Pacientes voluntários com câncer de próstata serão submetidos a exames de imagem com uma substância radioativa testada pela primeira vez no Brasil em humanos, a [18F]Fluorcolina. Os testes serão feitos pelo Centro de Imagem Molecular (Cimol), do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular (INCT-MM) da Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN). Segundo o professor Marcelo Mamede, coordenador de Medicina Nuclear do Cimol, a toxicidade e a biodisponibilidade da substância radioativa já foram avaliadas e aprovadas na primeira fase das pesquisas, realizada com animais. A próxima fase, que vai se iniciar em breve, avaliará seus efeitos em voluntários humanos. Os protocolos já foram aprovados no Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos da UFMG. “Podem participar pacientes encaminhados pelos hospitais das Clínicas e Luxemburgo, que possam se beneficiar dessa tecnologia para visualização”, avisa Marcelo Mamede. Inicialmente, os testes deverão priorizar casos de câncer de próstata, em determinados estágios da doença, pré-definidos. Mas a expectativa é de que sejam realizados outros avanços com a substância radioativa. O objetivo da parceria interinstitucional é impulsionar o desenvolvimento da tecnologia necessária para produção nacional de radiofármacos, incentivar pesquisas e buscar a aprovação do uso rotineiro no país desse marcador de tumores. “Estudos na área também permitem a qualificação de profissionais e o avanço do conhecimento com técnicas diagnósticas dinâmicas”. O país só dispõe de um radiofármaco que pode ser usado em exames de imagem molecular com tomografia por emissão de pósitrons(PET/CT): o [18F]FDG, ou F-18 Fluordeoxiglicose. O marcador é absorvido por certos órgãos do corpo, que “entendem” a substância como glicose, imprescindível para a produção de energia e sobrevivência das células. Essa técnica, porém, é inespecífica para certos tipos de câncer, como o de próstata e da glia, tipo de tumor cerebral. “Nesses casos, estudos mostram melhores resultados com o uso do radiofármaco à base de colina”, esclarece Mamede. O [18F]Fluorcolina é indicado para vários tipos de câncer, mas no caso do de próstata,por exemplo, quando há aumento da produção das membranas celulares, a substância é melhor absorvida pela área afetada e permite visualização mais nítida da proliferação das células cancerosas pelo composto marcado por um isótopo radioativamente. É como se o órgão afetado “brilhasse” e indicasse a posição exata do sinal emitido pela radiação, em um efeito análogo ao produzido por uma caneta marca-texto fluorescente. Independência “Com o PET/CT é possível visualizar essas alterações, mas desde que utilizado o radiofármaco específico. Daí a necessidade de o Brasil alcançar a independência na produção de radiofármacos”, esclarece Mamede, chamando a atenção para a necessidade de linhas específicas de financiamento para essa área. O Cimol/UFMG está equipado com um dos mais avançados equipamentos de PET/CT da América Latina, o GE Discovery 690. A tecnologia permite detectar os fótons emitidos por partículas radioativas, usadas não só em exames oncológicos, mas também cardiológicos, psiquiátricos e neurológicos. Ao combinar duas técnicas de tomografia em um só exame, as tomografias computadorizada e por emissão de pósitrons, o PET/CT permite precisão na localização anatômica da imagem funcional. “Isso, por sua vez, propicia a identificação de tumores ainda muito pequenos para serem detectados pelos exames convencionais, representando não só aumento na chance de sobrevida, como também na qualidade de vida dessas pessoas”, afirma o médico nuclear. (Matéria publicada no Saúde Informa, veículo editado pela Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina)
Exames de imagem convencionais, como tomografia e ressonância magnética, se baseiam na observação de alterações morfológicas. O problema é que esses métodos podem não ser eficazes em estágios iniciais do câncer ou quando o resultado indica normalidade, afirma o radiologista.