Em abril de 2010, a explosão de uma plataforma de petróleo no Golfo do México, nos Estados Unidos, se transformou em um dos maiores desastres ambientais da história daquele país. O rompimento das tubulações que transportavam o combustível derramou no oceano mais de 3 milhões de barris do petróleo. Na mesma época, um grupo de pesquisadores do Departamento de Química da UFMG dava início a um projeto que pode ajudar na contenção mais rápida e eficiente do material que é espalhado nesse tipo de acidente. Trata-se do Projeto Petróleo, que desenvolve duas tecnologias que, integradas, são capazes de separar água e óleo. “Naquela época, um aluno de doutorado, desenvolvendo outra pesquisa, sugeriu testar um procedimento similar à pesquisa que nós desenvolvíamos, mas aplicado a desastres ambientais que envolvem derramamento de petróleo. Como o óleo derramado no oceano pode alterar de forma drástica a fauna e a flora aquáticas, uma vez que bloqueia a entrada de luz no mar, percebemos que era necessária uma tecnologia nova, que conseguisse conter esse tipo de acidente mais rapidamente”, explica Jadson Belchior, professor do Departamento de Química da UFMG e coordenador do Projeto Petróleo. Segundo Belchior, uma das tecnologias consiste em usar pedaços de tijolo autoclavado. O tijolo, material facilmente encontrado em lojas de construção, evita que o petróleo se espalhe na água depois que é tratado quimicamente. “Cortamos os tijolos em pedaços menores e, nesses pedaços, aplicamos um produto desenvolvido em laboratório. Esse produto faz com que o petróleo se ligue aos pedaços de tijolos e, assim, não se espalhe no oceano”, explica Jadson. Essa etapa do projeto foi coordenada pelo professor Geraldo Lima, também do Departamento de Química da UFMG. Participaram, ainda, grupos de pesquisa coordenados pelas professoras Maria Helena Araújo e Flávia Moura, também do departamento. O produto criado pelos pesquisadores faz com que as moléculas da superfície do tijolo autoclavado interajam com as moléculas constituintes dos óleos por meio de ligações químicas. Depois que o petróleo interagisse com a substância química aplicada nos tijolos, estes seriam recolhidos e levados para fora do oceano, sendo reaproveitados como combustível pela indústria siderúrgica, por exemplo. “Em princípio, é factível recolher os pedaços de tijolos que absorveram o petróleo do mar. Mas neste ponto da pesquisa, nos deparamos com um problema. Uma vez que o processo para retirar o petróleo do tijolo autoclavado altera o processo já estabelecido para recolhimento do petróleo, precisávamos desenvolver outra forma de reaproveitar este óleo através da junção com a técnica de recolhimento já conhecida, que é o bombeamento da água com o petróleo. Então, iniciamos a segunda parte do projeto”, esclarece o pesquisador. Esta segunda etapa, coordenada pelo professor Belchior e que já está na fase final, é o desenvolvimento de um filtro que separa o petróleo da água ainda em alto mar. O grupo de pesquisadores desenvolveu um filtro hidrofóbico (por onde não passa água) que, durante o bombeamento da água contaminada para os navios que transportam o material, já é capaz de separar as substâncias (água e óleo). Como só o petróleo é capaz de passar pelo filtro, apenas o óleo entra nos depósitos dos navios que fazem o trabalho de bombeamento. Dessa forma, a tecnologia com os tijolos passa a contribuir na contenção do óleo derramado, enquanto o filtro separa o óleo da água. O professor Jadson Belchior destaca que essa segunda etapa do projeto utiliza um procedimento já existente (o de bombeamento de água contaminada para tanques de navios) e a tecnologia desenvolvida pelo grupo da UFMG aumenta a eficiência do processo. “Em alto mar, seria necessário recolher os pedaços de tijolos para que, somente em terra, o petróleo que estivesse agregado a eles fosse reutilizado. O filtro que criamos separa o óleo da água ainda em alto mar e, dessa forma, os navios já voltam para a terra somente com o petróleo, sem ele estar misturado à água”, aponta. Luana Macieira/UFMG “Uma empresa de abastecimento de água, por exemplo, pode usar as tecnologias do projeto para separar óleo e água em seus reservatórios, uma vez que é comum a contaminação de água residencial por óleo de cozinha na rede de esgoto. Vazamentos de gasolina nos leitos dos rios e limpeza de óleo diesel em oficinas mecânicas também exemplificam como o projeto pode ser usado em dimensões menores que desastres petrolíferos em alto mar.” Ambas as tecnologias já foram patenteadas e o próximo passo da pesquisa é delinear os parâmetros necessários para que o filtro funcione de forma eficiente. Com a conclusão desta etapa de pré-protótipo, o grupo de pesquisadores parte para o desenvolvimento de um protótipo piloto. “O filtro ainda está em fase de desenvolvimento e estamos em busca de um parceiro pra fazer uma prova de conceito, que consiste em ir até o local onde houve vazamento de petróleo, trazer o material para terra firme e separar as substâncias por meio do filtro, como já fizemos na bancada do laboratório (imagem ilustra a separação de petróleo e água em filtro criado no laboratório). O funcionamento será a prova de que o projeto também será funcional em alto mar”, conclui o pesquisador. (Luana Macieira)
Tecnologia além do petróleo
As tecnologias desenvolvidas pelo grupo de pesquisadores da UFMG funcionam também com outros tipos de óleos, como a gasolina, o óleo diesel e o óleo de cozinha. Jadson Belchior destaca as diversas aplicações da pesquisa.