Apesar de terem a maior parte das aulas realizadas no ambiente virtual, os cursos a distância contam com algumas atividades presenciais. Esse é o caso das graduações em química e biologia, nas quais os alunos participam de aulas nos laboratórios construídos para funcionarem como polos de apoio às atividades dos cursos a distância. Com o objetivo de avaliar o grau de eficiência de imobilizados (equipamentos, móveis e infraestrutura física, como laboratórios) dos cursos a distância oferecidos pela UFMG, um grupo de servidores da Universidade, sob orientação da professora do Departamento de Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) Marcia Athayde Matias, fez um levantamento sobre a distribuição e o uso desses bens entre os anos de 2008 e 2012. O resultado da pesquisa é descrito no artigo Eficiência na utilização de ativos imobilizados: estudo comparativo entre polos de ensino a distância do Caed/UFMG, que foi apresentado no X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância, em junho deste ano. Segundo a professora Márcia Athayde, o grupo escolheu analisar a infraestrutura dos cursos de ciências biológicas e química de cinco polos de atuação – de um total de 24 – de educação a distância da UFMG: Araçuaí, Governador Valadares, Montes Claros, Frutal e Teófilo Otoni. “Eles foram escolhidos por contar com infraestrutura especializada que compõe seus laboratórios”, justifica. A professora explicou que foi feito um estudo comparativo, analisando quanto foi investido na criação de cada polo escolhido e quantos alunos estão sendo beneficiados por ele. A principal conclusão do grupo foi de que a Universidade possui boa capacidade de ativos imobilizados, mas há dificuldade em aumentar a eficiência da utilização dos recursos públicos. Diferenças “Percebemos que os ativos estão bem dimensionados para o propósito a que eles se destinam, mas os cursos a distância começam com número alto de alunos e, com o passar do tempo, ocorre taxa alta de evasão. Inicialmente, quando dividimos o valor investido pelo número de estudantes, o resultado mostra que o valor per capita é relativamente baixo. À medida que os alunos vão desistindo ao longo do curso, esse índice fica maior”, relata a professora Marcia. Apesar de a pesquisa mostrar que o valor investido pela UFMG nos seus cursos a distância é capaz de atender a quantidade de alunos que opta por esse tipo de graduação, o grupo percebeu que o investimento por aluno fica acima do desejado ao longo do curso devido ao alto índice de evasão de estudantes nos cursos a distância. No polo de Frutal, por exemplo, dos 118 alunos inicialmente matriculados, só 40 concluíram a graduação. Assim, o valor inicial de investimento por aluno, que era de cerca de R$ 970, quase triplicou ao final da formação. Retenção Segundo Fidalgo, um índice de desistência de 90% em cursos a distância, ainda que encarado como normal, revela a necessidade de se adotarem medidas que estimulem a permanência. Entre 2008 e 2012, a UFMG ofereceu 1350 vagas para os dois cursos analisados pelos pesquisadores. Destas, 1042 foram preenchidas, mas apenas 546 estudantes continuam matriculados, perfazendo evasão de 496 estudantes. “Nosso estudo mostrou que não temos problemas na locação dos bens públicos para os cursos a distância, uma vez que o investimento está sendo feito e o dinheiro, bem distribuído. A preocupação com a infraestrutura física dos cursos a distância começa a dar lugar à elaboração de medidas e estratégias que sejam capazes de manter os alunos nos cursos”, afirma. Eficiência financeira O diretor do Caed destaca a importância de pesquisas voltadas para as especificidades do ensino a distância. “Essa área é muito pouco pesquisada. A maioria das conclusões não vem de estudos científicos, e sim de ‘achismos’ que acabam não sendo comprovados. Por isso é importante termos um grupo de estudos que avalie essa área de forma séria e com metodologias científicas”, diz. (Luana Macieira) Artigo: Eficiência na utilização de ativos imobilizados: estudo comparativo entre polos de ensino a distância do Caed/UFMG
O polo de Araçuaí foi o mais eficiente na gestão dos bens, uma vez que alcançou mais alunos com menos recurso público investido em infraestrutura. Lá, com investimento de R$ 117 mil e 137 alunos matriculados, o valor de investimento por aluno foi de R$ 857. Já em Frutal, polo com pior desempenho, 40 alunos usufruíam de uma infraestrutura que custou R$ 115 mil. Dessa forma, o polo apresentou o valor de investimento de R$ 2.876 por aluno matriculado.
“Os laboratórios e a infraestrutura das atividades presenciais dos cursos a distância são bons, mas à medida que os alunos desistem do curso, precisamos tirar o foco da melhoria dessa infraestrutura e pensar mais na elaboração de estratégias para a retenção dos estudantes”, defende o professor Fernando Fidalgo, diretor do Centro de Apoio a Educação à Distância (Caed) da UFMG.
O artigo é resultado dos trabalhos do Grupo de Estudo em Custos e Eficiência Financeira no Ensino a Distância (Gefed). Criado no ano passado e formado por administradores, administradores públicos e contadores, todos servidores ou terceirizados da UFMG, o grupo trabalha em parceria com o Caed, no campus Pampulha.
Autores:Thatiana Marques dos Santos, Carolina Moreira Pereira, Tatiana de Araújo Carvalho, Ana Maria Maia, Cintia Carneiro Resende e Marcia Athayde Matias.
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