para o sistema político institucional – caso do Movimento Passe Livre (MPL), em São Paulo, e do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa 2014 (Copac), em Belo Horizonte.

(Ewerton Martins Ribeiro)

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