Acervo Projeto Portinari |
Se naufragou como projeto político, o comunismo ainda é uma importante chave para se compreender a história do século 20. No caso brasileiro, os comunistas exerceram papel de proa na literatura, no cinema, no teatro, nas artes plásticas, no jornalismo e na música, além de ter seduzido parcela expressiva da sociedade – intelectuais, artistas, estudantes e trabalhadores – com seus valores. Um apanhado dessa influência exercida pela “ideologia vermelha” aparece na coletânea Comunistas brasileiros – cultura política e produção cultural, publicada pela Editora UFMG com a organização dos professores Rodrigo Patto Sá Motta, do Departamento de História da UFMG, Marcos Napolitano, da USP, e Rodrigo Czajka, da Unesp-Marília. Os 16 artigos foram apresentados originalmente em colóquio realizado em outubro de 2001, no Departamento de História da USP. “Basicamente, reunimos dois grupos de pesquisa: o da UFMG, que trabalha com a abordagem da cultura política, e o da USP, que investiga como o Partido Comunista Brasileiro trabalhou como agência produtora de cultura”, explica o professor Sá Motta, que coordena na Fafich o grupo História Política – Culturas Políticas na História. A obra, que também reúne contribuições de pesquisadores do Rio de Janeiro e Paraná que transitam entre as duas abordagens, será lançada no dia 27 de agosto, às 18h, no auditório Luiz Bicalho, da Fafich. A visão do comunismo como uma cultura política é detalhada, sobretudo, no artigo do professor Sá Motta. Desenvolvido pelas ciências sociais norte-americanas nas décadas de 1950 e 1960 e mais tarde apropriado pela historiografia, esse conceito sugere que a cultura influencia os posicionamentos e decisões políticas, contrariando certa visão liberal que vê os agentes políticos movidos apenas por ideias e interesses. “Isso pressupõe que os homens também agem por paixões, sentimentos, medo, ódio e esperança; são mobilizados por representações e imaginários que constroem mitos e heróis”, explica o professor. Nesse sentido, o comunismo é, em sua avaliação, um dos mais bem-sucedidos exemplos de cultura política, tendo atraído para suas fileiras intelectuais e artistas em todo mundo. “O comunismo sempre foi muito sedutor em relação aos homens e mulheres de ideias e artistas, muito mais do que a direita, embora esta também tivesse os seus intelectuais”, afirma o historiador, lembrando que a adesão de figuras como os escritores Jorge Amado e Graciliano Ramos, os pintores Candido Portinari e Pablo Picasso e o filósofo Louis Aragon ajudava a disseminar uma imagem positiva do movimento, contrapondo-se aos grupos anticomunistas que o demonizavam. Engajamento Os demais artigos da coletânea dão uma dimensão precisa da representatividade dos comunistas na cena cultural brasileira das últimas décadas. Igor Sacramento, pesquisador da UFRJ, escreve, por exemplo, sobre a “teledramaturgia engajada” de autores comunistas – com destaque para Dias Gomes –; Marco Roxo e Mônica Mourão (UFF) identificam um pacto entre comunistas e a imprensa conservadora no Brasil; e Arnaldo Daraya Contier (Universidade Presbiteriana Mackenzie) disseca a música engajada de Sérgio Ricardo, que ficou famoso por quebrar e atirar o violão na plateia em reação à vaia que recebeu ao interpretar a música Beto bom de bola, no Festival da Record em 1967. Livro: Comunistas brasileiros – cultura política e produção cultural (Flávio de Almeida/Boletim 1832)
Além de Rodrigo Patto Sá Motta, dois outros pesquisadores da UFMG assinam textos na coletânea: a mestre em História Paula Elise Ferreira Soares, que faz uma análise das representações do camponês em obras de Portinari, e a professora Miriam Hermeto, do Departamento de História, que discorre sobre o Grupo Casa Grande, frente de resistência político-cultural que se formou no Rio de Janeiro na segunda metade da década de 1970.
Organizadores: Rodrigo Patto Sá Motta, Marcos Napolitano e Rodrigo Czajka
Editora UFMG
Lançamento: 27 de agosto, às 18h, no auditório Luiz Bicalho, da Fafich
Preço sugerido: R$ 58