Tiradentes está respirando arte. A partir de hoje, e durante os próximos dez dias, a cidade recebe o Programa de Residência Artística Internacional, em que quatro artistas-professores sul-americanos vão desenvolver criações que tenham como substrato a cidade e sua história, seu povo, sua cultura, seu tempo, sua paisagem. Haverá também ateliês abertos, série de eventos em que os artistas recebem interessados em conversar sobre suas obras – e discutir arte contemporânea em minicursos. Além disso, os moradores e turistas serão convidados por outros quatro artistas-professores a realizar processos artísticos momentâneos nas aulas abertas (Confira aqui a programação completa). Em entrevista ao Portal UFMG, Fabrício Fernandino, professor da Escola de Belas-Artes e coordenador-geral da Residência, fala sobre o programa e as produções dos artistas-professores, que vão se distribuir por toda a cidade, tendo como ponto de partida o Solar dos Quatro Cantos, na Rua Direita, número 5, no Centro. A Residência tem como tema Tempo e paisagem. Como esses conceitos serão abordados? Como a arte se beneficia de processos de produção e vivência artística como as Residências? Foca Lisboa/UFMG É a primeira vez que a UFMG realiza um evento desse tipo? Na Bienal Universitária de Arte, os trabalhos foram produzidos durante o próprio evento em que foram apresentados? Um dos destaques dessa Residência são as aulas abertas. Como elas funcionam? (Ewerton Martins Ribeiro)
Propusemos esse tema como ponto de partida, mas não necessariamente como limitação. Trata-se simultaneamente do tempo histórico, do tempo real, e do tempo futuro. Temos a arquitetura do lugar, que pode ser abordada por esses dois vieses, do tempo histórico e da própria paisagem. Temos a Serra de São José, iluminada pelo nascer do sol. Tiradentes nos traz uma ambiência, um momento, uma condição especificamente propícia para a arte. É a cidade colaborando com o processo de criação artística. Era inacreditável a luz natural da cidade na manhã de hoje, por exemplo. A cidade tem a sua beleza própria. A ambiência, a arquitetura do lugar, sua própria história: tudo isso colabora muito para desencadear os processos artísticos. São condições excelentes, propícias para que a arte alcance um bom resultado.
Penso que o principal ganho que um evento como este propicia é o encontro: de artistas, de ideias e de perspectivas artísticas; encontro de condições técnicas e estruturais que possibilitam o desenvolvimento dos processos criativos. Com o Programa de Residência Artística Internacional, criamos as condições para que a arte aconteça naturalmente. Criamos o ambiente propício para que o surpreendente desponte com naturalidade. E a riqueza da arte está nisso. A arte trabalha em uma outra instância, que não é tão apreensível como em outras disciplinas. É a instância do sensível, do poético, do inesperado. Isso faz parte da natureza da criação. Nesse sentido, quando você junta um grupo de artistas com esse, com características distintas, você potencializa a criação e suas possibilidades. Temos Abel Monasterolo e Jorge Castro, da Argentina, Karina Montenegro, de São Paulo, e Cristiano Rosa, da Colômbia. São focos e áreas diferentes. Eles trazem a sua bagagem, sua experiência, seu projeto artístico e, de repente, de forma não metódica, acontece um diálogo entre esses projetos. Daí nasce o novo, o que não foi pensado, programado. Surge uma arte que não poderia ter sido planejada, mas que podemos fomentar. E é isso que fazemos.
As atividades vão acontecer por toda a cidade. Como o Solar dos quatro cantos se encaixa na programação?
Nós montamos um ateliê nesse prédio histórico. Ele fica na rua Direita, na subida da matriz, um ponto central na cidade. O prédio foi cedido pelo governo de Minas Gerais à Universidade para a instalação da Biblioteca de Referência de Estudos do Século 18. É um casarão lindo, enorme, que ainda será restaurado, e que também vai abrigar, além da biblioteca, outros eventos de natureza semelhante a essa Residência. Esta é, portanto, a primeira ocupação que a Universidade faz deste espaço depois de recebê-lo. É um prédio com janelas imensas, e é interessante observar o contraste dessa arquitetura colonial com toda a tecnologia de ponta que os artistas trouxeram: projetores, filmadoras, iluminação. É algo que chama a atenção do público, e que vai fortalecer e consolidar a presença do Campus Cultural da UFMG em Tiradentes.
No Festival de Inverno de 2005, realizamos o projeto Olhar Diamantina. Foi um encontro de cinco artistas, professores da Escola de Belas-Artes, que trabalharam por quinze dias, durante o Festival, produzindo obras em diferentes áreas, como pintura, escultura, fotografia, desenho, que abordaram a paisagem física e poética de Diamantina. Foi um trabalho magnífico, que resultou em várias exposições individuais e no livro homônimo. E mais recentemente reeditamos esse projeto na Bienal Universitária de Arte do ano passado, realizada em novembro.
Sim, e foi daí que tiramos a ideia de realizar essa Residência a partir da experiência vivenciada na Bienal. No ano passado, o resultado foi surpreendente, mas, como os trabalhos foram produzidos durante o evento, só restou o último dia para que as obras fossem expostas e o público tivesse acesso a elas. Agora, como estamos realizando esta Residência um ano antes da Bienal Universitária de Arte, a previsão é de expormos as obras aqui produzidas na próxima edição do evento, em 2014.
A ideia é envolver toda a comunidade, convidar as pessoas a realizar processos artísticos momentâneos. Essas atividades, em específico, vão acontecer em quatro tendas, que vão percorrer a cidade de modo itinerante. A ideia é que a cidade seja envolvida completamente. Estamos convidando as pessoas nas pousadas, nos restaurantes, e temos um clown, palhaço que está percorrendo a cidade e convidando o público. Queremos que a Residência seja, acima de tudo, um ponto de encontro.