Universidade Federal de Minas Gerais

Sarah Dutra/UFMG
lacan.jpg
Cleyton: sonoridade e escrita do mandarim são propícias para poesia

Tese investiga influência da escrita poética chinesa no ensino do psicanalista Jacques Lacan

sexta-feira, 1 de novembro de 2013, às 5h31

O modo de funcionamento da língua chinesa causa surpresa e estranhamento ao homem ocidental. Se o idioma se caracteriza por extrema concisão, a ausência de um sentido mais precisamente fixado sugere uma incômoda ambiguidade – especialmente para quem, no hemisfério esquerdo do mundo, está acostumado com relações mais diretas e estáveis entre significante e significado. Jacques Lacan foi um pensador que se interessou por tais aspectos do idioma chinês. O psicanalista francês viajou ao Oriente, onde se viu seduzido pelas particularidades do mandarim.

O interesse de Lacan pela língua chinesa motivou a tese A interpretação analítica e a escrita poética chinesa, de Cleyton Sidney de Andrade, defendida há alguns dias no Programa de Pós-graduação em Psicologia. Cleyton se valeu da potencialidade poética da escrita chinesa como um desvio a possibilitar novo entendimento para aquilo que diz Lacan em sua obra.

“No contexto do que chamo de ‘Primeiro Lacan chinês’ é possível vê-lo falar da interpretação e do ato analítico no manejo do mestre zen.” Já um ‘Segundo Lacan chinês’, diz o pesquisador, surge a partir do encontro de Lacan com François Cheng, do qual o psicanalista extraiu noções de importância visceral em seu ensino. “Tratava-se de outro momento de sua obra, em que se tornava cada vez mais lacaniano e menos freudiano.”

China é poesia
Para Cleyton, “o mandarim é uma língua que, por sua sonoridade e forma de ser escrita, é particularmente propícia para a poesia”. Justo por isso, diz, na China, a poesia faz parte da educação, dos jogos populares, do lazer, dos processos comunicativos, do dia a dia.

“Nesta cultura, a brincadeira poética com os sons e com a escrita não funciona como ação isolada, restrita à literatura. Tal como os chineses a entendem, a poesia talvez seja tão popular quanto o futebol é por aqui, para o brasileiro”, arrisca. “Ela é um modo frequente de o chinês habitar sua língua.”

Sob esse mote poético, alguns aspectos do idioma motivaram Lacan, que buscava entender como os processos da língua poderiam sugerir novos caminhos para suas reflexões na psicanálise freudiana. “Trata-se de uma língua em que se pode ouvir a musicalidade mesmo sem entender uma única palavra dita. O idioma chinês porta uma indecidibilidade estrutural que cria a necessidade de se recorrer à escrita, muitas vezes até para falar”, diz.

Uma anedota ilustra tal característica. “Levei uma música para que meu professor de mandarim transcrevesse. Foi motivo de decepção e desconfiança perceber que ele não podia fazê-lo. Ele nem entendia a letra que escutava”, conta. Mas não se tratava de uma limitação do professor. “Em chinês, uma canção só pode ser acompanhada se o ouvinte estiver com a letra em mãos ou a conhecer previamente. Do contrário, entenderá apenas uma ou outra palavra mais comum, e terá de ir deduzindo o que diz a música a partir delas.” A anedota exemplifica a força que os processos de interpretação têm no idioma.

Falas diversas, escrita única
A dificuldade ilustrada pela história é fruto de uma particularidade da comunicação na China: no país, os habitantes falam diferentes línguas, entre as quais não é necessária a tradução escrita. Isso porque, se são línguas diferentes na fala, a escrita entre elas é única.

“Na história da China, os mandarins [funcionários públicos] sempre precisaram de intérpretes para se comunicar verbalmente com os súditos de locais desprovidos de educação no sistema oficial. No entanto, não precisavam de tradução escrita, já que todo o material escrito era produzido na língua oficial”, relata o pesquisador.

É um contexto que gera outras situações inusitadas, como na televisão chinesa. Nela, diz Cleyton, todos os programas são legendados, inclusive os falados na língua nacional e ao vivo – algo impensável em contexto como o brasileiro. “O código escrito reflete uma histórica política de unificação”, pontua. Essa diferença entre a língua escrita e a falada, além da ambiguidade e da equivocidade do idioma, são os eixos que possibilitam a relação entre a escrita poética chinesa e a interpretação analítica.

