A obesidade não é fator preponderante para que as pessoas vivam menos. Essa é uma das constatações de estudo feito com 1.606 idosos de Bambuí, no Centro Oeste de Minas Gerais. Durante 10 anos – entre 1997 e 2007 –, eles tiveram o seu peso monitorado por pesquisadores da Faculdade de Medicina e do Instituto René Rachou. O trabalho deu origem à tese de doutorado defendida por Alline Maria Beleigoli no Programa de Pós-graduação de Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto da Faculdade de Medicina da UFMG, uma das vencedoras do Prêmio Capes de Tese 2013. O objetivo central foi observar se o excesso de peso e o tamanho da circunferência abdominal influenciavam na mortalidade de idosos. Desde 1997, os idosos de Bambuí são acompanhados anualmente por meio de entrevistas e exames pela professora da Faculdade de Medicina, Maria Fernanda Lima Costa, em parceria com o Instituto René Rachou. “Usei os indivíduos dessa pesquisa para entender a influência do sobrepeso e da obesidade na mortalidade dos idosos em um período de 10 anos (de 1997 a 2007)”, explica Alline Beleigoli. No caso das medidas antropométricas, foram considerados os padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS). Para calcular se um idoso apresentava sobrepeso, obesidade, peso normal ou desnutrição, a pesquisadora calculou o Índice de Massa Corporal (IMC) e o tamanho da circunferência abdominal dos indivíduos. No início do estudo, 514 idosos apresentavam sobrepeso e 189 eram obesos. A hipótese era de que idosos com sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9) ou que apresentassem obesidade (IMC maior ou igual a 30) estariam mais propensos a morrer. Mas os dados obtidos na pesquisa não corroboraram com essa suposição. Segundo a pesquisadora, as constatações do estudo reforçam a tese do chamado “paradoxo da obesidade”, fenômeno já conhecido por pesquisadores da área de saúde. “Usando os dados dos idosos da pesquisa de Bambuí, percebemos que aqueles que tinham sobrepeso ou eram obesos classe 1 viveram mais que os idosos que apresentavam peso normal. Damos a isso o nome ‘paradoxo da obesidade’, que é quando chegamos à conclusão de que uma pessoa acima do peso pode ser saudável”, aponta. Gordura como reserva metabólica Uma segunda explicação abrange o modo como as medições de IMC são realizadas, pois, segundo Beleigoli, o cálculo leva em conta massa magra e massa gorda. Assim, uma pessoa com IMC elevado pode não ser obesa. Já a terceira justificativa para os resultados da pesquisa baseia-se na suposição de que os idosos que começaram a ser acompanhados em 1997 podem ter falecido nos anos posteriores devido a problemas relacionados ao sobrepeso, à obesidade e à grande circunferência abdominal - 521 morreram ao longo da pesquisa. “O acompanhamento dos idosos da nossa pesquisa começou em 1997 e nessa época todas as pessoas envolvidas já tinham mais de 60 anos. O que pode ter acontecido é que as pessoas em que a obesidade era realmente um problema de saúde faleceram antes do fim da pesquisa, o que fez com elas não fossem acompanhadas pelo nosso estudo. Isso nos leva a crer que sobrepeso e obesidade não são ruins para todo mundo”, aponta. Análise de peptídeos “Quando a pessoa tem pressão alta ou doença cardíaca, por exemplo, o natriurético tipo B se eleva no sangue. Como a obesidade é um estágio em que o indivíduo apresenta sobrecarga por possuir uma massa maior, queríamos descobrir se pessoas com maior IMC e maior circunferência abdominal apresentariam aumento das taxas desse peptídeo no sangue”, diz a pesquisadora. A análise dos dados, mais uma vez, levou a pesquisa ao “paradoxo da obesidade”, uma vez que foi constatado que as pessoas de peso considerado normal apresentavam nível desse peptídeo superior ao registrado em pessoas obesas e com IMC e circunferência abdominal altos. “Além eliminar sódio, esse peptídeo reduz a quantidade de tecido adiposo, o que nos levou a refletir: se os obesos têm menos peptídeo, será que eles não estão obesos justamente por causa disso? Será que o peptídeo baixo não é uma das causas desses idosos serem obesos? A continuação da pesquisa poderá esclarecer esse assunto”, diz Beleigoli. Segundo a pesquisadora, as análises estatísticas da tese premiada pelo Capes são importantes para os profissionais da área de saúde que, segundo ela, têm o costume de indicar pesos ideais para os seus pacientes. “O profissional de saúde às vezes fala para o paciente idoso que ele precisa ter o peso ‘x’. E essa pesquisa indica que não é bem assim, pois idosos que faziam atividade física e não fumavam viviam muito mais, independentemente do peso. No caso do idoso, é mais importante promover os hábitos de vida saudáveis e não apenas controlar o peso. Existem pessoas com sobrepeso e obesidade de classe 1 que são saudáveis”, conclui. (Luana Macieira) Tese:Relações entre medidas antropométricas, peptídeo natriurético tipo B e mortalidade em dez anos de idosos do estudo de Bambuí sobre saúde e envelhecimento
Em sua pesquisa, Alline Beleigoli aponta justificativas para os resultados encontrados. A primeira delas é a importância que a gordura corporal pode ter no corpo do idoso, servindo como reserva metabólica que ajuda em sua recuperação caso ele tenha alguma doença.
A segunda etapa da pesquisa baseou-se na análise da relação entre a mortalidade e a presença do peptídeo natriurético tipo B no organismo dos idosos. Esse peptídeo, produzido pelo coração quando o organismo apresenta algum tipo de sobrecarga, aumenta a quantidade de urina gerada pelo organismo e, consequentemente, a eliminação de sódio do corpo.
Autora: Alline Maria Rezende Beleigoli
Orientador: Antônio Luiz Pinho Ribeiro
Defendida em agosto de 2012 no Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto da Faculdade de Medicina da UFMG