O trabalho adolescente exige a oferta de condições adequadas para sua execução, como supervisão e atividades que não sejam perigosas ou insalubres, conforme definido em lei. No entanto, tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina da UFMG aponta uma realidade bem diferente desse cenário ideal. O estudo, realizado em Diamantina, na Região Central de Minas Gerais, com 136 adolescentes entre 14 e 19 anos, encontrou 44% dos jovens envolvidos em alguma ocupação perigosa. “Todos se encontram em alguma situação de risco. O risco é inerente ao trabalho e pode ser minimizado, não anulado”, explica Christiane Motta, autora do estudo. A pesquisadora, também professora na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFJVM), identificou uma separação bem clara dos riscos entre os gêneros.“Os meninos são mais suscetíveis aos riscos ergonômicos, como o uso constante de força física e o trabalho repetitivo, enquanto as meninas sofreram mais com as características do ambiente, como poeira e pó, ventilação, mudanças de temperatura, umidade, barulho e contato com substâncias em alta temperatura”, aponta. Essa diferença é resultado do perfil de atividades desenvolvidas por cada gênero. Enquanto 37% dos meninos estavam empregados na construção civil, 56% das garotas executavam tarefas domésticas Em ambos os sexos o comércio foi a segunda atividade com mais adolescentes empregados: 27% entre os meninos e 25% entre as meninas. Além dos riscos, a falta de supervisão e a inadequação dos jovens a determinados tipos de serviço são problemas comuns. “A construção civil apresenta risco ergonômico elevado, além de ser perigosa. E a lei proíbe que atividades nesse ramo sejam realizadas por adolescentes”, explica Christiane. “Já o trabalho doméstico inclui várias situações que contribuem para o desenvolvimento de diversas doenças ocupacionais e podem trazer risco de acidentes, como o contato com poeira e pó e o manuseio de substâncias em altas temperaturas", acrescenta. Incentivo Para a pesquisadora, esse quadro reflete uma cultura que vê o trabalho precoce como importante elemento na formação da identidade, relacionando-se diretamente a um futuro promissor. “A sociedade ainda está presa à ideia de que se o adolescente começar a trabalhar cedo estará mais apto para o mercado de trabalho”, comenta A pesquisadora utilizou dados do cadastro familiar no Programa Saúde da Família para identificar os adolescentes trabalhadores nas zonas urbana e rural. Visitas domiciliares foram realizadas para obter a autorização de pais e adolescentes para a aplicação do questionário, recomendado pelo programa de Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adolescentes Economicamente Ativos do Ministério da Saúde. (Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina) Tese: Caracterização dos riscos laborais em populações de adolescentes trabalhadores
Apesar dos riscos, Christiane destaca que o trabalho adolescente é incentivado pela sociedade. “Além da necessidade, a cobrança da família e o desejo de independência financeira são fatores importantes para o jovem decidir entrar no mercado de trabalho”, afirma ela, acrescentando que o baixo custo também estimula os empregadores a recrutarem mão de obra adolescente.
Nível: Doutorado
Programa: Saúde da Criança e do Adolescente
Autora: Christiane Motta Araújo dos Santos
Orientador: Alysson Massote Carvalho (Instituto Presbiteriano Gamon – Lavras/MG)
Co-orientador: Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro
Defesa: 17/05/2013