Para especialista, crescimento do Brasil cria desafios para a proteção de seu patrimônio natural e cultural

Tipos de patrimônio e os modos de protegê-los são tema de palestra que será ministrada hoje pelo mestre em Planejamento Urbano e Preservação de Patrimônio pela Universidade da Pensilvânia Joseph King. Diretor da Unidade Sítios do Centro Internacional para o Estudo e a Preservação do Patrimônio Cultural (Iccrom), King lidera um grupo de profissionais que atua diretamente junto ao Centro de Patrimônio Mundial, como parte das responsabilidades do Iccrom na condição de organismo de consulta da Unesco.

Com o tema A Convenção da Unesco do Patrimônio Mundial: promoção da capacidade de profissionais, instituições e comunidades, para a proteção do patrimônio cultural da humanidade, a palestra será ministrada a partir das 15h, na Escola de Ciência da Informação (ECI), no campus Pampulha.

Em entrevista ao Portal UFMG, King destaca o desafio brasileiro de conciliar desenvolvimento econômico com a preservação dos patrimônios do país. “Este é um desafio do mundo todo, mas no Brasil ele aparece mais forte porque o país passa por momento de crescimento, que traz muitos benefícios para a população, mas também desafios para a preservação dos patrimônios."

A definição de patrimônio e as ferramentas que foram desenvolvidas para proteger os patrimônios históricos e culturais são assunto de sua palestra. Qual é a importância de desenvolver ferramentas de proteção?
Como o campo dos patrimônios avançou muito nos últimos 20 anos, nós chegamos ao entendimento de que grande parcela das organizações e das pessoas precisa estar envolvida na proteção dos patrimônios históricos. Por esta razão, é muito importante desenvolvermos ferramentas apropriadas para que cada grupo consiga participar efetivamente desse processo de conservação.

De acordo com a Unesco, quais são as características que um local precisa apresentar para ser considerado patrimônio mundial?
Segundo a Convenção Internacional de Patrimônio, existem dez critérios diferentes que definem o valor universal de um patrimônio e que, portanto, tornam um local elegível para a lista de patrimônios históricos mundiais. Seis desses critérios são considerados para patrimônios culturais e quatro para patrimônios naturais.

A definição de patrimônio mudou ao longo dos últimos 40 anos?
Com certeza. A definição de patrimônio se tornou mais inclusiva e menos focada em tipos de monumentos ou construções. Agora, inclui paisagens culturais que não eram consideradas há 40 anos. Um dos motivos pelos quais estou no Brasil, além de ministrar a palestra na UFMG, é a participação em encontro do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Cultural (Iphan) que vai discutir um novo conceito, Historic Urban Ladscape, que reconhece que a herança e os patrimônios urbanos devem ser entendidos em um amplo contexto social e econômico.

Quais são as instituições responsáveis pela preservação de um local que é considerado patrimônio histórico? As pessoas que vivem em um desses locais também são responsáveis?
A responsabilidade pela conservação dos patrimônios é de todos. Organizações como o Iphan devem estar diretamente envolvidas no processo. Mas o estado e os governos locais também precisam se envolver, além das pessoas que vivem e trabalham ao redor dos patrimônios históricos.

O que é o programa World Heritage Capacity Building Strategy (Estratégia de Construção de Capacidades para o Patrimônio Mundial) e como ele funciona?
Este é um programa cujo principal objetivo é desenvolver atividades para ajudar os profissionais, instituições e comunidades a cuidarem melhor de seus patrimônios. Essas atividades incluem cursos e seminários, além da produção de manuais e materiais que devem estar disponíveis online.

Qual é a sua opinião sobre o patrimônio histórico brasileiro? O senhor acredita que o governo brasileiro e sua população cuidam do patrimônio do país?
O patrimônio brasileiro é fantástico e muito importante para o patrimônio mundial. Atualmente, o Brasil possui 19 locais na lista de patrimônios mundiais e todos eles são extremamente importantes. Tanto as instituições brasileiras como o povo brasileiro são capazes de cuidar do patrimônio do país. Porém, assim como qualquer outro lugar do mundo, muitas coisas podem ser melhoradas. O segredo é encontrar maneiras de garantir o desenvolvimento de uma economia sustentável, que promova a conservação dos patrimônios. Este é um desafio do mundo todo, mas no Brasil ele aparece mais forte porque o país passa por um momento de crescimento e desenvolvimento econômico, que traz muitos benefícios para a população, mas também desafios para a preservação dos patrimônios.

(Luana Macieira)