A sobrevivência de espermatozoides e óvulos ao congelamento é uma das dificuldades enfrentadas pelos bancos de preservação dessas células. No caso dos espermatozoides, o congelamento altera sua estrutura, vitimando parte deles. “Nos casos em que não teremos chance de uma coleta futura é importante termos a certeza de que o sêmen armazenado será suficiente em quantidade e qualidade para satisfazer demandas que surgirem”, explica a especialista em reprodução humana Sephora Augusta Cardoso Queiroz, que desenvolveu um método fácil e barato para apontar a qualidade de uma amostra de sêmen. No intuito de medir a concentração de glicose e proteínas no sêmen, dois possíveis preditores da recuperação de espermatozoides após o descongelamento, Sephora utilizou glicosímetros e fitas de urianálise. Por ter leitura simples e aproveitar materiais a que os profissionais já estão acostumados, Sephora acredita que este procedimento pode ser facilmente integrado à rotina de um laboratório. “É algo que acrescenta muito à prática e não demanda muito tempo – o resultado sai em cerca de um minuto”, diz. A pesquisadora recolheu e analisou amostras de 148 pacientes do Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da UFMG. Embora tenha observado que os níveis de glicose não se relacionam diretamente com a sobrevivência dos espermatozoides, Sephora identificou uma associação entre a concentração de proteínas e o número de espermatozoides vivos recuperados. “Essa diferença indica que podemos saber de antemão a possibilidade de uma amostra ser boa ou não para o congelamento”, afirma. “Dessa maneira poderemos pedir para o homem recolher mais amostras e aumentar as chances de sucesso em procedimentos futuros.” Outra pesquisa, também realizada no Laboratório de Reprodução Humana do HC, investigou características do óvulo em busca de uma relação com a sobrevivência da célula ao congelamento e ao sucesso na fecundação. “Por ser a maior célula humana, o óvulo apresenta grande dificuldade em se conservar após os processos de congelamento e descongelamento”, afirma a especialista em biologia reprodutiva Maria das Graças Rocha de Santana Camargos. A pesquisadora analisou 71 óvulos retirados de 28 pacientes. Antes e depois de congelar e descongelar os óvulos, ela avaliou características morfológicas (existência de granulosidades ao redor, por exemplo). Depois, mediu os óvulos e algumas de suas estruturas. Embora nem as medidas nem a morfologia tenham se relacionado diretamente com a resistência ao congelamento, certas características pareceram facilitar o processo. De 49 óvulos descongelados, 27 estavam preservados e puderam ser utilizados. Destes, 20 foram classificados como de morfologia ótima, contra sete de morfologia abaixo do ideal. A fertilização teve sucesso em 13 destes 27 óvulos, sendo que os fecundados tinham diâmetros menores do que os que falharam. Para Maria das Graças, os resultados apontam avanços no congelamento dos óvulos. Atualmente, o processo utilizado com mais sucesso é a vitrificação, em que o congelamento é realizado rapidamente, evitando maior deterioração do óvulo. “Com as tecnologias e os protocolos atuais de congelamento conseguimos aos poucos identificar caminhos que a pesquisa pode percorrer para melhorar ainda as chances de sucesso”, conclui. Dissertação: Relação entre marcadores bioquímicos no sêmen e a sobrevivência de espermatozoides ao congelamento/descongelamento Tese: Aspectos morfológicos e morfométricos de oócitos humanos pré e pós-vitrificação Orientador: Fernando Marcos dos Reis (Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina)
De Sephora Augusta Cardoso Queiroz
Defendida em julho de 2013
De Maria das Graças Rocha de Santana Camargos
Defendida em 29 de julho de 2013
Programa: Saúde da Mulher