(Ewerton Martins Ribeiro / Matéria publicada no Boletim UFMG, edição 1841)

Tese: A interpretação analítica e a escrita poética chinesa
Autor: Cleyton Sidney de Andrade
Orientador: Antônio Márcio Ribeiro Teixeira
Defendida em setembro de 2013, no Programa de Pós-graduação em Psicologia

05/set, 13h24 - Coral da OAP se apresenta no Conservatório, nesta quarta

05/set, 13h12 - Grupo de 'drag queens' evoca universo LGBT em show amanhã, na Praça de Serviços

05/set, 12h48 - 'Domingo no campus': décima edição em galeria de fotos

05/set, 9h24 - Faculdade de Medicina promove semana de prevenção ao suicídio

05/set, 9h18 - Pesquisador francês fará conferência sobre processos criativos na próxima semana

05/set, 9h01 - Encontro reunirá pesquisadores da memória e da história da UFMG

05/set, 8h17 - Sessões do CineCentro em setembro têm musical, comédia e ficção científica

05/set, 8h10 - Concerto 'Jovens e apaixonados' reúne obras de Mozart nesta noite, no Conservatório

04/set, 11h40 - Adriana Bogliolo toma posse como vice-diretora da Ciência da Informação

04/set, 8h45 - Nova edição do Boletim é dedicada aos 90 anos da UFMG

04/set, 8h34 - Pesquisador francês aborda diagnóstico de pressão intracraniana por meio de teste audiológico em palestra na Medicina

04/set, 8h30 - Acesso à justiça e direito infantojuvenil reúnem especialistas na UFMG neste mês

04/set, 7h18 - No mês de seu aniversário, Rádio UFMG Educativa tem programação especial

04/set, 7h11 - UFMG seleciona candidatos para cursos semipresenciais em gestão pública

04/set, 7h04 - Ensino e inclusão de pessoas com deficiência no meio educacional serão discutidos em congresso

Classificar por categorias (30 textos mais recentes de cada):
Artigos
Calouradas
Conferência das Humanidades
Destaques
Domingo no Campus
Eleições Reitoria
Encontro da AULP
Entrevistas
Eschwege 50 anos
Estudante
Eventos
Festival de Inverno
Festival de Verão
Gripe Suína
Jornada Africana
Libras
Matrícula
Mostra das Profissões
Mostra das Profissões 2009
Mostra das Profissões e UFMG Jovem
Mostra Virtual das Profissões
Notas à Comunidade
Notícias
O dia no Campus
Participa UFMG
Pesquisa
Pesquisa e Inovação
Residência Artística Internacional
Reuni
Reunião da SBPC
Semana de Saúde Mental
Semana do Conhecimento
Semana do Servidor
Seminário de Diamantina
Sisu
Sisu e Vestibular
Sisu e Vestibular 2016
UFMG 85 Anos
UFMG 90 anos
UFMG, meu lugar
Vestibular
Volta às aulas

Arquivos mensais:
outubro de 2017 (1)
setembro de 2017 (33)
agosto de 2017 (206)
julho de 2017 (127)
junho de 2017 (171)
maio de 2017 (192)
abril de 2017 (133)
março de 2017 (205)
fevereiro de 2017 (142)
janeiro de 2017 (109)
dezembro de 2016 (108)
novembro de 2016 (141)
outubro de 2016 (229)
setembro de 2016 (219)
agosto de 2016 (188)
julho de 2016 (176)
junho de 2016 (213)
maio de 2016 (208)
abril de 2016 (177)
março de 2016 (236)
fevereiro de 2016 (138)
janeiro de 2016 (131)
dezembro de 2015 (148)
novembro de 2015 (214)
outubro de 2015 (256)
setembro de 2015 (195)
agosto de 2015 (209)
julho de 2015 (184)
junho de 2015 (225)
maio de 2015 (248)
abril de 2015 (215)
março de 2015 (224)
fevereiro de 2015 (170)

Expediente