Começa amanhã, dia 19, em Tiradentes, o Programa de Residência Artística Internacional, que inclui um encontro de artistas para discutir a arte contemporânea. O evento segue até o dia 28 de julho. A artista paulista Karina Montenegro expõe sua escultura Relógio no evento. A obra dispõe espelhos rotatórios em diferentes pontos da cidade para gerar uma reflexão sobre a relação espaço-tempo. “O reflexo é uma imagem do tempo real em forma de luz. O espelho é uma mídia secundária e reflete recortes da paisagem de Tiradentes: tanto históricos quanto de situações atuais”, resume ela. Com seu relógio, que materializa reflexão sobre Tempo e Paisagem, tema da residência, a escultora paulista se juntará a artistas brasileiros e de países vizinhos durante estada de 10 dias nesse município histórico. O colombiano Cristiano Rosa trabalha com o que chama de “efeito miniatura”, ao buscar detalhes na paisagem por meio de vídeos de longa duração, valendo-se de velocidades alteradas ou estáticas e sons normalmente inaudíveis, subaquáticos e de sismos, além de materiais como folhas, terra, pedras ou plástico em movimento. Já o argentino Abel Monasterolo desenvolverá intervenções urbanas a partir de superfícies transparentes pintadas e instalações luminosas e projetadas, enquanto o compatriota Jorge Castro realizará vídeo com imagens das paisagens no entorno de Tiradentes, mesclando técnicas analógicas e digitais. “Tiradentes será para eles uma grande casa de criação artística”, afirma o professor da Escola de Belas-Artes, Fabrício Fernandino, coordenador-geral da Residência. Membro do conselho curador do evento, o professor Rodrigo Minelli explica que o conceito de residência é bastante usado no meio artístico. “A ideia é juntar artistas de diferentes localidades em determinada cidade, onde passem algum período promovendo espetáculos e outras atividades." A própria Bienal Universitária de Arte, realizada pela UFMG no ano passado em Belo Horizonte, já havia abrigado uma residência artística. “Os resultados foram tão ricos que achamos importante realizar algo do gênero em Tiradentes”, comenta Fabrício Fernandino, lembrando que a iniciativa integra conjunto de ações que visa consolidar o campus cultural que a Universidade mantém na cidade. Sob a gestão da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, o campus é formado por espaços como o Museu Casa Padre Toledo, restaurando no final do ano passado; o Centro de Estudos, Galeria e Biblioteca Miguel Lins, que abriga o acervo do jurista e ex-ministro do STF e onde são ministrados cursos e seminários; e o Sobrado dos Quatro Cantos, prédio do século 18 que está sendo restaurado para abrigar o Centro de Estudos e Biblioteca sobre o Século XVIII Mineiro. Na visão de Rodrigo Minelli, Tiradentes é ambiente propício para que a criação artística dialogue com o espaço urbano e histórico. “É uma cidade extremamente inspiradora por conta de toda sua riqueza artística e arquitetônica. As ruas, casarões e igrejas erguidas há séculos transmitem a aura do passado e fazem emanar a ideia de tempo”, comenta. Disciplina sem disciplina Foram convidados para as aulas abertas, os artistas Adilson Siqueira, o diretor e professor de teatro Fernando Limoeiro, o fotógrafo Luiz Felipe Cabral e Damian Kees, artista argentino que trabalha com recriações e intervenções na paisagem sonora de espaços urbanos. As aulas abertas acontecerão de 21 a 28 de julho, das 9h às 18h, em locais definidos pelos próprios artistas.
Outra frente da Residência serão as chamadas “aulas abertas”, que permitirão a interação de artistas, comunidade local e turistas por meio de intervenções nas áreas de culinária, dança, teatro, fotografia, jogos e paisagens sonoras.
Essas dinâmicas serão realizadas diariamente em praça pública. “Elas dispensam matrícula. Participa quem estiver transitando no local naquele momento. É uma ‘disciplina ministrada sem disciplina’”, afirma Fernandino.