Universidade Federal de Minas Gerais

Foca Lisboa/UFMG
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Tiradentes: ambiência profícua para a criação artística

'A Residência Artística é, acima de tudo, um ponto de encontro para a arte', afirma Fabrício Fernandino

sexta-feira, 19 de julho de 2013, às 16h00

Tiradentes está respirando arte. A partir de hoje, e durante os próximos dez dias, a cidade recebe o Programa de Residência Artística Internacional, em que quatro artistas-professores sul-americanos vão desenvolver criações que tenham como substrato a cidade e sua história, seu povo, sua cultura, seu tempo, sua paisagem.

Haverá também ateliês abertos, série de eventos em que os artistas recebem interessados em conversar sobre suas obras – e discutir arte contemporânea em minicursos. Além disso, os moradores e turistas serão convidados por outros quatro artistas-professores a realizar processos artísticos momentâneos nas aulas abertas (Confira aqui a programação completa).

Em entrevista ao Portal UFMG, Fabrício Fernandino, professor da Escola de Belas-Artes e coordenador-geral da Residência, fala sobre o programa e as produções dos artistas-professores, que vão se distribuir por toda a cidade, tendo como ponto de partida o Solar dos Quatro Cantos, na Rua Direita, número 5, no Centro.

A Residência tem como tema Tempo e paisagem. Como esses conceitos serão abordados?
Propusemos esse tema como ponto de partida, mas não necessariamente como limitação. Trata-se simultaneamente do tempo histórico, do tempo real, e do tempo futuro. Temos a arquitetura do lugar, que pode ser abordada por esses dois vieses, do tempo histórico e da própria paisagem. Temos a Serra de São José, iluminada pelo nascer do sol. Tiradentes nos traz uma ambiência, um momento, uma condição especificamente propícia para a arte. É a cidade colaborando com o processo de criação artística. Era inacreditável a luz natural da cidade na manhã de hoje, por exemplo. A cidade tem a sua beleza própria. A ambiência, a arquitetura do lugar, sua própria história: tudo isso colabora muito para desencadear os processos artísticos. São condições excelentes, propícias para que a arte alcance um bom resultado.

Como a arte se beneficia de processos de produção e vivência artística como as Residências?
Penso que o principal ganho que um evento como este propicia é o encontro: de artistas, de ideias e de perspectivas artísticas; encontro de condições técnicas e estruturais que possibilitam o desenvolvimento dos processos criativos. Com o Programa de Residência Artística Internacional, criamos as condições para que a arte aconteça naturalmente. Criamos o ambiente propício para que o surpreendente desponte com naturalidade. E a riqueza da arte está nisso. A arte trabalha em uma outra instância, que não é tão apreensível como em outras disciplinas. É a instância do sensível, do poético, do inesperado. Isso faz parte da natureza da criação. Nesse sentido, quando você junta um grupo de artistas com esse, com características distintas, você potencializa a criação e suas possibilidades. Temos Abel Monasterolo e Jorge Castro, da Argentina, Karina Montenegro, de São Paulo, e Cristiano Rosa, da Colômbia. São focos e áreas diferentes. Eles trazem a sua bagagem, sua experiência, seu projeto artístico e, de repente, de forma não metódica, acontece um diálogo entre esses projetos. Daí nasce o novo, o que não foi pensado, programado. Surge uma arte que não poderia ter sido planejada, mas que podemos fomentar. E é isso que fazemos.

Foca Lisboa/UFMG
Fabricio%20Fernandino%20%20-%20foto%20Foca%20Lisboa%20%281%29.JPG As atividades vão acontecer por toda a cidade. Como o Solar dos quatro cantos se encaixa na programação?
Nós montamos um ateliê nesse prédio histórico. Ele fica na rua Direita, na subida da matriz, um ponto central na cidade. O prédio foi cedido pelo governo de Minas Gerais à Universidade para a instalação da Biblioteca de Referência de Estudos do Século 18. É um casarão lindo, enorme, que ainda será restaurado, e que também vai abrigar, além da biblioteca, outros eventos de natureza semelhante a essa Residência. Esta é, portanto, a primeira ocupação que a Universidade faz deste espaço depois de recebê-lo. É um prédio com janelas imensas, e é interessante observar o contraste dessa arquitetura colonial com toda a tecnologia de ponta que os artistas trouxeram: projetores, filmadoras, iluminação. É algo que chama a atenção do público, e que vai fortalecer e consolidar a presença do Campus Cultural da UFMG em Tiradentes.

É a primeira vez que a UFMG realiza um evento desse tipo?
No Festival de Inverno de 2005, realizamos o projeto Olhar Diamantina. Foi um encontro de cinco artistas, professores da Escola de Belas-Artes, que trabalharam por quinze dias, durante o Festival, produzindo obras em diferentes áreas, como pintura, escultura, fotografia, desenho, que abordaram a paisagem física e poética de Diamantina. Foi um trabalho magnífico, que resultou em várias exposições individuais e no livro homônimo. E mais recentemente reeditamos esse projeto na Bienal Universitária de Arte do ano passado, realizada em novembro.

Na Bienal Universitária de Arte, os trabalhos foram produzidos durante o próprio evento em que foram apresentados?
Sim, e foi daí que tiramos a ideia de realizar essa Residência a partir da experiência vivenciada na Bienal. No ano passado, o resultado foi surpreendente, mas, como os trabalhos foram produzidos durante o evento, só restou o último dia para que as obras fossem expostas e o público tivesse acesso a elas. Agora, como estamos realizando esta Residência um ano antes da Bienal Universitária de Arte, a previsão é de expormos as obras aqui produzidas na próxima edição do evento, em 2014.

Um dos destaques dessa Residência são as aulas abertas. Como elas funcionam?
A ideia é envolver toda a comunidade, convidar as pessoas a realizar processos artísticos momentâneos. Essas atividades, em específico, vão acontecer em quatro tendas, que vão percorrer a cidade de modo itinerante. A ideia é que a cidade seja envolvida completamente. Estamos convidando as pessoas nas pousadas, nos restaurantes, e temos um clown, palhaço que está percorrendo a cidade e convidando o público. Queremos que a Residência seja, acima de tudo, um ponto de encontro.

(Ewerton Martins Ribeiro)