Dos 46 trabalhos de doutorado indicados pelos programas de pós-graduação, três se destacaram e conquistaram o Grande Prêmio UFMG de Teses 2013. A investigação de Marília de Oliveira Scliar, que constatou semelhanças genéticas entre dois grupos indígenas que habitam os Andes e a região amazônica do Peru, foi a vencedora na grande área de ciências agrárias, biológicas e da saúde. Foca Lisboa/UFMG Depois da coleta do material genético dos representantes das duas etnias, o DNA dos indivíduos foi ressequenciado em laboratório. Segundo a pesquisadora, a última etapa da pesquisa foi a realização da inferência de parâmetros demográficos dos dois povos, o que permitiu a conclusão de que os Shimaas são uma subamostra da diversidade genética dos Quéchuas e que as duas populações se separaram há menos de cinco mil anos. “Eles se separaram há pouco tempo, se levarmos em consideração o início do povoamento da América, que ocorreu há aproximadamente 15 mil anos, e o desenvolvimento cultural dos grupos que nessa época já habitavam os Andes e a Amazônia. Essa descoberta nos permite concluir que populações tão diferenciadas culturalmente podem ter uma relação genética estreita, como no caso entre Quéchuas e Shimaas”, aponta Marília Scliar. Ela destaca, ainda, que o estudo pode ajudar a esclarecer como se deu o povoamento da América do Sul. “Os pesquisadores ainda não sabem se os primeiros povos entraram no continente sul-americano apenas pela costa do Pacífico e só depois se espalharam ou se esse ocupação se deu em várias frentes. Estudos que analisam a origem de povos e as semelhanças genéticas entre eles podem ajudar nesse tipo de esclarecimento”, diz. A pesquisadora esclarece que o estudo continua em andamento, uma vez que foram comparados apenas dois grupos indígenas, habitantes de regiões muito específicas da América Latina. “Para entendermos melhor a relação entre as populações andinas e amazônicas, precisamos comparar mais fragmentos de DNA e realizar posteriormente novas inferências demográficas. O próximo passo da pesquisa é usar outra população que habita a mesma área dos Shimaas para avaliar se o perfil genético que encontramos coincide com o padrão da região". Shimaas e Quéchuas Além disso, os Shimaas, diferentemente dos Quéchuas, habitam uma região de transição chamada “selva alta”. Localizada no Peru, a área apresenta características tanto dos Andes como da planície amazônica. “Os dois povos falam línguas diferentes, habitam regiões diferentes, têm costumes diferentes e, mesmo assim, descobrimos que os Quéchuas deram origem aos Shimaas. É muito importante entendermos como, há apenas cinco mil anos, um povo pode ter se originado de outro que possui cultura tão distinta”, conclui a pesquisadora. (Luana Macieira) Tese: Genética de populações e inferências estatísticas sobre a história demográfica de populações nativas sul-americanas
Para a realização do trabalho, uma parceria com a Universidade Peruana Cayetano Heredia permitiu a coleta de material genético de indivíduos integrantes dos grupos investigados. “Nossos colegas peruanos coletaram material genético de indivíduos dos grupos Shimaas e Quéchuas. Nosso objetivo era entender a relação entre esses dois povos, uma vez que isso poderia trazer esclarecimentos sobre a relação mais geral entre populações indígenas andinas e amazônicas, além de trazer esclarecimentos sobre o povoamento da América”, explica a pesquisadora.
Apesar da comprovação de que os dois povos se separaram recentemente, seus hábitos são muito diferentes. Enquanto os Quéchuas vivem basicamente da agricultura e são típicos representantes dos habitantes dos Andes, os Shimaas se enquadram como representantes da cultura amazônica, não só por sua língua (da família Arauaque), mas por compartilharem modo de vida mais parecido com o dos povos amazônicos que com o dos andinos.
Autora: Marília de Oliveira Scliar
Orientador: Eduardo Martim Tarazona Santos
Defendida em fevereiro de 2012, no Programa de Pós-graduação em Genética, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB)