Em palestra na Faculdade de Letras da UFMG, nesta segunda-feira, o pesquisador Richard Grusin, da Universidade de Wisconsin-Milwaukee (EUA), abordou os problemas éticos e outras questões relacionadas às mudanças provocadas pelas mídias digitais. Usando como referência a expressão the dark side of the force (ou “o lado negro da força”), da famosa série Star Wars, Grusin fez referência ao lado negativo que pode ser associado às mídias digitais. “Assim como em Star Wars o lado negro da força é aquele em que a força é usada para o mal, as potencialidades das mídias digitais também podem ser usadas com esse propósito”, disse. Um segundo ícone pop ao qual o pesquisador fez alusão foi o álbum da banda Pink Floyd The dark side of de moon (“O lado escuro da lua”). O lado negro da lua é aquele que não reflete a luz do sol e, assim, não pode ser visto da Terra. O pesquisador associou as mídias digitais a esse fenômeno: segundo ele, há algo nos aparatos tecnológicos que é desconhecido por seus usuários. “Pensando nas tecnologias das mídias digitais, não importa o brilho ou formato das telas dos dispositivos, a visão digital só é possível por meio do inconsciente tecnológico, que são as operações e protocolos de que os usuários dos dispositivos digitais não têm plena consciência. Mas esse inconsciente desconhecido pelos usuários é acessível aos departamentos de tecnologia de informação das empresas e aos serviços de segurança de redes. Esse lado obscuro da mídia permite que as empresas e organizações como Google, Amazon e Facebook conheçam e monitorem o comportamento de seus usuários”, apontou. O pesquisador também abordou consequências negativas do processo de produção de smartphones, tablets e outros aparatos tecnológicos. Além da maioria das fábricas chinesas desses produtos não contarem com boas condições de trabalho, o descarte dos produtos tornados obsoletos não é feito de forma ecológica e sustentável. “As pessoas tendem a ver as novas tecnologias apenas sob seus aspectos positivos. Mas precisamos lembrar das más condições das fábricas onde as tecnologias são produzidas e da poluição ambiental, fatos diretamente associados a elas”, disse. Nova temporalidade “No início, os jornais davam notícias sobre fatos ocorridos no passado. Depois, a transmissão das notícias passou a ser simultânea, no momento em que o fato acontecia, como nos canais noticiosos de televisão, como a CNN, por exemplo. Hoje, as falas das notícias remetem a fatos que ainda vão acontecer, no tempo futuro”, explicou. Richard Grusin destacou, ainda, a importância dos estudos dedicados à compreensão das consequências das mídias digitais e sociais. “Precisamos abordar não apenas o que a mídia representa, mas também o que ela faz e como ela faz”, concluiu.
Um dos conceitos apresentados pelo pesquisador está ligado ao período em que ele se dedicou a estudar as mídias noticiosas. Para Grusin, ocorreu um deslocamento da temporalidade das notícias, uma vez que os jornalistas passaram a noticiar fatos que ainda não aconteceram.