Nesta semana, a UFMG sediou o 3º Encontro Nacional de Pesquisa de Moda (ENPModa), evento que reuniu pesquisadores do país inteiro em conferências, exposições, oficinas e grupos de trabalho. O Portal UFMG conversou com a professora do curso de Design de Moda da Escola de Belas Artes da UFMG Ana Paola dos Reis, que pesquisa as imagens de moda e liderou um dos grupos de trabalho do encontro. Segundo ela, “os cursos de moda em universidades públicas são essenciais para o aumento da pesquisa científica na área, uma vez que estas estão voltadas não somente para a formação de profissionais, mas também de pesquisadores”. A senhora participou de um grupo de trabalho chamado Moda, corpo, imagem e mídia. Qual foi o foco do grupo? Pessoalmente, meu interesse principal de pesquisa são as ilustrações. Ilustração de moda é um tipo de produção imagética muito antiga, as primeiras de que temos conhecimento datam do século 16, aproximadamente. Trata-se de gravuras que costumavam registrar as roupas de povos estrangeiros, até passarem a figurar em revistas de moda. A ilustração vem da necessidade histórica de se registrar as roupas das sociedades, interpretando usos e costumes ou mesmo propondo um tipo de estilo, um comportamento. Há muitos sentidos implicados no vestir/usar uma peça de roupa e muitos outros em representá-la em imagens. O que são essas imagens de moda? Como essas imagens influenciam na relação das pessoas com a moda? Em que as mídias digitais têm contribuído para que a moda seja um tema cada vez mais debatido? No caso específico dos blogs de moda, que são cada vez mais comuns na internet, eles não podem incentivar o consumo exagerado? A moda é mais que uma peça de roupa? Qual a principal característica da pesquisa de moda que hoje é feita nas universidades brasileiras? (Luana Macieira)
Consideramos as produções que estão ligadas à moda e que são potencializadas pelas mídias, sejam elas impressas ou digitais. Um dos nossos focos é o estudo das imagens. Discutimos todas as produções imagéticas e manifestações relativas ao corpo e que estão ligadas à moda. Muitas pesquisas são realizadas sobre o objeto da moda, que é o vestuário, mas nós queremos problematizar a imagem da moda, percebendo como as manifestações imagéticas interpretam o fenômeno.
As imagens de moda abrangem ilustrações, desenhos, fotografias e até mesmo a imagem da pessoa que veste uma peça de roupa. No caso das mídias digitais, as imagens de moda aparecem muito na internet, nos tumblrs, blogs e instagrams voltados ao assunto. As famosas blogueiras que postam looks do dia são claramente divulgadoras de imagens de moda.
A imagem da moda tem um papel muito sedutor, de encantamento. As pessoas, muitas vezes, acabam projetando as suas identidades nessas imagens, por diversos fatores, como a identificação e o encantamento, por exemplo. O que acontece é uma apropriação daquela imagem de moda, que passa a fazer parte do repertório íntimo do sujeito. As pessoas se imaginam vestindo aquela roupa, vivendo aqueles personagens.
As mídias digitais, pelo fácil acesso e compartilhamento, permitem que as imagens de moda circulem com grande intensidade e velocidade. É assim que elas potencializam as produções que são ligadas à moda. Além disso, a web possibilita o consumo de moda indireto, que é quando você consome as imagens de moda e não exatamente a peça de roupa ou o objeto. A cada dia que passa, as pessoas estão debatendo mais sobre moda e, nesse sentido, ela está mais acessível. Há mais cursos e pesquisas sendo desenvolvidas sobre o assunto e a TV tem se voltado mais para a moda, não só para registrar os circuitos de desfiles e produções, mas também fazendo com que as pessoas planejem a sua própria imagem. A moda tem circulado e se popularizado, e isso é bom para acabar com o estigma de que a moda é algo fútil.
Nem sempre. O surgimento dos blogs de moda pode ser positivo porque você não tem mais um referencial que é tão distante, uma vez que eles aproximam a moda das pessoas. Há, ainda, alguns blogs que não exatamente estimulam o consumo, mas que mostram a versatilidade das peças de roupa, que podem ser usadas de diversas maneiras e em diversas composições. Alguns blogs tratam da sustentabilidade, e isso é um fator positivo do boom dos blogs de moda.
Temos moda em diversos sentidos. A moda não se restringe exatamente à roupa, especialmente porque o corpo também é incluído nisso. A moda inclui também seu corpo, perfurações, tatuagens.
Os cursos de moda em universidades públicas são essenciais para o aumento da pesquisa científica na área, uma vez que eles estão voltados para a formação não somente de profissionais, mas também de pesquisadores. As pesquisas vão além da materialidade da roupa, relacionando-a à identidade, à subjetividade, ao corpo, à arte e a questões relativas ao consumo. No caso das ilustrações de moda, que é um dos temas que eu pesquiso, elas estão ligadas ao sentido amplo da moda, que inclui aspectos culturais e sociológicos, indo além do objeto representado. A ilustração de moda propõe uma interpretação à moda, é a representação de uma personalidade, de um estilo.