Criar metodologia simples e que seja capaz de estimar a expectativa de vida saudável da população brasileira foi o desafio do pesquisador Marcos Roberto Gonzaga, que resultou na tese Uma proposta metodológica para estimar o padrão etário das transições de incapacidade e tendências na expectativa de vida ativa dos idosos: um estudo para o Brasil entre 1998 e 2008. O trabalho, defendido no Programa de Pós-graduação em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar), é um dos selecionados para o Prêmio Capes de Tese 2013. Segundo Marcos Gonzaga, a expectativa de vida saudável é o tempo médio que a população de um local espera viver com boas condições de saúde e, nos últimos anos, esse indicador tem aumentado no Brasil. “Sabemos que o tempo médio que a população espera viver a partir dos 60 anos de idade tem aumentado nas últimas décadas. Mas como esse tempo médio pode ser alcançado também com o idoso doente e hospitalizado, a variável considerada na minha pesquisa foca no envelhecimento com saúde, ou seja, o tempo a mais que a população espera viver de forma saudável e com plenas condições de realizar as atividades do dia a dia”, explica. O pesquisador afirma que já existem outras metodologias para estimar a expectativa de vida saudável, mas a maioria delas depende de dados extraídos de pesquisas longitudinais. Como estas últimas são mais caras e difíceis de serem realizadas, Gonzaga viu a necessidade de criar um método que pudesse ser colocado em prática com dados extraídos de pesquisas transversais. “Informações longitudinais são obtidas quando entrevistamos uma pessoa para colher as informações sobre sua vida e voltamos a entrevistá-la depois de um certo tempo. Com esse tipo de coleta de dados, você consegue determinar se houve alguma mudança no estado de saúde da pessoa. Ou seja, se ela tinha uma saúde boa e passou a ter uma saúde ruim ou vice-versa. Já no caso da informação transversal, a entrevista é realizada apenas em um determinado ano e, por isso, ela impede que o pesquisador acompanhe as mudanças no estado de saúde do entrevistado”, aponta. A metodologia desenvolvida pelo pesquisador propõe que as taxas de transição do estado de saúde dos entrevistados, por idade, sejam calculadas a partir do relacionamento das informações extraídas de uma ou mais pesquisas transversais. “Com dados colhidos pelo IBGE e considerando a incapacidade funcional como indicador do estado de saúde, eu tinha as proporções de pessoas ativas e incapacitadas funcionalmente. Observei que a proporção de pessoas ativas em uma determinada idade, por exemplo, aos 65 anos, dependia das proporções de pessoas ativas e incapacitadas na idade anterior (64 anos) e do diferencial de mortalidade por estado de saúde entre 64 e 65 anos”, explica. Comparando as proporções por idade e utilizando um padrão etário de transições de incapacidade, o pesquisador conseguiu estimar as taxas de transição que estão implícitas nas pesquisas transversais. Gonzaga destaca que o uso da metodologia proposta em sua pesquisa permitiu, ainda, que fosse determinada a taxa com que as pessoas ativas de tornam incapacitadas ou que pessoas incapacitadas se tornam ativas. “Em outras palavras, o método desenvolvido permite determinar o tempo médio durante o qual as pessoas vivem em determinado estado de saúde sem, entretanto, ter entrevistado o mesmo grupo de pessoas mais de uma vez, o que só pode ser feito com pesquisas longitudinais”, mostra. A tese foi elaborada com dados das Pesquisas Nacionais por Amostras Domiciliares (PNAD), realizadas pelo IBGE. Os dados foram extraídos das pesquisas de 1998, 2005 e 2008, anos em que foi aplicado o questionário de saúde da PNAD. Envelhecendo melhor “Constatamos que, para a população total, a proporção do tempo médio de vida livre de incapacidade é maior que aquela do tempo médio vivido com incapacidade. Ao mesmo tempo, chegamos à conclusão de que a parcela do tempo vivido sem incapacidade aumentou entre 1998 e 2008, o que mostra que o brasileiro está vivendo mais e melhor”, afirma. O pesquisador destaca que conhecer o modo como a população está envelhecendo, mesmo na ausência de dados longitudinais, é essencial para que o governo planeje os investimentos na área de saúde e previdência. “Como os dados longitudinais são difíceis de serem obtidos, é importante criarmos métodos de análise que possam ser aplicados sem esse tipo de dado. Mostramos que é possível produzir estimativas sobre tendências na expectativa de vida saudável do brasileiro, utilizando as informações coletadas em pesquisas transversais. Com essa nova proposta, oferecemos uma maneira mais fácil de conhecer como a população envelhece e, consequentemente, apontar onde os investimentos devem ser feitos. Porém, é importante destacar a importância de pesquisas longitudinais para a produção de estimativas mais adequadas”, conclui. (Luana Macieira) Tese: Uma proposta metodológica para estimar o padrão etário das transições de incapacidade e tendências na expectativa de vida ativa dos idosos: um estudo para o Brasil entre 1998 e 2008
Por meio dos dados utilizados e com a aplicação da metodologia proposta, Marcos Gonzaga chegou a algumas conclusões a respeito do envelhecimento dos brasileiros. Primeiramente, as estimativas obtidas com o novo método apontam que as mulheres brasileiras, considerando o aumento na expectativa de vida aos 60 anos, estão vivendo mais tempo com algum tipo de incapacidade, se comparadas aos homens. Além disso, os resultados apontam para um cenário otimista no contexto do envelhecimento populacional.
Autor: Marcos Roberto Gonzaga
Orientador: Roberto do Nascimento Rodrigues
Defendida no Programa de Pós-graduação em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar), em julho de 2012.
Disponível em http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/AMSA-94NFL9